Celebrar um bom ano para a BD portuguesa e as crianças no Amadora BD

Mafalda, Calvin, os Peanuts e os portugueses Quim e Manecas, de Stuart Carvalhais, além de Jacques Tardi ou Mathieu Sapin a partir desta sexta-feira no festival. Foi um ano de “publicação intensa” em Portugal.

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O Fórum Luís de Camões e o seu parque de estacionamento são o espaço central do festival Miguel Madeira
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O PÚBLICO visitou a montagem do festival a poucos dias da sua inauguração Miguel Madeira
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O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora tem como tema central as crianças na BD Miguel Madeira

Labirintos à altura dos mais pequenos leitores, passagens “secretas”, escorregas e até uma escada-palhaço. O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora tem como tema central as crianças na BD, da centenária e portuguesa Quim e Manecas até aos miúdos “que mais revelam o que é ser criança” nas últimas décadas – por lá andam Mafalda, Calvin e Hobbes e a tribo dos Peanuts. A luz do estirador foca ainda Portugal, cujo último ano editorial na BD foi de boas novas: “diversidade e quantidade”, diz o director do festival, Nelson Dona.

Na 26.ª edição do Amadora BD, que é inaugurado esta sexta-feira e que traz convidados internacionais como os franceses Jacques Tardi ou Mathieu Sapin, celebram-se Stuart Carvalhais e as suas personagens Quim e Manecas, “a génese da BD portuguesa” que este ano cumprem o seu centenário. Apareceram pela primeira vez no jornal O Século e são um marco temporal e artístico. É “a série portuguesa mais famosa de sempre”, diz João Paulo Boléo, comissário da exposição central do evento nos textos distribuídos à imprensa – Stuart foi mesmo, lê-se, o primeiro autor europeu a utilizar os balões de BD. E desse momento de pujança portuguesa com duas crianças lisboetas aventureiras ao centro nos idos de 1915, damos um salto para o presente na Amadora.

“Houve um aumento grande do número de publicações de BD em Portugal” desde Setembro de 2014 e Agosto deste ano, diz Sara Figueiredo Costa, que com Luís Salvado comissaria a exposição Ano Editorial 2014-15. Uma das apostas desta edição deste festival “generalista”, como diz Nelson Dona, e que quer perceber as tendências e as lógicas do que é publicado no sector em Portugal.

Os dois jornalistas e especialistas em BD falam de “doze meses de publicação intensa” e, no parque subterrâneo do Fórum Luís de Camões - o fórum e o seu parque são o espaço central do festival -, Sara Figueiredo Costa acrescenta ao PÚBLICO alguns motivos que explicam essa tendência: a democratização dos meios de produção e os novos canais de distribuição – entre os quais os jornais.

Em contraciclo em relação à edição de literatura generalista, diz, a publicação de BD entre a última e a actual edição do festival, e “nos últimos dois, três anos”, o “número de títulos publicado” cresceu. São edições de “média e pequena dimensão”, salvo algumas grandes tiragens, mais pontuais, explica a especialista. A exposição quer cristalizar esse momento com mais de 200 títulos – livros, fanzines, revistas e publicações digitais – e mais de cem autores portugueses que publicaram no seu país em exposição manuseável. “Sempre tivemos muita gente a desenhar e a escrever”, confirma a comissária. Mas “a renovação dos canais de distribuição” com a Internet, os encontros ou a impressão digital “e dos próprios meios de edição fez com que as pessoas tivessem onde mostrar e publicar”, diz Sara Figueiredo Costa.

“Nos últimos anos tivemos muitas feiras de edição alternativa, muitos projectos editoriais que nasceram de grupos de amigos que começaram a fazer não o fanzine fotocopiado” mas produtos com acabamento mais profissional. A impressão digital permite fazer pequenas edições, reeditar facilmente e ganhar não só a simples existência, mas também alguma visibilidade. E, depois, chegar às livrarias independentes e dar força às poucas pequenas editoras que já têm uma distribuição comercial que lhes permite chegar às grandes lojas.  Continua a ser “um meio muito pequeno”, o português, mas “a ideia da BD para um público fechado é muito errada”, defende a jornalista.

No espaço central de um dos dois pisos da casa-mãe do Amadora BD estarão também colecções como as editadas pelo PÚBLICO, que lançaram com a editora Levoir no mercado português novelas gráficas de Robert Crumb, Will Eisner ou do convidado do festival deste ano, Jacques Tardi e a sua Foi assim a guerra nas trincheiras  sobre a I Guerra e os homens que a travaram. “Um fôlego imenso à publicação de BD em Portugal”, insuflado também pelo incremento nas publicações infantis da Disney ou outros títulos ligados ao cinema ou à TV nas bancas e quiosques.

Raridades e concerto

As crianças, novamente, os primeiros leitores de uma vida que pode ser sempre aos quadradinhos e que estão na BD à vista dos visitantes em núcleos com Tropelias, Heróis e Aventura, Turmas ou os incontornáveis Calvin (Bill Waterson), Mafalda (Quino) e os Peanuts (Charles Schulz). Há desenhos para ver, originais e mesmo exemplares únicos de autores como Hergé, Franquin ou da personagem Little Nemo (de Winsor McCay) vindos de museus e colecções de todo o mundo. Por entre os dois pisos do Fórum, as tais passagens, túneis e labirintos criados pelo atelier Vírgula i destinam-se aos visitantes mais jovens - mas para os graúdos também há percursos a percorrer.

O Amadora BD espraia-se até 8 de Novembro para espaços como a Bedeteca da Amadora, onde já está a exposição Putain de Guerre! – A Guerra das Trincheiras, e para outros locais em Lisboa, Almada ou Cacém. Na noite de sábado realiza-se nos Recreios da Amadora o espectáculo homónimo em que Tardi, a sua mulher e cantora Dominique Grange e o grupo Accordzéâm declamam, cantam, musicam e se mostram ilustrações do álbum Putain de Guerre!. As receitas revertem na totalidade para o Conselho Português para os Refugiados.

A extensa programação, que inclui ainda mostras sobre Jim Del Monaco, O Pugilista de Reinhard Kleist, os premiados portugueses e internacionais do ano passado e os nomeados de 2015, desfiles de cosplay, sessões de autógrafos ou workshops, pode ser consultada em www.amadorabd.com. Uma organização da Câmara Municipal da Amadora, o evento tem um orçamento de cerca de 500 mil euros e recebeu na última edição 30 mil visitantes.

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