Um outro Setembro nas voltas do mundo

Entre o drama dos refugiados e um novo alento dos extremismos, o 11 de Setembro ficou na obscuridade.

Não foi por esquecimento, que tal momento nunca se esquece, mas este ano foram raras as referências na imprensa nacional e internacional ao 11 de Setembro de 2001. É certo que passaram 14 anos, o aniversário não perfaz sequer número “redondo” (só em 2016) e poucos ou nenhumas iniciativas públicas surgiram a assinalar a data. Estranhamente, ela acabou por ser marcada por um acidente gravíssimo: a queda de uma grua na Grande Mesquita de Meca, na Arábia Saudita, fazendo mais de uma centena de mortes no local mais sagrado do Islão. Em 2001 um abominável crime, em 2015 uma terrível tragédia.

Mas nos catorze anos em que se vaticinou que o mundo mudaria após os atentados em Nova Iorque, muita coisa mudou verdadeiramente. Hoje sabemos, e já não de forma empírica, o que custou ao mundo a aventura pretensamente “civilizadora” de George W. Bush, crente na implantação da democracia em efeito dominó. Houve esse efeito, sim, mas no multiplicar dos extremismos. Caíram ditadores, por acção dos seus povos, nas chamadas primaveras árabes, mas as feridas do passado e os erros crassos praticados no Iraque não serviram de estímulo senão a novos confrontos e guerrilhas. Os poderes pulverizaram-se, as instituições diluíram-se ou foram destruídas, e do que ficou nasceu um caos intermitente com raros oásis de estabilidade e esperança. Onde dominava o terror da Al-Qaeda impuseram-se e organizaram-se, depois da morte de Bin Laden pelos EUA (já com Obama na Casa Branca) grupos de fanáticos que passaram a atacar em diversas frentes e latitudes, semeando o terror um pouco por todo o lado. O chamado Estado Islâmico, erguido no caos reinante, foi a mais acabada cristalização do fanatismo a pretexto do Islão nascido no rasto dos perigosos devaneios de W. Bush.

Hoje, num mundo que sempre teve refugiados e deslocados aos milhões, o êxodo sírio rumo à Europa não pode desligar-se dessas guerras que o mundo que se diz civilizado alimenta continuamente com armas, recebendo depois com relutância os seus destroços. A chamada crise dos refugiados, a que a Europa deve responder humana e prontamente para que estanquem as vítimas e haja acolhimento apropriado aos muitos milhares em fuga, coincide com o renascer, nessa mesma Europa aonde aportam, de extremismos de sinal contrário. Desde os movimentos neonazis que, exibindo suásticas, fazem da aluta contra os refugiados a sua mais recente bandeira de ódio, até à ascensão de líderes e movimentos de extrema-esquerda ou dela próximos, com projectos de poder mas ainda com resultados pouco animadores, governativos ou eleitorais, como o Syriza, na Grécia ou o Podemos, em Espanha. A vitória de Jeremy Corbyn no Reino Unido, entregando a liderança do Labour a um “velho socialismo” que já muitos criam morto e enterrado, é outro passo na afirmação dos populismos ou extremismos e não faz augurar melhores resultados que os seus precedentes. É a ilusão em vez do sonho. E, já dizia Fernando Pessoa, “saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos”.

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