Cavaco apela a que todos votem "independentemente de futebóis"

Chefe de Estado afirma que pré-campanha está a ser menos crispada e tensa do que em 2011.

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Cavaco vai doar parte da sua biblioteca Daniel Rocha

O Presidente da República, Cavaco Silva, disse nesta sexta-feira ter ficado "surpreendido" com a marcação de jogos de futebol no dia das legislativas, mas apelou a que ninguém deixe de votar "independentemente de futebóis ou de qualquer outro desporto ou outro evento".

"Fiquei surpreendido que se tenha quebrado esta tradição de não ocorrerem jogos de futebol no dia das eleições. E, tendo eu anunciado o dia da eleição no dia 22 de Julho, nessa altura pensei que os organismos do futebol e os clubes conseguiriam encontrar calendários adequados para que a tradição se mantivesse", afirmou Cavaco Silva, em Setúbal.

E deixou um apelo a todos os portugueses para que não deixem de votar: "Podem ir [ao futebol], mas antes ou depois não deixem de exercer o seu direito de voto, porque o que está em causa no nosso país é muito, muito importante.”

Recordando igualmente que na mensagem que dirigiu ao país a 22 de Julho sublinhou que "era altamente desejável" que, depois das eleições, Portugal tivesse "um governo com apoio maioritário na Assembleia da República", insistiu que o julgamento cabe aos eleitores a 4 de Outubro.

"Por isso, independentemente de 'futebóis' ou de qualquer outro desporto ou outro evento, não deixem de ir votar", repetiu, considerando que "os portugueses vão fazer um esforço para conciliar o seu entusiasmo futebolístico com a responsabilidade que lhe cabe ".

Na semana passada foi anunciado que Benfica, FC Porto e Sporting vão jogar na sétima jornada da I Liga portuguesa de futebol, a 4 de Outubro.

Na altura, contactado pela Lusa, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) afirmou "que a lei não proíbe as actividades normais e correntes" no dia das eleições. Contudo, "tem havido a opinião consensual de que não é adequado" a realização de jogos de futebol no mesmo dia e, em 40 anos de democracia, esta será a primeira vez que tal acontece em dia de eleições para a Assembleia da República. "Diria que é pouco sensato misturar as duas coisas. Não é proibido, mas não é recomendável", frisou João Almeida.

Esta terça-feira, no fim de uma sessão plenária da CNE, João Almeida reiterou a posição. "A Liga deu as razões por que manteve os três jogos [do Benfica, do FC Porto e do Sporting]. Continuamos a entender que não deveria haver eventos com grande aglomerado de pessoas e que obriguem a deslocações para longe das áreas de residência.”

A CNE desaconselhou a realização de eventos do género em dias de eleições, pois, além de poderem contribuir para a abstenção, podem causar "problemas sérios devido à proximidade dos jogos às assembleias de voto".

Casos judiciais
Em Setúbal, Cavaco Silva considerou ainda que o período de pré-campanha está ser menos crispado e tenso do que nas eleições anteriores e espera que os casos judiciais fiquem fora da campanha.

"Comparando com campanhas anteriores, parece muito claro que o nível de crispação e de tensão é muito menor. Esta é a fase em que cabe aos partidos políticos explicar e esclarecer os portugueses sobre os seus programas e espero que se continue a fazer isso com serenidade", afirmou.

Questionado sobre se não teme que as questões de Justiça possam perturbar o debate eleitoral, corroborou o que "de forma sensata todos os agentes que participam nesta campanha têm dito” – que "os casos judiciais pertencem à Justiça".

"Não comento qualquer caso judicial e espero bem que aquilo que tem sido o comportamento bastante generalizado dos agentes políticos se mantenha até ao fim da campanha", frisou. Cavaco escusou-se ainda a comentar o facto de o antigo primeiro-ministro José Sócrates ter sido várias vezes referido no debate entre o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, e o secretário-geral do PS, António Costa, com o argumento que não fará "qualquer declaração que possa ser vista como tendo incidência na campanha eleitoral". Cavaco Silva, que remeteu para os comentadores políticos o "julgamento" do frente-a-frente, revelou que viu apenas "uma parte do debate".

Ainda sobre o tom em que está a decorrer a pré-campanha, e quando questionado sobre se uma eventual moderação pode indiciar um caminho para o consenso, o chefe de Estado disse acreditar que todos vão "aprendendo alguma coisa nesta matéria".

"Eu próprio no dia 22 de Julho, quando fiz uma comunicação ao país, fiz um forte apelo a que as forças políticas se empenhassem acima de tudo no esclarecimento dos portugueses e que deixassem de lado as crispações, os insultos, as tensões e penso que até este momento isso está a verificar-se de alguma forma. Agora devemos aguardar com serenidade a chegada do dia 4 de Outubro", defendeu.

Para o Presidente, só no período pós-eleitoral é que se conhecerá a posição de cada um dos partidos, recorrendo ao exemplo de outros países europeus: "Há uma campanha de esclarecimento durante o tempo fixado na lei, mas depois o que é normal e tem acontecido em todos os países da Europa é que cada um coloca sobre a mesa os seus programas eleitorais e tentam fazer os respectivos ajustes no caso de ninguém conseguir a maioria absoluta."

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