Já não há grande amor para os lados do Tivoli

Diogo Infante e Alexandra Lencastre no Teatro Tivoli, em Lisboa, interpretam dois casais em avançado desgaste conjugal. Plaza Suite, de Neil Simon, com encenação de Adriano Luz, não dá grandes hipóteses ao amor.

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Alexandra Lencastre e Diogo Infante são Karen e Sam Nash no primeiro acto
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O casal está a “celebrar” o 24º (ou será 23º?, nem eles sabem bem) aniversário
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A peça “passa do melodrama para a comédia hilariante num ápice”
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Plaza Suite
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No segunda acto, Alexandra Lencastre é Norma Hubley
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Diogo Infante é Roy Hubley
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Neil Simon, para muitos, é um espelho norte-americano do britânico Noël Coward.

Foi Coward, aliás, revelaria Simon em entrevista, o grande responsável pelo súbito sucesso da sua primeira obra, Come Blow Your Horn, ao elogiá-la junto de um colunista nova-iorquino no início da década de 60. Depois, os dois haviam de trocar correspondência e aproximar-se. Em 1968, após a estreia de Plaza Suite, Coward escreveria uma nova entrada no seu diário, assinada com um típico humor ácido: “Mas que grande ideia, ter diferentes peças todas a decorrer numa suite de hotel. Pergunto-me como é que o Neil Simon se terá lembrado disto.” O próprio Coward, três anos antes, estreara Suite in Three Keys, peça que explora precisamente esse dispositivo.

Plaza Suite, no Teatro Tivoli, Lisboa, até 25 de Outubro, coloca três casais em diferentes estados da sua relação, de visita ao quarto 719 do Plaza Hotel, em Nova Iorque. E foi a agilidade com que Simon “passa do melodrama para a comédia hilariante num ápice”, justifica Adriano Luz ao PÚBLICO, que levou o encenador a querer apresentar esta peça há cerca de dez anos. “Na altura”, lembra, “a Luísa Costa Gomes fez a adaptação, mas como não houve entendimento com o representante dos direitos de autor acabámos por não a levar à cena. Passados estes anos, o espectáculo veio outra vez ter comigo.” E apareceu por sugestão de Diogo Infante, que fez chegar a proposta à Força de Produção. Adriano Luz foi, então, a escolha óbvia para dirigir Infante e Alexandra Lencastre (a comemorar 30 anos de carreira) desdobrando-se nos papéis de dois (e não três, mas já lá vamos) casais: não só tentara já apresentar a peça, não apenas tinha consigo a tradução de Luísa Costa Gomes, mas também fora sua a encenação, em 2012, no mesmo Teatro Tivoli de Os Reis da Comédia, um outro texto de Neil Simon.

Já há muito, portanto, que Adriano Luz se encanta com este “autor comercial, abrangente” no qual encontra uma forma exemplar de “fazer comédias com que as pessoas se divertem, mas em que também se identificam com as personagens, que estão sempre muito perto de nós”. Na primeira abordagem (abortada) ao texto, dada a duração previsível de três horas de espectáculo, Adriano Luz tinha optado por pedir a Luísa Costa Gomes que adaptasse e reduzisse cada um dos três actos, completamente autónomos. Agora, decidiu-se por uma forma de encurtar a peça, reduzindo de três para dois actos a criação de Neil Simon.

A escolha dos dois actos deste Plaza Suite reflecte assim uma preocupação em conseguir “dois registos de representação, narrativos e dramáticos completamente distintos”. Daí que encontremos, primeiro, Infante e Lencastre enquanto casal a “celebrar” o 24º (ou será 23º?, nem eles sabem bem) aniversário de um matrimónio claramente a ruir, desfazendo-se à medida que a acção avança e as solicitações do trabalho dele (em que se incluem uma insinuante secretária) se impõem a qualquer tentativa de salvação; em seguida, envelhecidos uns 15 a 20 anos, os mesmos actores transformam-se em “patos bravos” de rápida ascensão social, sem perderem, no entanto, alguma boçalidade com que comentam a vida da filha, prestes a casar-se, mas trancada na casa de banho.

Em ambos os actos, o amor surge desgastado, vítima indefesa da passagem do tempo. Emprestando-lhe uma visão algo cínica, Simon faz com que o amor morra quando tenta manter-se vivo, e que seja tolerável quando se torna uma coisa pequena, desenxabida e indolor.

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