Companhia russa atribui queda de avião no Sinai a "acção externa"

Caixas negras do avião que se despenhou no Sinai ainda estão a ser analisadas. Peritos em aviação não descartam "falha catastrófica" ou hipótese de explosão a bordo.

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Kirill Kudryavtsev/AFP

O exame às caixas negras do avião da Metrojet que se despenhou sábado na Península do Sinai com 224 pessoas a bordo ainda não terminou e, no compasso de espera, discute-se com ansiedade a hipótese de na origem do desastre estar um acto terrorista. A companhia aérea russa alimentou um pouco mais o receio ao rejeitar tanto a possibilidade de erro humano como de falha técnica, admitindo que só uma “acção externa” poderia explicar a queda.

As atenções estão centradas na informação, confirmada no domingo pelo chefe da equipa de investigadores aeronáuticos enviada pela Rússia, de que o avião, que partira de Sharm el-Sheik com destino a São Petersburgo, se desintegrou no ar. “Os destroços estão espalhados por uma superfície de quase 20 quilómetros quadrados”, explicou Viktor Sorochenko. Sabe-se também que, um minuto antes de desaparecer dos radares, o avião estava a perder velocidade e a cair a pique, e que a tripulação não emitiu qualquer pedido de socorro.

Tal sequência aponta para uma falha catastrófica a bordo num momento em que o avião, depois da descolagem, viajava já quase em velocidade de cruzeiro e altitude máxima. Mas a Metrojet assegura que o Airbus A321-200 “estava em excelente estado” – os motores tinham sido inspeccionados em Moscovo há uma semana, o combustível usado cumpria os requisitos legais e a Irlanda, país onde estava registado o aparelho, com 18 anos, renovou-lhe  o certificado de navegabilidade no início do ano.

“Excluímos qualquer falha técnica ou erro da parte da tripulação”, garantiu Alexander Smirnov, director adjunto da Metrojet, numa declaração que foi considerada prematura pela agência federal de transportes russa. “O avião estava descontrolado, não voava, caía, e a passagem de uma situação de voo para uma situação de queda só se pode explicar com um dano grave na estrutura do avião”, acrescentou Smirnov, citado pela AFP, afirmando que “só uma acção física ou técnica” poderia ter levado a aparelho a partir-se. A companhia confirmou um incidente, em 2001, durante o qual o avião embateu com a cauda na pista do aeroporto do Cairo, mas diz que os danos foram reparados e o aparelho passou em todas as inspecções seguintes.

Horas depois do desastre, o grupo Ansar Beit al-Maqdis anunciou ter abatido o avião em retaliação pelos bombardeamentos russos contra o Estado Islâmico, organização jihadista à qual se associou há um ano. A reivindicação foi desvalorizada pelos governos russo e egípcio, e os peritos militares concordam que os jihadistas do Sinai têm rockets antiaéreos mas não é credível que tenham mísseis capazes de atingir um avião a mais de 9000 metros de altitude. Um membro do comité que está a analisar as caixas negras do avião assegurou à Reuters que nos registos não há qualquer indício de que o avião tenha sido atingido por um míssil. Ainda assim várias companhias aéreas decidiram, “por precaução”, não sobrevoar o Sinai até que estejam esclarecidas as causas do acidente.

Mas se esta hipótese perde força, não foi descartada a possibilidade de uma bomba ou um suicida se ter feito explodir a bordo. Na reivindicação, os jihadistas disseram apenas ter abatido um avião, não especificando o método usado. Uma tal acção supera em sofisticação os atentados reivindicados até agora pelo grupo no Egipto e só teria sido possível iludindo a forte segurança do aeroporto de Sharm el-Sheik. Os serviços secretos norte-americanos disseram “não existir qualquer sinal” que indicie um ataque terrorista, mas especialistas na investigação de acidentes aéreos afirmam que a separação da fuselagem no ar ou algumas marcas visíveis nos destroços dão crédito à tese de explosão a bordo.

Na Rússia, onde começaram a chegar os corpos das 224 vítimas a fim de serem identificados, o Presidente Vladimir Putin quebrou nesta segunda-feira o silêncio para pedir rapidez aos investigadores. “Tudo deve ser feito para que seja criada uma imagem objectiva do que aconteceu”, afirmou.

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