Associação de lesados “congratula-se” com adiamento da venda do Novo Banco

Porta-voz entende que "existe um claro falhanço do Banco de Portugal e do Governo na resolução do problema do papel comercial do Grupo Espírito Santo"".

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Lesados do BES têm vindo a manifestar-se para reaver o dinheiro. Bruno Lisita

A Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) congratulou-se esta quarta-feira com a interrupção do procedimento de venda do Novo Banco, anunciado na terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP), considerando que a entidade deve ser reestruturada.

"A associação congratula-se com a prorrogação da venda do Novo Banco e alerta que esta operação não pode ser feita ao desbarato", disse à agência Lusa Alberto Ribeiro Neves, vice-presidente da AIEPC.

"Entendemos que a administração do Novo Banco deve responsavelmente encetar uma nova gestão estratégica para a reestruturação do banco, preocupando-se com os seus clientes do passado, do presente e do futuro, bem como com os seus trabalhadores e respectivas famílias", acrescentou.

Segundo o responsável, a associação de lesados considera que "existe responsabilidade política e jurídica do Fundo de Resolução, do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários", salientando que todas estas entidades são "tuteladas pelo Estado, que é o principal garante da fidúcia (confiança no sistema financeiro) ".

Alberto Ribeiro Neves frisou que a AIEPC "quer prestar um serviço público de esclarecimento da opinião pública" perante as várias dúvidas que existem sobre o problema do papel comercial das empresas do Grupo Espírito Santo (GES) que foi vendido aos balcões do Banco Espírito Santo (BES) a clientes de retalho.

"É preciso que as pessoas saibam que o Fundo de Resolução é uma instituição de direito público tutelada pelo Ministério das Finanças e dirigida por uma comissão nomeada pelo Governo e pelo Banco de Portugal", salientou.

E reforçou: "A associação quer desmistificar a ideia de que o sistema financeiro é que é o accionista do Fundo de Resolução, como Passos Coelho [primeiro-ministro] e Maria Luís Albuquerque [ministra das Finanças] têm querido fazer passar através da comunicação social nos últimos dias".

O vice-presidente acrescentou que a AIEPC "entende que existe um claro falhanço do BdP e do Governo na resolução do problema do papel comercial do GES", considerando que o mesmo se deve a "inequívoca incompetência do supervisor que, ironicamente, foi reconduzido no cargo pelo Governo".

Alberto Ribeiro Neves disse que "os portugueses têm que saber que o Presidente da República, o primeiro-ministro, a ministra das Finanças e o governador do Banco de Portugal manifestaram publicamente que o BES era sólido, quando na realidade não tinha o capital de sete mil milhões de euros, mas sim um buraco superior a dois mil milhões de euros devido à existência de activos sobrevalorizados e à responsabilidade na burla da venda da dívida aos balcões do então BES".

O responsável insistiu que a AIEPC quer acabar com o "mito que o senhor primeiro-ministro quer fazer passar neste período de campanha eleitoral, caindo no ridículo do bom samaritano e do salvador da pátria quando se aproximam as eleições legislativas".
Isto, depois de Passos Coelho ter garantido no sábado que está disponível para organizar uma subscrição pública para auxiliar os lesados do papel comercial do GES sem recursos económicos para recorrerem aos tribunais, defendendo que só a justiça pode resolver esta questão.

"O Governo está a empurrar idosos indefesos e cidadãos que são clientes bancários vulneráveis burlados para uma litigância interminável", acusou.

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