A Marques Soares resistiu à crise da baixa e a muitas crises do comércio

Histórica empresa familiar do Porto completa 55 anos. Lisboa continua fora dos seus planos de expansão.

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Diogo Baptista
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A loja no início

São 55 anos de história e de presença na baixa do Porto, 55 anos de sucesso, muito espírito de resistência e de crescimento. A Marques Soares abriu a 5 de Novembro de 1960, pelas mãos de António Marques Pinho e Manuel Soares Antunes, para se tornar, ao longo de décadas, numa empresa incontornável do comércio tradicional da cidade. Com portas abertas noutros pontos do país.

Os sócios fundadores já trabalhavam juntos, nos Armazéns do Norte, dos quais detinham uma quota minoritária, quando decidiram abrir o seu próprio negócio – uma loja de tecidos, que se comprometia a dar qualidade ao vestuário de quem os visitasse. Hoje, a Marques Soares cresceu, não só na loja onde começou, como por outras ruas do Porto, e outros pontos do país, como Braga, Aveiro ou Beja.

Paulo Antunes, neto de um dos fundadores, explica o crescimento gradual da marca pela necessidade de “corresponder às expectativas dos clientes”. Os “fiéis à casa começaram a solicitar outros produtos”, prossegue, motivo pelo qual a Marques Soares estendeu a sua oferta, inicialmente centrada nos tecidos para confecção de roupa. Há muito que vendem pronto-a-vestir de várias marcas e, entretanto, passaram a vender também electrodomésticos. Tudo isto num processo gradual que foi ocupando a Rua das Carmelitas e que, agora, até inclui um restaurante.

Este novo impulso destaca-se também na revitalização que a Baixa portuense tem sofrido nos últimos anos, com impacto visível na zona dos Clérigos, onde a Marques Soares se instalou em 1960. A empresa aproveitou um período de crise, em que a maior parte dos lojistas fechou os comércios da Rua das Carmelitas, para expandir: “Houve uma fase de saída dos nossos colegas, foram deixando as lojas, e nós fomos tomando conta, até para não deixar a rua cair”, refere Paulo Antunes.

A viragem que acontece actualmente, com a revitalização da Baixa, novas lojas e novos conceitos, é vista com agrado pela Marques Soares. Paulo Antunes recorda o período mais conturbado que viveram em fase de desertificação da zona: “Estávamos a ficar um bocado isolados”, nota. Até por isso, o administrador aplaude o novo investimento que se faz na zona: “É uma mais-valia. O comércio não pode viver sozinho, e o facto de aparecerem colegas comerciantes com boas marcas dá vida ao espaço."

Paulo Antunes caracteriza o cliente típico da Marques Soares como sendo da “classe média alta, com habilitações literárias, qualificada. Maioritariamente composta por funcionários públicos”. No entanto, há cada vez mais turistas a entrar na loja, resultado do crescimento que a cidade tem testemunhado no sector, e que tem na Livraria Lello, ali ao lado, um expoente que atrai milhares de visitantes todos os dias. “Não é o nosso negócio, mas já começa a ter algum peso em algumas secções”, acrescenta, lembrando que “há uma dúzia de anos” este tipo de clientela não existia.  

Mais de meio século depois da fundação, a empresa espalhou-se por várias cidades, mas não tem uma loja em Lisboa. Isso ”implicaria uma mudança de alguns de nós para a capital. Gerimos isto de uma forma familiar, como se fosse a nossa casa, portanto, fica uma ideia já para os herdeiros”. Também as rendas elevadas e a responsabilidade que traria são factores a ter em conta: “Lisboa é uma cidade com muita oferta, não poderíamos abrir uma loja que não acrescentasse nada à cidade. E as rendas são muito elevadas para a nossa margem de negócio”, argumenta o administrador.

A dimensão da empresa já extrapolou, portanto, a do típico comércio tradicional, apesar de garantirem que a forma de atendimento ao cliente se mantém. Serafim Ferreira, funcionário na marca há 48 anos, afirma: “O segredo aqui é o carinho que se tem pelos clientes, a forma como os atendemos”, justificação que também Albino Martins, funcionário há 47 anos, defende: “Os clientes é que fazem a casa, são eles o motivo pelo qual as casas sobrevivem”. 

E numa casa com tanto tempo, as histórias saudosistas também tem lugar. Serafim Ferreira recorda as partidas que se pregavam na altura em que entrou para a empresa, com 12 anos: “os mais antigos mandavam-nos ir buscar os afiadores de agulhas, ou a lista de pastéis, que não eram reais”, refere, demonstrando o ambiente familiar que se vivia. Também Albino Martins recorda os primórdios da sua passagem pela Marques Soares: “Mandavam-me fazer recados e perguntavam-me se sabia onde ficavam os sítios. Dizia sempre que sim, eles ficavam admirados. O que fazia era ir ao polícia sinaleiro perguntar”.

O segredo para o sucesso da casa é, para Abílio Martins, “o trabalho e a dedicação, a paixão”. Tal opinião é partilhada por Serafim: “o carinho que há pelos clientes, o atendimento, são estes os ingredientes do sucesso”. Com tantos anos de casa, acompanhando o crescimento da empresa, vêem um futuro “risonho”, como define Abílio. Paulo Antunes remata: “Queremos continuar a ser uma empresa actualizada, que crie as melhores soluções para os nossos clientes, ao mesmo tempo que garantimos o nosso posicionamento”.

Texto editado por Ana Fernandes

 

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