ITG continua a inspeccionar instalações contra recomendação da Concorrência

Autoridade da Concorrência recomendou em 2005 que o Instituto Tecnológico do Gás deixasse de fazer inspecções às instalações de gás.

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REUTERS/Regis Duvignau

O Instituto Tecnológico do Gás (ITG), entidade que integra as concessionárias de gás natural, continua a fazer inspecções às instalações de gás, mesmo depois de há dez anos a Autoridade da Concorrência ter pedido ao Governo que travasse esta prática.

Em Junho de 2005, a Autoridade da Concorrência recomendou ao Governo que anulasse o processo de certificação e reconhecimento do ITG como entidade inspectora de gás por ser susceptível de criar distorções da concorrência e violar os princípios de independência e imparcialidade das entidades inspectoras.

Mas passados dez anos, o ITG continua a figurar como entidade inspectora na página da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), entidade sob a tutela do Ministério da Economia, que reconhece as entidades inspectoras do gás em Portugal, que nunca respondeu às questões da agência Lusa sobre a manutenção desta situação.

A recomendação 1/2005 da AdC não deixava margens para dúvidas: o facto de o ITG ter como associadas as empresas concessionadas para a distribuição de gás natural no país pode originar distorções de concorrência, realçando que a lei estipula que uma entidade distribuidora não pode actuar, nem directa nem indirectamente, como entidade inspectora.

“Quando o Estado atribuiu à esfera privada a responsabilidade destas inspecções procurou acautelar a independência e imparcialidade das entidades inspectoras, proibindo a participação das empresas alvo das inspecções nas entidades inspectoras”, justificava então o organismo, que na altura estava sob a direcção de Abel Mateus.

Ora, o ITG foi o primeiro organismo de Inspecção reconhecido pela Direcção-Geral da Energia e Geologia, em agosto de 2001.

Nesse mesmo documento, a Concorrência alerta para o facto de o ITG ser uma associação com o estatuto de utilidade pública, sem fins lucrativos, o que “é susceptível de criar no utente a ideia de dispor de maior credibilidade e capacidade técnica em relação à concorrência”, além beneficiar de isenções fiscais em relação aos outros operadores no mercado das inspecções de gás.

Confrontada com a manutenção da certificação e reconhecimento do ITG como entidade inspectora, a Autoridade da Concorrência reconheceu ter como atribuição acompanhar o cumprimento das recomendações por si formuladas, remetendo informações sobre esse acompanhamento para a sua página.

Sem data da última actualização efectuada, o quadro de acompanhamento da recomendação nº. 1/2005 revela que nenhuma das medidas propostas estavam em execução.

A introdução do gás natural no país obedeceu a uma extensa regulamentação, nomeadamente quanto à obrigatoriedade da função de inspecção como garante da segurança de pessoas e bens.

O Instituto Tecnológico do Gás nasceu como uma entidade de cariz técnico e científico, estando dotados de laboratórios para os seus associados poderem realizar análises e ensaios envolvendo a utilização de gás.

Com actividade neste domínio desde 1976, foi o primeiro organismo de inspecção acreditado em Portugal, em 2001, realizando inspecções a todo o tipo de instalações, redes e ramais de gás como por exemplo a habitações isoladas, administrações de condomínio, restauração, indústria, turismo, instituições de saúde, serviços educativos e outros serviços públicos ou privados.

Questionada sobre a manutenção da actividade inspectora, à revelia da recomendação da Concorrência, que alertava para o conflito de interesses, fonte oficial do ITG disse à Lusa não compreender as questões levantadas.

“A estrutura e actividades do ITG são absolutamente transparentes pelo que não compreendemos que dúvidas possam suscitar”, afirmou Rita d’Araújo, administradora delegada do organismo.

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