A Feira do Livro de Frankfurt encolheu e Portugal ganhou com isso

É o começo de uma nova etapa. Depois de todas as mudanças na indústria editorial, chegou a vez da nova Feira do Livro de Frankfurt.

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A Feira do Livro de Frankfurt abriu ao público esta quarta-feira DANIEL ROLAND/AFP

Embora nas últimas décadas aquela que é a mais importante feira de negócios de venda de direitos tenha sofrido várias mudanças, e se tenha transformado mais numa feira de conteúdos do que só da área tradicional do livro, esta é a maior alteração de todas. Não foi surpresa, já se sabia desde o ano passado que ia acontecer, mas no dia de abertura da Feira do Livro de Frankfurt, esta quarta-feira, havia no ar a sensação de que se estava a experimentar algo de verdadeiramente novo.

E qual é a diferença mais significativa? A feira ficou mais pequena e está organizada de maneira a permitir que não se demore mais do que “cinco minutos” a ir de uma reunião de negócios para outra. Antigamente isso não era possível, pois os editores de língua inglesa ocupavam um gigante e longínquo Hall 8 – que foi desactivado –, e para lá se chegar era um tormento. Este ano, os stands dos editores dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha estão no Hall 6, espalhados por três andares, perto do espaço onde os agentes negoceiam os direitos e mais próximos dos stands de outros países.

Ficaram mesmo ao lado do Hall 5.0 e 5.1, onde estão os países europeus, como a França, Espanha, Itália, países nórdicos e ainda o mundo árabe.

Embora Portugal não tenha mudado de hall ou de andar como aconteceu a outros países, tem uma nova localização. E como agora fica tudo mais perto e aconchegado, os editores portugueses que estavam a maior parte do tempo em reuniões no extinto Hall 8 passam mais vezes pelo espaço português.

“O stand português foi renovado”, explica ao PÚBLICO Bruno Pires Pacheco, secretário-geral da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). “Foi construído todo de raiz pela APEL; desde o ano em que Portugal foi o país tema que não tínhamos uma situação deste género”, acrescenta.

Na manhã desta quarta-feira, já andavam pela feira os editores habituais: Manuel Alberto Valente e Ana Barros, da Porto Editora; Carlos Veiga Ferreira, da Teodolito; João Rodrigues, da Sextante; Zeferino Coelho, da Caminho (Leya); e Francisco José Viegas, da Quetzal, ainda a habituarem-se a este recinto mais pequeno, com menos gente e com uma logística diferente. Mas satisfeitos com a nova localização e as mudanças do espaço ocupado por Portugal. “Os primeiros editores a chegarem cá ficaram relativamente satisfeitos com esta nossa nova participação, não só com o stand em si, mas também com a nova localização à entrada do Hall 5.1, que nos garante uma melhor visibilidade”, diz o secretário-geral da APEL.

A área do stand é semelhante à do ano passado, mas tem uma configuração diferente: o corredor é mais largo, o formato é mais quadrado e o stand deixou de ter tecto, o que o torna mais amplo e mais iluminado. Mudou a mobília, a maneira como estão expostos os livros e o jogo de cores. Portugal está agora no sítio que antigamente era ocupado pela Itália, rodeado pelos stands de Espanha e do Brasil, muito perto  da editora Companhia das Letras. “Foi uma localização negociada com a organização da feira, sacada a ferros, mas estamos muito satisfeitos”, acrescenta Bruno Pires Pacheco.

O facto de o stand português, a meio da manhã, parecer já ter tantas reuniões e movimento de editores pode ser explicado pela proximidade com o Hall 6, que tem agora os dos Estados Unidos. “A alteração do Hall 6, que tem agora editores muito fortes, traz mais público. Construímos em altura para que ‘Portugal’ fosse logo visto na entrada”, realça o responsável da APEL.

O stand, que se estende por 120 m2 (em outros tempos já teve 270 m2), é dividido pelos editores associados da APEL, que ocupam 100 m2, pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), que está aqui a promover os programas de apoio à tradução para editores estrangeiros que queiram editar autores portugueses, e pela Bookoffice – a agência que representa vários autores. A opinião de que o stand está mais acolhedor e mais simpático é unânime.

Em cima das mesas ocupadas pela equipa da Bookoffice, que está pela terceira vez na feira, estão pequenos livrinhos com excertos em várias línguas de obras de autores representados pela agência, como Mário Cláudio, Afonso Cruz ou Bruno Vieira Amaral.

Além do site da agência estar agora também em inglês, francês e espanhol, a Bookoffice lançou uma aplicação para consulta em telemóveis. Para a feira trouxeram coisas novas, como o detective Jaime Ramos, personagem dos livros de Francisco José Viegas: “Estamos a trabalhá-lo como autor muito em volta do personagem”, explica Paulo Ferreira. Criaram uma brochura (em inglês), onde se explica quem é o inspector Jaime Ramos, mas também fizeram cartões-de-visita do próprio inspector, onde se anuncia o site, além de se explicar as afinidades da personagem. Também Afonso Cruz tem um novo site: “Aqui não estamos a tentar vender só o escritor Afonso Cruz, mas também o ilustrador, o músico que faz cerveja, uma vertente um bocadinho mais abrangente”, diz Paulo Ferreira. E a Bookoffice vai também lançar um site dedicado à obra de Luís Miguel Rocha, autor que faleceu em Março, mas continua a representar.

Na feira, a agência vende os direitos de vários livros, entre os quais, como novidades, estão Flores, de Afonso Cruz; Arquipélago, de Joel Neto; A Rapariga e o Fotógrafo, de Mário Cláudio; o novo romance de Pedro Vieira, O Que Não Pode Ser Salvo, ou Sem Coração, de Miguel Miranda.

O PÚBLICO viajou a convite da Embaixada da Alemanha

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