Ancara realiza operação contra o Estado Islâmico em território turco

Foi desmantelada uma célula em Diyarbakir, cidade de maioria curda. A uma semana das legislativas, vive-se clima de suspeição no país.

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Elementos da brigada anti-terrorismo da polícia junto a uma casa suspeita Sertac Kayar /Reuters

O Governo turco anunciou o desmantelamento de uma célula do autodenominado Estado Islâmico (EI) na cidade de Diyarbakir, tendo na operação morrido dois polícias da brigada anti-terrorismo e sete jihadistas. Foi o primeiro confronto das autoridades com terroristas em solo turco desde que o país se juntou, em Julho, à coligação que combate o EI na Síria.

Segundo as informações oficias, dadas pela agência noticiosa Anatolia, a polícia tomou de assalto vários esconderijos do EI ao início da manhã desta segunda-feira. Houve troca de tiros nas ruas e os polícias morreram devido ao rebentamento de uma bomba. Outros cinco elementos da brigada anti-terrorismo ficaram feridos e 12 terroristas foram presos.

"Tendo em vista os resultados, podemos dizer que uma importante célula do Daesh [o acrónimo árabe do EI] foi neutralizada", disse o vice-primeiro-ministro Numan Kurtulmus, considerando que a operação foi um sucesso.

Foi o Estado Islâmico que o Governo responsabilizou pelo atentado de há duas semanas no centro de Ancara, que matou cem pessoas. Porém, a operação desta segunda-feira tem um pano de fundo mais alargado — dentro de uma semana repetem-se as legislativas na Turquia e, depois do atentado, com o argumento de combater o terrorismo, o Governo reacendeu a luta contra as forças curdas. O partido no poder, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKH, do Presidente Recep Erdogan e do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu), ambiciona recuperar a maioria que perdeu em Junho. O AKH não conseguiu formar uma coligação governativa e viu conseguir a sua primeira representação parlamentar o Partido Democrático do Povo HDP), pró-curdo — muito bem implantado em Diyarbakir, uma grande metrópole do sudeste habitada por uma maioria curda.

A operação contra o EI surge, assim, num ambiente de grande suspeição política, com Governo e oposição a acusarem-se mutuamente de acções visando a manipulação eleitoral.

O duplo atentado de Ancara teve lugar antes do arranque de uma manifestação convocada por sindicatos e forças de esquerda e pró-curdas, em protesto pelo conflito do exército e da guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Na altura, o primeiro-ministro disse que se tinha tratado de uma "tentativa de influenciar os resultados" das eleições. A seguir, pediu à oposição prudência e o cancelamento da campanha eleitoral para "evitar provocações".

Ainda que posteriormente tenha determinado que a responsabilidade pelas mortes na capital pertencia ao Estado Islâmico, o Governo fez saber que iria fazer guerra a todos os tipos de terrorismo, ou seja ao EI, aos rebeldes do PKK — que apó soutro atentado, e Suruç, contra jovens curdos que iam em missão humanitária para a Síria retomaram os ataquea à polícia turca), às milícias curdas da Síria e aos serviços de espionagem de Damasco. O atentado de Ancara, sentenciou Erdogan na semana passada, foi um "acto terrorista colectivo". Nas legislativas do Verão o Presidente perdeu também a possibilidade de alterar a Constituição de forma a tornar a Turquia um país de regime presidencialista.

A oposição acusa Erdogan de estar a jogar em duas frentes, realizando raídes contra os jihadistas para justificar os ataques aos curdos quando, na verdade, "protege" o Estado Islâmico inimigo dos curdos. "Meus amigos, olhem bem para mim, olhem-me no solhos, escutem os meus discursos. Tenho mesmo cara de quem apoia o EI?", perguntou esta segunda-feira o primeiro-ministro turco num encontro com estudantes em Istambul.

 

 

 

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