Malditas sondagens

Estas foram umas eleições que decorreram sob o signo das sondagens. Nunca os humores do eleitorado foram tão escrutinados, comentados, rejeitados, qualificados de impossíveis e injustos ou recebidos com alívio e gratidão, conforme das convicções de cada um. Nunca, como desta vez, tais resultados serviram para congeminar tantas teorias da conspiração, umas mais sofisticadas do que outras, é certo, mas todas devidamente articuladas em torno dos mesmos protagonistas: as empresas de sondagens e os media (estes em duas versões, ora responsabilizando directamente os jornalistas, ora as respectivas administrações), obviamente feitos com o Governo. Quando as notícias são más, é quase irresistível matar o mensageiro, como acontecia na Antiguidade aos portadores do infortúnio.

Quando convidados a comentar sondagens, os responsáveis políticos tendem quase sempre a desvalorizá-las, mas são óbvios os efeitos que estas podem ter quer sobre os próprios, quer sobre as máquinas partidárias. Se correm bem alimentam o ego e dão alento à mobilização; se correm mal a primeira tentação é introduzir mudanças no guião, correndo o risco de criar desnorte nas hostes e confusão na mensagem. Mas nem tudo é negativo para a força política que surge em perda. Um estudo de opinião desfavorável também pode ter como efeito benéfico mobilizar abstencionistas que não querem favorecer o campo político adversário. Ou então, o que é mais comum, levar os indecisos a apostarem no voto útil. Aliás, quando os dois principais blocos políticos têm uma curta margem de diferença perto do dia das eleições, não é de todo impossível o bloco em perda passar a vencedor, justamente em resultado do efeito combinado desses dois factores: quebra da abstenção e aposta no voto útil.

Aconteça o que acontecer, as sondagens também estarão domingo na berlinda. A confirmarem-se, as projecções serão levadas mais a sério e, no futuro, terão consequências mais dramáticas no dia-a-dia das campanhas. Caso contrário, a tentação poderá ser controlá-las.

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