Não são efeitos especiais, são mesmo estrelas dos jogos, cinema e animação em Tróia

São nomes de bastidores mas cuja arte informa alguns dos maiores títulos que vão beber à fonte dos efeitos visuais, de Guerra das Estrelas à Marvel passando por Grand Theft Auto. E é o terceiro e último ano do Trojan Horse was an Unicorn.

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Karla Ortiz
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Iain McCaig desenhou a arte conceptual que definiu a imagem de Amidala, de Guerra das Estrelas dR
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O princípe Rhaegar Targaryen de "Guerra dos Tronos" segundo Ortiz para o álbum O Mundo de A Guerra dos Tronos Karla Ortiz
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Iain McCaig
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Iain McCaig
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A edição passada do THU THU

Enquanto falamos ao telefone com André Lourenço, promotor do festival de artes digitais Trojan Horse was an Unicorn (THU), Karla Ortiz, concept artist para a Marvel Film Studios, entre muitas outras colaborações de renome e “uma das mulheres mais poderosas da indústria”, grita. Acaba de ver Iain McCaig, o premiado artista que desenhou heroínas e vilões de Guerra das Estrelas. Abraçam-se em Tróia e confirmam o que André Lourenço diz ao PÚBLICO sobre o importante evento que vive a partir desta terça-feira a sua última edição em Portugal: o THU “tornou-se um festival de criadores”.

Os criativos do entretenimento digital, dos videojogos ao cinema passando pela animação, reúnem-se com uma plateia internacional de visitantes até sábado. Iain McCaig, responsável pela imagem de Darth Maul no primeiro episódio de Guerra das Estrelas, A Ameaça Fantasma, e da rainha Amidala nas mesmas prequelas, bem como do iminente O Despertar da Força, e Ortiz, a porto-riquenha que está a desenhar o que será o filme Dr. Strange e que contribuiu com imagens de Westeros para o livro O Mundo de A Guerra dos Tronos, por exemplo, são alguns dos oradores deste festival que tem talvez como “cabeça de cartaz” Craig Mullins - um dos maiores nomes da concept art, aquela que cria ambientes e desenha ideias para produtos visuais como filmes ou videojogos.

Mullins, que criou para Matrix Revolutions, Armaggedon, Jurassic Park ou Forrest Gump no cinema ou ilustrou em jogos como Need for Speed, Halo 2 ou Assassin's Creed: Brotherhood, é um blockbuster. “Trinta a 40% dos bilhetes vendidos foram só por causa dele”, explica André Lourenço. Os bilhetes esgotaram em Março mas foram investidos 100 mil euros na THU TV, que transmite em directo na Internet e guarda cem horas de palestras mediante compra de “bilhetes virtuais” – os de cem euros já esgotaram, mas há ainda os de 150 euros.

Os cerca de 900 participantes estão em Tróia para ouvir palestras e partilhar formações “sem bullshit” porque este é um “festival honesto”, diz André Lourenço sobre a vertente prática das apresentações. Falam o prolífico ilustrador sul-coreano Kim Jung Gi, o fotógrafo Norman Seeff (uma das Lendas do festival, veterano que já retratou prémios Nobel e os Rolling Stones, Ray Charles ou Michael Jackson) ou o senhor Prometheus Alex Alvarez, director da influente Gnomon School of Visual Effects de Hollywood. E ainda há Ben Mauro, Pedro Conti, ou os portugueses Afonso Salcedo e José Alves da Silva, entre os cerca de 60 convidados.

Apenas 13% dos participantes, que pagam uma entrada de cerca de 500 euros, são portugueses – um país com talentos e pequenas empresas a trabalhar nestas áreas, mas ainda sem massa crítica, segundo André Lourenço. Uma maioria de alemães, americanos, polacos e ingleses vem assistir ou participar em conversas ou formações sobre composição e força narrativa, pintura digital, efeitos visuais, carreiras na primeira pessoa ou sobre como tudo começou para acabar no filme de animação Big Hero 6 – palestra de Paul Biggs, artista de storyboard e o head of story (coordenador da transposição da história para a animação final) do êxito planetário Frozen. A imprensa especializada e generalista estrangeira está em Tróia, da Hollywood Reporter à BBC, e este evento sem fins lucrativos está satisfeito com uma coisa: “é inegável que é um programa mais forte” este da terceira edição, diz André Lourenço. E podia ser mais forte, diz, mas 2015 é o ano em que “a maior parte da indústria está trabalhar para Guerra das Estrelas [O Despertar da Força, que se estreia a 17 de Dezembro] e Avatar 2 [previsto para 2017]”, lembra Lourenço sobre os filmes de sci-fi de Abrams e James Cameron.

Criado inicialmente para dar a conhecer os talentos portugueses no sector mas também para criar um ponto de encontro, André Lourenço descreve o THU como “um evento para abrir horizontes”. Do 3D à concept art, do cinema aos jogos, o THU tem como embaixador Scott Ross, produtor de Titanic e um dos maiores players de Hollywood. E reúne pela primeira vez em Portugal recrutadores de 20 empresas do sector, de gigantes mundiais como os Walt Disney Animation Studios às produtoras de jogos Blizzard, Method Studios ou Super Cell. De Barcelona veio o director criativo da Social Point, que desenvolvem jogos e têm cerca de 30 lugares para preencher e um foco – arte. “Sempre procurei convenções onde só a arte é o tema. Todas as pessoas que aqui estão só têm uma coisa em mente. Nada de business”, diz satisfeito ao telefone, contente pelo “contacto mais directo e pessoal com tanto talento” que o THU favorece. “Este ano cresceu tanto que é o maior do mundo dedicado a criar arte, independentemente do software ou da técnica. É só sobre criar histórias e personagens”.

Em 2016 Tróia deixará de ter, depois de três anos, este seu cavalo que é um unicórnio. Tal como o PÚBLICO tinha avançado em Fevereiro, André Lourenço confirma: “É certo, vamos sair de Portugal. Para nós, Portugal morreu”. O fundador do festival critica a falta de sensibilidade das entidades portuguesas – “estou a olhar à volta e esta gente à minha frente vale milhões”, descreve sobre os talentos que recebe e o potencial da ligação desta indústria, “a terceira mais lucrativa do mundo”, ao país. Fala de apoios melhores como os dados pela Sonae Turismo (do grupo proprietário do PÚBLICO) e do financiamento através do QREN que os manteve este triénio junto ao estuário do Sado, mas sobretudo da falta de compreensão do Turismo de Portugal ou das autarquias, cujo apoio é uma gota de água ou quase nulo nos quase 600 mil euros de orçamento desta edição - assegurados em grande parte por patrocínios estrangeiros e pela venda de bilhetes para trabalhar com convidados de luxo. Dizem ter várias propostas para levar o THU para outro país. Como organização não-lucrativa, não espera retorno e “sim pagar os primeiros dois anos este ano e terminar a zero ou com pouco prejuízo”.

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