Edgar Silva candidata-se para “libertar” Portugal e voltar a Abril

Candidato apoiado pelo PCP avisa que “ninguém se pode arvorar dono do voto” e ambiciona chegar à segunda volta. “Esta é uma candidatura apoiada pelo PCP, mas não é do PCP.”

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Daniel Rocha

Foi com um longo e detalhado discurso de quase 40 minutos que Edgar Silva apresentou as linhas mestras do seu programa para a Presidência da República, intimamente ligadas aos valores de Abril. O antigo padre da Madeira e actual dirigente do PCP diz querer “libertar” os portugueses e o país de uma situação de degradação acentuada – de valores e de políticas -, aproximar o Chefe de Estado dos cidadãos, promete ir “até ao voto” e não desdenha qualquer apoio, incluindo do Bloco de Esquerda.

Numa enorme e apinhada sala do Hotel Altis, em Lisboa, o candidato a Presidente da República apoiado pelo PCP detalhou os seus dez compromissos eleitorais onde se identificam claramente premissas preconizadas pelos comunistas.

“Este é um tempo em que, em Portugal, depois de décadas de governação em confronto com os valores de Abril, se aprofundam as injustiças sociais e a exploração, e medram a corrupção e a concentração da riqueza. Conhecemos esta trajectória de descaracterização do regime democrático, de ataque à soberania e independência nacionais”, apontou. Por isso, vincou, “é tempo de virar a página”.

Embora tenha vincado várias vezes que “o Presidente da República não governa”, Edgar Silva apresentou um conjunto de propostas próprio quase de uma estratégia de Governo. “Os poderes do Presidente da República podem e devem ser usados ao serviço da ruptura com o rumo das últimas décadas”, optando por um caminho de “desenvolvimento, justiça e progresso social”, defendeu.

Foi ainda mais directo: “Esta candidatura que assumo exprime essa exigência de uma profunda ruptura e de viragem em relação às orientações políticas que tanta desordem e tanta regressão impuseram ao nosso país. Esta é uma candidatura que afirma que há um outro rumo e uma outra política capazes de responder aos problemas de Portugal. Esta candidatura está comprometida com os valores de Abril, para impulsionar o caminho do desenvolvimento, da justiça e do progresso social, da soberania e independência nacionais.”

O candidato compromete-se defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição – como aliás, têm prometido todos os candidatos -; defender e aprofundar o regime democrático; defender os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, assim como os direitos sociais; promover o crescimento económico e o desenvolvimento; lutar contra a exclusão social e pela erradicação da pobreza; garantir toda a prioridade às crianças e combater o crime da pobreza infantil; afirmar um Estado participado e descentralizado; atender à diáspora portuguesa e defender a independência nacional.

"Candidatura não é do PCP"
Perante uma sala cheia de caras do PCP ou ligados de alguma forma ao partido, com Jerónimo de Sousa e diversos deputados e membros do Comité Central na primeira fila, Edgar Silva vincou que a sua candidatura “é apoiada pelo PCP mas não é do PCP”. Também por isso, quando questionado sobre um eventual apoio do Bloco de Esquerda, que ainda não se pronunciou sobre as presidenciais – e até porque teve Francisco Louçã como apoiante quando se candidatou na Madeira pela primeira vez -, o candidato não se fez rogado. Todo o apoio será bem-vindo.

A quem decreta já a vitória a um ou outro candidato melhor colocado nas sondagens, avisa: “Ninguém se pode arvorar como dono do voto. Está tudo por construir e tudo por fazer. Os resultados eleitorais conquistam-se, ganham-se.” Recusa qualquer ideia de desistência – à semelhança do que já aconteceu com candidatos apoiados pelo PCP – prometendo “ir até ao voto”. E pede que o deixem sonhar: “Seria muito importante uma segunda volta. (…) Permita-me a imodéstia de poder dizer que não ponho de parte que no dia das eleições possa ser uma das candidaturas que poderá passar à segunda volta.” Diz também que pretende que “um candidato da direita não tenha caminho facilitado”.

E se já fosse agora Presidente, como resolveria o impasse governativo? Deixaria o Parlamento decidir: “É no Parlamento que se devem encontrar as soluções e maiorias necessárias. Como Presidente caber-me-ia respeitar aquela que fosse a vontade e a decisão dos deputados eleitos para garantir as condições de Governo”.

Questionado sobre as declarações do cardeal-patriarca acerca de um Governo preferencialmente de direita, Edgar Silva preferiu não responder alegando ser “dever” de um candidato ou de um Presidente “não se imiscuir” na vida da Igreja ou nas declarações de responsáveis religiosos. Porque Portugal é um Estado laico.

E deu quase a mesma justificação quando perguntado sobre se estará melhor posicionado para o exercício do cargo de Presidente da República devido à sua experiência como padre. “Os católicos não têm partido, não há uma fronteira até onde podem ir”, mas realçou que essa “aprendizagem e trajectória de vida assente nos valores da solidariedade e da protecção dos mais fracos e pobres” lhe deu uma grande base de vida.

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