Reformada diz a Passos que “bate sempre na tecla da bancarrota”

Passos e Portas agitam o fantasma das “asneiras” do PS e líder do CDS faz depender o crescimento da economia da “estabilidade política” que os portugueses escolherem a 4 de Outubro.

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Daniel Rocha

Foi da voz de uma reformada da função pública que Pedro Passos Coelho ouviu o queixume: “Bate sempre na tecla” de ter encontrado o país na bancarrota para se justificar pela austeridade e pelos cortes nos salários e pensões.

Augusta, de 73 anos, interpelou o líder do PSD e também primeiro-ministro quando este chegava aos bombeiros de Paço d'Arcos para um almoço de campanha, para lhe “dizer das boas” e se queixar do “corte” na sua pensão, do desemprego que afectou o filho durante ano e tal, do corte no salário da filha que é funcionária pública e tem duas crianças a cargo, por ter passado a pagar IRS, por ter passado a pagar taxa moderadora em exames apesar de ser diabética.

Durante quase dez minutos, Passos Coelho e Augusta travaram-se de argumentos, ele a insistir que todos tiveram que contribuir nos sacrifícios, ela a queixar-se da austeridade e a questionar o que o primeiro-ministro tem contra os reformados e os funcionários públicos. Num diálogo que em algumas passagens fazia lembrar uma rubrica humorística, com ambos a falar ao mesmo tempo e sobre coisas diferentes ou a teimarem insistentemente – Augusta a dizer que tem a pensão cortada, Passos a responder que já não e a perguntar qual é o valor da pensão – uma, duas, cinco, oito vezes.

“A senhora não tem nenhum corte na sua pensão porque já não há qualquer corte nas pensões”, repetiu várias vezes o líder do PSD tentando desmontar a mensagem insistente de Augusta. “Tenho sim, ganho mais do que o salário mínimo por isso tenho. Quer que lhe vá buscar o papel? Moro aqui perto”, prontificou. Passos justificou que passamos por um tempo de quase bancarrota. “Os senhores batem sempre com essa tecla, já viu?”, ripostou Augusta, que até confessou já ter gostado de Passos.

Augusta atirou-lhe depois com os banqueiros, o Banif e o BPN – que podiam ajudar a pagar a crise -, lembrou-lhe “o nosso amigo Dias Loureiro”. “Quem é que nacionalizou o BPN?”, pergunta Passos. “Foram vocês.” “Não, foi o Governo de José Sócrates”, respondeu Passos, que acrescentou que “estas conversas podem ser esclarecedoras”.

Aos jornalistas, no final, haveria de desdramatizar: “Procuro, em todo o lado, falar com as pessoas, nunca evito trocar opiniões e responder às pessoas que têm queixas, ou que não gostam de nós, ou que têm outra perspectiva política. Uma boa campanha deve reflectir tudo isso. Responder dá autenticidade à nossa campanha.”

Perante a reformada da função pública, salientou que o Governo alargou a isenção das taxas moderadoras para jovens, baixou o preço dos medicamentos e aumentou a dedução do IRS para famílias com crianças e idosos a cargo. “Todos pagaram mais IRS para ajudar a pagar as contas do passado, mas estão a pagar menos, vamos remover a sobretaxa.” Augusta lá disse que ela fala por ela e desfaz o rosário das queixas. “Se todos só nos queixássemos da crise não saíamos dela…” criticou Passos.

“É hoje…”, tinha suspirado Augusta quando perguntara aos jornalistas quem aí vinha. E cumpriu. “Não podia morrer sem as ouvir, e agora disse-lhe”, justificou, no final, já Passos entrava no edifício, depois do diálogo entre ambos.

No almoço, perante cerca de duas centenas de pessoas – apoiantes, empresários e outras personalidades de Oeiras -, tanto Passos como Portas agitaram o fantasma das “asneiras” do PS. Paulo Portas navegou pelos indicadores económicos, criticou a governação socialista e disse esperar que os portugueses “confirmem a estabilidade política no dia 4 de Outubro para que se confirme a estabilidade de crescimento da economia”.

Portas havia ainda de justificar a opção pela concessão dos transportes públicos na área metropolitana de Lisboa com a quantidade de greves que os trabalhadores têm feito. Em quatro anos, especificou o líder do CDS-PP, houve na região 1073 pré-avisos de greve nas empresas públicas de transportes. Realçando considerar que a greve “é um direito constitucional”, aconselhou a que se “compare o que se passa com as zonas em que os transportes urbanos estão concessionados e não há greves e em que as pessoas podem organizar as suas vidas. “Há um sindicalismo tão político e tão agressivo e pode desorganizar a vida das pessoas sistematicamente todas as manhãs e todas as semanas.”

Passos Coelho insistiu que a economia “começou a crescer no primeiro trimestre de 2013”, falou na atenção do Governo às questões sociais e voltou a pegar num tema que tem feito guerra nos últimos dias com o PS. Que não, não foi o PSD quem chamou a troika. “Eu não escolhi esse ponto de partida. Eu não fui responsável nem posso ser responsabilizado pelo tempo de 2011.”

Defendeu que a direita “não quer voltar ao passado” e às “aventuras” do PS. “Nós sabemos o que queremos, o que conseguimos, sabemos para onde queremos ir. Mas também sabemos o que não queremos e para onde não queremos ir.”

“Como chefe do Governo hoje encaro os portugueses, aqueles que gostam de mim e os que não gostam, os que votaram em mim e os que não votaram - nem em mim, nem no doutor Paulo Portas - há quatro anos e posso encará-los com as costas direitas e a cabeça levantada”, vincou Passos que ontem teve um dia de campanha sem protestos organizados. Defendeu que a direita “não quer voltar ao passado” e às “aventuras” do PS.

À tarde, Passos voltou a uma expressão que lhe é cara. Durante a visita a uma empresa do sector do bacalhau, do grupo Riberalves, na Moita, o líder da coligação desvalorizou as eleições afirmando que “não são o fim do mundo”. Disse preferir ter as “propostas certas do que andar a correr atrás de foguetes, prometer tudo para ganhar as eleições e depois ter de amargar no dia a seguir”. “Prefiro perder as eleições do que ganhar de qualquer maneira e depois passar uma factura demasiado cara aos portugueses", insistiu.

A tarde de campanha terminou no Seixal, onde visitou a Siderurgia Nacional acompanhado por Maria Luís Albuquerque, cabeça de lista por Setúbal, e os centristas Nuno Melo e Nuno Magalhães. Em quatro anos como chefe do Governo nunca visitara a empresa que foi privatizada em 1995 a uma companhia espanhola. A manhã havia começado com uma visita ao Centro Social e Paroquial de Famões (Odivelas), inaugurado em 2011 pelo centrista Pedro Mota Soares. Depois do fim-de-semana com protestos, Passos Coelho.

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