O nacionalista Kaczynski vai recuperar o poder na Polónia

Nos últimos meses, o partido populista de direita suavizou o discurso, mas a sua linha programática permanece igual: é anti-Europa, xenófobo e pelos valores católicos.

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Pode não ter a maioria absoluta, mas Kaczynski vai obter uma grande vitória Kacper Pempel/Reuters

As eleições legislativas de domingo na Polónia devem acrescentar mais um país à mancha nacionalista que se alastra no centro e Norte da Europa, com o regresso ao poder do partido populista de direita Justiça e Liberdade (PiS) e, com ele, de Jaroslaw Kaczynski, um dos mais controversos políticos polacos.

Kaczynski, que já foi primeiro-ministro (2006/07), não é desta vez o candidato a chefiar o governo. Esse papel caberá à líder do partido, Beata Szydlo, escolhida porque o “líder” sabe que é uma figura controversa que pode alienar eleitorado, explica o jornal Financial Times.

Mas os analistas dizem que será ele o grande vencedor — e o detentor do poder real —, uma vez que regressará depois de duas grandes derrotas e quando muitos consideravam que a era da dupla Kaczynski chegara ao fim, após a morte de um dos gémeos, Lech, quando era Presidente a República, num acidente de avião na Rússia, e das duas derrotas eleitorais de Jaroslaw em dez anos. Perdeu umas legislativas para Donald Tusk, e umas presidenciais, se bem que em Maio um dos seus, Andrzej Duda, chegou à chefia do Estado.

O Justiça e Liberdade, dizem as sondagens, está dez pontos à frente da Plataforma Cívica da actual primeira-ministra, Ewa Kopacz — também de direita —, e fragilizado por vários escândalos de corrupção e pela estagnação do nível de vida. E se nos últimos meses Kaczynski baixou o tom da retórica nacionalista, não se esperam mudanças radicais na sua linha programática: é um partido anti-Europa e xenófobo, que quando esteve no poder abriu conflitos com Bruxelas, com a Alemanha, com a Rússia.

As sondagens também dizem que o Justiça e Liberdade não conseguirá a maioria necessária para governar sozinho. Deve ser obrigado a fazer uma aliança ou coligação com um pequeno partido. Mas Kaczynski, de 66 anos, tentou até ao último momento mobilizar o seu eleitorado de base — a direita tradicional e a população católica — para tentar chegar aos 230 deputados de que necessita (o Parlamento tem 460 lugares), suplantando em votos o eleitorado moderado e progressista que considera o PiS uma força de bloqueio às reforças sociais e à aproximação do país ao Ocidente.

Kaczynski e Beata Szydlo fizeram muitas promessas populistas nas últimas semanas: baixar os impostos, descer a idade da reforma, aumentar os subsídios às famílias e impedir a entrada em massa de imigrantes e refugiados. Durante as semanas de campanha, Kaczynski defendeu que os refugiados deveriam ser submetidos a inspecções, pois podem transportar “doenças e parasitas” perigosos para a Europa.

A AFP diz que, nos últimos comícios, o ambiente de euforia à volta do PiS cresceu, com os apoiantes a gritarem “damy rade” (isto vai) à proposta do partido de pedir votos pela “mudança boa” e pela rejeição do “caos”. A candidata a primeira-ministra, diz a agência francesa, mostrava aos apoiantes um dossier azul com um programa de governo para os primeiros cem dias, os necessários para fazer a tal “mudança boa”.

Os opositores optaram por sublinhar os perigos de um regresso de Kaczynski ao poder: uma nova ruptura com a União Europeia, a influência da Igreja Católica e o risco de as restrições ao aborto serem ainda maiores, a possibilidade de ser proibida a reprodução artificial, o reforço do catolicismo na Educação. Ewa Kopacz disse, num comício, que a Polónia corre o risco de se tornar uma “república confessional”.

Segundo as sondagens, foi a chegada de novos partidos à cena política que retirou votos (ou intenções de voto) aos dois grandes partidos. A coligação Esquerda Unificada, o partido anti-sistema do músico de rock Pawel Kukiz que “apareceu do nada” (AFP) nas presidenciais de Maio, o partido neoliberal Nowoczesna (Moderno) do eurodeputado Janusz Korwin-Mikke e o Partido Camponês estão todos na marca dos 5% que asseguram a eleição de um deputado. Os aliados naturais do PiS são o movimento Kukiz’15 e o Partido Camponês.

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