CDU com subida amarga diz-se disposta a dar a mão ao PS

Jerónimo de Sousa considera que a “hecatombe” eleitoral da direita permite ao PS ter “condições para formar Governo”.

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Fotos Nuno Ferreira Santos
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Foi uma noite com travo amargo e com o entusiamo molhado pela chuva que começou a cair quando se conheceram as projecções, pelas 20h. A festa a sério fazia-se do outro lado da Avenida da Liberdade, no cinema São Jorge, com o Bloco, e no Centro de Trabalho Vitória, nem uma bandeira da CDU se viu. Apenas os jovens iam gritando as palavras de ordem do costume, sem conseguir esfumar o ambiente de algum constrangimento por o Bloco de Esquerda ultrapassar a CDU em alta velocidade.

De tal maneira que Jerónimo de Sousa se viu forçado a descer ao rés-do-chão para falar duas vezes, a segunda já quando parte da comunicação social tinha desmobilizado e o líder do PCP teve afinal a certeza que a CDU conseguira mais votos (mais mil, à hora de fecho desta edição), mais percentagem (8,3% em vez dos 7,9%) e mais um deputado que os 16 de há quatro anos – no Porto somou mais um aos dois que elegera.

Ao contrário, porém, de outras eleições, desta vez Jerónimo nunca falou numa vitória da CDU. Preferiu sempre falar em “objectivos cumpridos”, sobretudo o de acabar com a maioria absoluta de PSD/CDS. Que a CDU acabou por transformar na sua bandeira da noite eleitoral. Os comunistas e os ecologistas consideram que essa foi a sua vitória, de tal modo que o líder comunista até se pôs em bicos de pés.

Para Jerónimo, a perda da maioria absoluta por parte de PSD e CDS, leva que a haja um “quadro” em que “o PS tem condições para formar Governo”. O líder do PCP prometeu mesmo rejeitar “qualquer tentativa de formação do Governo ou de aprovação do programa de Governo”. E Francisco Lopes, do Comité Central e apontado como o melhor colocado para suceder a Jerónimo de Sousa já tinha avisado por volta das 21h: com esta “hecatombe”, PSD e CDS perdem a possibilidade de formar Governo, “a menos que haja da parte do Presidente da República uma entorse relativamente aos resultados eleitorais”. “Ou se alguma força que tem estado na oposição favorecer a criação desse Governo”, acrescentou depois.

Ao dar assim a mão ao PS, Jerónimo de Sousa espera que António Costa não lhe vire as costas e acabe por, ele sim, estender a sua mão à direita. E terá já em mente a apresentação de um voto de rejeição do programa do Governo no Parlamento, colocando a bola do lado dos socialistas. A CDU, vincou, está disposta “a dar a sua contribuição para resolver os problemas nacionais” , mas não a qualquer custo. “Nós dissemos claramente que não precisamos de favores para ir para o Governo, não precisamos de acordos que não se baseiam numa política alternativa, patriótica e de esquerda.”

Jerónimo limitou-se, no entanto, a lançar o isco a António Costa – questionado pelos jornalistas admitiu que confia na comunicação social para levar a mensagem ao líder do PS – e não adiantou em que áreas aceita negociar. Os programas da CDU e do PS são compatíveis ao ponto de viabilizar um programa ou orçamento socialista? Porque “a melhor prova do pudim é comê-lo”, o secretário-geral comunista prefere esperar que a iguaria chegue à mesa. Mas vai avisando que há pontos fundamentais como a reposição de salários, pensões e reformas, ou o Serviço Nacional de Saúde e a carga fiscal.

Jerónimo de Sousa não resistiu a fazer a vitimização da CDU, que foi “muitas vezes discriminada, silenciada” pela comunicação social, forçada a fazer uma campanha “sem holofotes nem reportagens a dobrar” – “fenómeno maior que a multiplicação dos pães”.

Sem “ciumeira” do BE
Na CDU recusou-se qualquer frustração com o facto de se perder o terceiro lugar para o Bloco de Esquerda. “Nós não andamos em nenhuma competição com o Bloco. O Bloco não é o nosso adversário”, dizia Jorge Pires, da comissão política. E vincou: “Ser ultrapassado pelo Bloco não é problema; problema seria a coligação PSD/CDS ter maioria absoluta.” Jerónimo de Sousa também desvalorizou, lembrando que há quatro anos o resultado foi diferente e dos comunistas não se ouviu palavra. “O Bloco teve a expressão que teve, fazemos esse registo, mas não peçam ao PCP que se trave aqui um duelo, um despique ou uma ciumeira. Não, a vida é assim mesmo”, disse Jerónimo. “Os resultados são os que são, nós teremos o nosso próprio caminho e não entraremos em concorrência, em qualquer arrelia ou ciumeira”, acrescentou.

Questionado sobre se esta foi a sua última campanha eleitoral, o líder comunista sorriu, disse que não e que o verão mais vezes na rua em breve. Nas presidenciais? Abanou a cabeça, ainda de sorriso nos lábios, “para agradecer” aos militantes e activistas da CDU. O congresso sucessório do PCP deverá realizar-se em 2016.

Resultados completos e comparativo com 2011

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