Os efeitos do debate Passos-Costa

Com o jogo totalmente aberto, a vantagem é de quem tiver coragem de mudar.

Pedro Passos Coelho não ganhou nada com o debate e, pelo contrário, comprometeu toda a estratégia da coligação; António Costa não perdeu nada e, pelo contrário, deu ao PS o suplemento de força anímica que a máquina partidária necessitava com urgência. Assim saíram os dois candidatos a primeiro-ministro do único confronto televisivo em que se sujeitam à avaliação dos portugueses antes da votação de 4 de Outubro. Supondo que o estado-maior de cada campanha não é autista, isso significa que as dinâmicas políticas internas devem sofrer alterações.

Os socialistas, aturdidos pelo súbito de regresso do fantasma Sócrates, perdidos num limbo de sondagens desencorajadoras e abalados pela convicção crescente de que seria muito difícil vencer as eleições, precisam, agora, de aproveitar a enorme janela de oportunidade aberta pela boa prestação de Costa. Essa janela tem um nome, indecisos, e, embora seja impossível determinar se o debate contribuiu para muitos ou poucos decidirem o seu voto, parece óbvio que, dos dois líderes, foi Costa o que mais se esforçou por captar a sua atenção. Com um programa mais concreto na desmontagem do guião da maioria e gerindo bem as jogadas de contra-ataque que levava no bolso, como quando exibiu o gráfico sobre a cobrança de impostos ou quando arrasou o programa VEM, de apoio ao regresso dos jovens emigrantes. Mas este debate teve um outro efeito importante no campo socialista: potenciou a fixação do voto tradicionalmente PS, que ameaçava fugir para partidos mais à esquerda, como o Livre ou o Bloco. Como vai a máquina dirigida por António Costa responder a estes desafios será o desafio dos próximos dias.

Quem vai ter de mudar quase tudo é a coligação à direita. Fruto dos erros cometidos por Passos no frente-a-frente com o líder do PS e de uma estratégia que tinha tudo para sucumbir ao primeiro percalço. Só a catadupa de falhas que Costa foi acumulando ao longo da pré-campanha estava a permitir o autêntico passeio eleitoral deste corpo inerte, sem programa e ainda por cima pouco dado a explicações aos portugueses, que dá pelo nome de Portugal à Frente. Veja-se como se arrastou até ao último minuto toda a definição sobre listas e programa, como este é totalmente omisso em matéria de quantificação ou concretização de políticas e, finalmente, atente-se nas objecções e incidentes em torno da realização dos debates. Além desta vacuidade deliberada, acresce que Passos foi tão inábil no debate, que ajudou Costa a tirar de cena o maior esqueleto do armário socialista: José Sócrates. Doravante, qualquer tentativa de o trazer de volta por parte da coligação vai ter o efeito contrário ao pretendido. O drama para PSD e CDS é que construíram uma campanha assente em quase nada. O passado é importante, ajuda a explicar o presente e as condicionantes do futuro, mas a falta de esperança não é mobilizadora. A coligação vai ter muito em que pensar nos próximos dias.

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