Fisicamente, nem Passos nem Costa cometeram “grandes erros”

O especialista em comunicação corporal Rui Mergulhão Mendes diz que, deste ponto de vista, não houve um vencedor no debate. Mas, sobretudo, “não houve um grande derrotado”.

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Enric Vives-Rubio

Pedro Passos Coelho não conseguiu evitá-lo: no primeiro e último debate a dois com o seu principal oponente, o socialista António Costa, o primeiro-ministro começou com “desprezo”. É uma das suas características “negativas”, a “expressão simétrica da face”, que denota a forma enfadada com que encara os adversários e os argumentos com que é confrontado.

Costa, por outro lado, entrou “mais nervoso, a falar mais rápido, mais disposto ao despique”. É ele quem desafia Passos em São Bento, é ele quem não tem conseguido descolar nas sondagens depois de quatro anos de austeridade e é ele que tem a sombra de Seguro. Precisou de tempo para se equilibrar e crescer no debate. E cresceu, garante Rui Mergulhão Mendes.

Este especialista em linguagem corporal, numa breve análise aos aspectos não verbais do debate, diz ao PÚBLICO que “nenhum dos candidatos cometeu grandes erros” e, mais do que a ausência de um vencedor, destaca que “não houve nenhum grande derrotado” na noite desta quarta-feira no Museu da Electricidade, em Lisboa.

Mergulhão Mendes recorda que o primeiro grande debate político televisionado, o célebre Kennedy vs Nixon, em 1960, custou a derrota ao candidato republicano naquela eleição norte-americana – que apareceu tenso, nervoso e suados aos telespectadores. Neste Passos vs Costa, ambos os candidatos “pareceram confiantes”.

“No geral, foi um debate com respeito e os candidatos foram congruentes entre o que disseram e a comunicação não verbal”, diz. “O grande momento de crispação aconteceu, talvez, quando António Costa apontou o dedo em riste. Pedro Passos Coelho reagiu.” De qualquer forma, alerta Rui Mergulhão Mendes, “há aspectos a melhorar”.

O especialista nota que o desemprego e a Segurança Social eram temas difíceis para Passos Coelho – no primeiro caso, “afastou tanto as mãos que elas desapareceram do ecrã”; no segundo, “projectou o corpo para a frente, o queixo”, desconfortável. Por vezes fazia asserções afirmativas que negava com a cabeça. “As pessoas não sabem se acreditam no que estão a ouvir ou no que estão a ver.” Por outro lado, quando falou sobre a troika, o seu comportamento demonstrava querer “pacificar um tema de confronto”.

Quanto a António Costa, Mergulhão Mendes registou “várias hesitações” na resposta à pergunta sobre se se arrependia de algo que tivesse dito ou feito no último ano. Respondeu “confiante, mas olhando sempre para o lado”. “Não deu informações fidedignas.”

Agora, segue-se a campanha, os comícios, a rua. E, aí, Passos está em desvantagem, acredita Mergulhão Mendes. E explica: “António Costa comunica muito melhor na rua. Passos Coelho curva-se, fecha-se – talvez devido à sua altura –, e isso é mau. Se for esperto, pode apanhar uma boleia de Paulo Portas, que é um animal da comunicação.”

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