EUA “contam com Portugal” na NATO, nem que seja para desatascar marines

Pinheiro da Cruz foi palco de um exercício conjunto entre fuzileiros e marines.

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O Trident Juncture 2015 é “o maior exercício da NATO em 20 anos" Rui Gaudêncio
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O Trident Juncture 2015 é “o maior exercício da NATO em 20 anos" Rui Gaudêncio
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O embaixador norte-americano Robert Sherman está tranquilo quanto à permanência de Portugal na Aliança Atlântica Rui Gaudêncio
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O Trident Juncture 2015 é “o maior exercício da NATO em 20 anos" Rui Gaudêncio
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O Trident Juncture 2015 é “o maior exercício da NATO em 20 anos" Rui Gaudêncio

A poucos minutos do arranque do exercício militar tudo decorria de acordo com o previsto. O céu estava limpo, a rebentação na praia era diminuta e nenhum piquete de manifestantes pacifistas ocupava o acesso ao local do treino conjunto que os fuzileiros portugueses e os marines norte-americanos iriam levar a cabo, nesta terça-feira, junto à prisão de Pinheiro da Cruz, no concelho de Grândola.

Sob o comando da STRIKFORNATO – a força marítima de reacção rápida da NATO instalada em Oeiras – 140 fuzileiros e 180 marines iriam ensaiar um assalto anfíbio a partir do cenário fictício criado para mais uma fase do exercício multinacional da NATO, Trident Juncture 2015. “É o maior exercício da NATO em 20 anos”, resumia na praia da Raposa o Tenente-Coronel Marine, Eric Hamstra, que juntamente com o Capitão-Tenente Fuzileiro Silva Caldeira operacionalizara o ensaio que estava prestes a arrancar.

A “determinação da NATO” iria ser testada perante uma panóplia de altas patentes e um responsável político relevante, o embaixador norte-americano em Lisboa, Robert Sherman. Mas, ao mesmo tempo que Sherman declarava o exercício como uma “experiência inesquecível” e elogiava a “interoperacionalidade” confirmada pelos fuzileiros e marines, naquela praia alentejana, algo de diferente se passava a 150 quilómetros de distância em Lisboa. O socialista António Costa anunciava ter “condições para um governo estável” com o apoio de dois partidos abertamente críticos em relação à NATO.

Mas o representante da superpotência não estava preocupado, conforme garantiu ao PÚBLICO: “O aspecto relevante aí é que o compromisso de Portugal em relação à NATO permaneça firme. Pelo que eu percebi, não só o primeiro-ministro mas também o líder do PS, António Costa, reiteraram ambos a importância da manutenção desses compromissos. A verdade é que Portugal é um parceiro forte e importante da NATO, contamos com a participação de Portugal e não vejo que isso vá mudar.”

Essa manifestação do espirito de colaboração entre os dois países membros da NATO foi uma constante. Horas antes, Eric Hamstra manifestara-se “ansioso” por “aprender com os portugueses”, ao nível das “técnicas, tácticas e procedimentos” empregados pelos fuzileiros.

E de certa forma foi isso a que teve direito. O empenho norte-americano no exercício foi evidente, com o recurso a equipamento inacessível a Portugal. O assalto anfíbio foi lançado a partir do USS Arlington. Um navio polivalente logístico do tipo que a Marinha portuguesa viu fugir do seu sistema de forças há uns meses, quando fracassaram as negociações com a França para a aquisição em segunda mão do Siroco. Foi do Arlington que partiram os dois hovercrafts – navios que se deslocam sobre almofadas de ar que lhes permitem mover-se tanto no mar como em terra – e que descolaram os três imponentes helicópteros CH-53. O poderio militar americano ganhava forma nas costas da prisão de Pinheiro da Cruz.

Só que depois aconteceram os “imponderáveis” inerentes a uma operação militar, como reconheceu o contra-almirante da STRIKFORNATO, Roy Kitchener. Os dois hovercrafts chegaram à beira-mar demasiado lentos e fracassaram na abordagem à praia. Tiveram de fazer marcha à ré e ensaiar nova investida para então conseguir subir a inclinação da praia. O desembarque misto dos cerca de 20 fuzileiros e marines seguiu o guião sem percalços. Mas assim que coube a vez aos blindados, a areia alentejana voltou a fazer vítimas. A primeira foi um Humvee, um dos imponentes jipes das forças armadas dos EUA. Avançou cerca de dois metros antes de atascar na fina areias da praia. Poucos minutos depois, um blindado de oito rodas queimava litros de gasolina a tentar manobrar no mesmo terreno.

Do alto da rampa alcatroada que ligava a praia à estrada, um oficial marine largou um comentário perante o cenário. “É o que acontece quando pões blindados na praia…” A alguns metros de distância, um grupo de fuzileiros olhava para a cena. “Os nossos Land Rover velhinhos andam ali à vontade”

Foi então que se percebeu que, apesar de tudo, os militares portugueses tinham algo para ensinar aos marines. Enquanto um grupo de camuflados caqui dos marines olhava impotente para o seu Humvee atascado, viu-se um fuzileiro de camuflado verde levantar-se da sua posição de guarda à praia e dirigir-se aos norte-americanos. Pelos gestos que fazia, percebeu-se que sugeria o esvaziar dos pneus para ajudar a aderência ao terreno. Cerca de uma hora depois, três blindados marines já conseguiam chegar à estrada. Afinal, os fuzileiros portugueses podiam não ter um Arlington ou hovercrafts. Mas sabiam como desatascar uma força de assalto de uma praia de areia branca.

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