O realismo dos cadernos de encargos

A coligação tem de contar com ideias de fora para governar. Mas as reivindicações devem ser realistas

Um governo que não tenha uma maioria no Parlamento é um governo que terá de ter um grande espírito de consensos, uma enorme capacidade de fazer pontes e abertura para poder conciliar propostas que virão de outros quadrantes políticos. Naturalmente que o país deverá ser governado de acordo com o programa de quem ganhou as eleições, mas quando a coligação reverter o seu programa eleitoral para um programa de governo, e mais tarde para o Orçamento do Estado, terá de ter em conta outras sensibilidades. Só assim conseguirá garantir a governabilidade.

Sabendo que a ausência de uma maioria é a garantia de que o novo executivo não irá governar de uma forma autista, já se perfilam partidos, associações, sindicatos e patrões com propostas e sugestões para a governação do país. Apesar de o país já não estar sob resgate e numa situação de emergência financeira, é necessário que essas propostas tenham algum grau de realismo e de adesão à realidade.

A UGT, por exemplo, veio esta terça-feira propor, de uma só assentada, o aumento do salário mínimo para os 535 euros, uma subida dos salários dos trabalhadores (do público e privado) entre 2,5% e 3,5%, o fim dos cortes salariais na função pública, o aumento do indexante dos apoios sociais (que serve para fixar o valor das prestações sociais), o fim da Contribuição Extraordinária de Solidariedade e o aumento de todas as pensões. E ainda a eliminação da sobretaxa de IRS, a redução do IVA e a reposição dos 13% na restauração.

Como fazer tudo isto num país com um défice elevado, uma dívida monumental e que ainda há quatro anos estava a semanas de ficar sem dinheiro para pagar salários e pensões? Vá-se lá saber como. O Governo tem de acomodar outras propostas ao programa com que se apresentou a eleições, mas estas devem vir acompanhadas de realismo e bom senso.

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