Archie Shepp e outros históricos do jazz em Guimarães

Saxofonista norte-americano toca na próxima semana no Guimarães Jazz, que hoje começa com outro concerto marcante: o regresso dos Oregon de Ralph Towner e Paul McCandless.

Foto
Archie Shepp toca em Guimarães no dia 13 de Novembro Roberto Cifarelli

Aos 78 anos, Archie Shepp já ganhou o estatuto de lenda. Figura central dos movimentos do hard bop ou do free jazz, colaborador de John Coltrane ou Cecil Taylor, o saxofonista norte-americano é um nome incontornável na cena jazzística, e a sua estreia no Guimarães Jazz, que começa esta quinta-feira, é o grande destaque da 24ª edição do principal festival de jazz nacional.

Depois da intensidade com que se multiplicou em projectos pessoais e colaborações durante as décadas de 1960 e 70, a produção de Shepp abrandou, especialmente desde o início da década de 1990. Há críticos que afirmam que os seus melhores anos já passaram. “Isso é um atrevimento”, comenta o programador do Guimarães Jazz, Ivo Martins. “Depois do que o Archie Shepp deu ao jazz, tem o direito de fazer tudo o que quiser”.

Não foi a primeira vez que Ivo Martins tentou incluir Shepp no cartaz do festival, mas só agora conseguiu reunir as condições certas. “Às vezes é preciso esperar por estas coisas”, conta. Já assim tem acontecido noutros anos. À coerência e valia das propostas, o festival tem sido capaz de acrescentar sempre uma camada histórica às suas escolhas. Archie Shepp não será a primeira “lenda viva” do jazz a passar pelos palcos vimaranenses, mas, acima de tudo, é isso que ele representa nesta edição. “Simboliza e condensa a história do jazz”, sublinha o programador.

É a partir de uma figura como esta que o festival ganha o seu “epicentro”, a partir do qual pode ir acrescentando outras propostas que se diferenciam pela idade dos seus intervenientes ou pelas técnicas, explica Ivo Martins. Shepp – que no seu concerto em Guimarães será acompanhado por Carl Henry Morisset (piano), Darryl Hall (contrabaixo) e Steve McCraven (bateria) – toca no dia 13 de Novembro, no penúltimo dia do programa, às 22h.

Além do saxofonista norte-americano, a outra estreia no Guimarães Jazz deste ano é a do Cholet Känzig Papaux Trio, projecto liderado pelo pianista francês Jean-Christophe Cholet a partir de uma residência artística no Teatro de Auxerre, em 2002. Cholet junta-se ao contrabaixista Heiri Kanmzig e ao baterista Marcel Papaux, numa formação que é a única representante europeia no cartaz desta edição (no sábado, dia 7, às 18h).

No entanto, o essencial da programação do Guimarães Jazz 2015 é feita de regressos de velhos conhecidos. Ivo Martins recusa, porém, a ideia de que se trate de uma repetição: “Ninguém faz a mesma coisa duas vezes, e muito menos um músico de jazz”. Ainda que o princípio do festival seja o de repetir o menos possível propostas, o director artístico defende que havia “pertinência e oportunidade artística” em alguns destes regressos a que a organização não podia ser “insensível”.

O primeiro destes casos são os Oregon, a banda de Ralph Towner (guitarra e piano) e Paul McCandless (oboé e saxofone), que regressa a Guimarães vinte anos depois da primeira passagem. Da formação original, saíram o percussionista Collin Walcott (já falecido) e o contabaixista Glen Moore (que deixou de fazer digressões) – que agora são substituídos por Mark Walker e Paolino Dalla Porta, respectivamente –, e têm sido poucas as digressões deste projecto, que está activo desde 1970. “Não sei se estarão juntos muito mais tempo”, alerta Ivo Martins, justificando assim a “oportunidade” de programar novamente a banda que, em 2012, lançou o álbum Family Tree.

Outro regresso marcante ao festival é o de Maria Schenider, que vai encerrar o programa no dia 14 de Novembro (22h). A compositora, multipremiada com vários Grammy, já tinha tocado no Guimarães Jazz por duas vezes (2005 e 2011), mas desta feita surge acompanhada pela sua orquestra, com quem raramente tem feito digressões. O mote para este concerto é o novo álbum da norte-americana, Thompson Fields, o seu primeiro registo desde 2007.

De regresso a Guimarães está também Joshua Redman, que na edição do ano passado foi solista da Trondheim Orchestra. Desta feita, surgirá à frente da sua banda, Jason Farm (12 de Novembro, 22h). Na véspera, o cornetista Taylor Ho Bynum apresenta-se em formação de quinteto. Outro repetente é o pianista Jason Moran (cujo concerto acontece no próximo sábado). A sua proposta para esta edição do festival é a revisitação do reportório do mítico Fats Waller e da música dos anos 1920.

Todos os concertos do festival decorrem no Centro Cultural Vila Flor, com excepção da apresentação do Projeto Guimarães Jazz/Porta Jazz (domingo, dia 8, 22h), com o saxofonista José Pedro Coelho e o guitarrista Eurico Costa, marcado para a Plataforma das Artes e da Criatividade. Este concerto integra um conjunto de actividades paralelas aos principais espectáculos de festival, entre as quais jam sessions, oficinas de jazz, que decorrem durante toda esta semana, e as actuações da Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE, com direcção musical de Taylor Ho Bynum e Tomeka Reid (também no domingo, 8, às 17h, no Vila Flor).

Sugerir correcção
Comentar