Neste centro de refugiados, eles são esculturas em movimento

Catarina Martins visitou o Centro de Acolhimento para Refugiados, na Bobadela, e admitiu que a Alemanha deve ser “um exemplo” para outros países que continuem a “hesitar” nas suas responsabilidades.

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Enric Vives-Rubio

Enquanto toca a música, eles circulam pelo palco do auditório. Quando ela pára, eles param também e ficam estátuas. São esculturas num jogo que implica uma interacção entre o grupo, vão-se esculpindo uns aos outros. Ainda percebem pouco português, mas naquela aula de expressão dramática a primeira comunicação é a do corpo. Eles são um grupo de cerca de 20 refugiados e não conseguem conter as gargalhadas quando a encenadora lhes pede que dêem um salto e um grito, como quem apanha um susto.

Ao mesmo tempo que decorria esta aula no Centro de Acolhimento de Refugiados da Bobadela, a porta-voz do Bloco, Catarina Martins, visitava estas instalações situadas em Loures. Antes, a comitiva do BE esteve reunida com a directora do centro, Isabel Sales.

No final, aos jornalistas, Catarina Martins reconheceu que o Governo português, que “começou por regatear o número de refugiados”, finalmente compreendeu que “também tem de assumir esta responsabilidade solidária”. Portugal deve “ser uma voz activa para que seja possível distribuir todos os refugiados pelos países europeus”, defendeu.

Catarina Martins deu um exemplo e fez as contas: “Um município tão pequeno como Penela já se ofereceu para receber 20 refugiados. Imaginem que cada município, e há outros maiores, pode receber 20 refugiados, daria bem mais de seis mil refugiados”, afirmou.

Para a líder do Bloco, é necessário garantir o acolhimento dos refugiados “o mais depressa possível” e nas melhores condições. Para isso, “é preciso ter um plano a nível nacional”, com o apoio das autarquias: “E tantas autarquias já se disponibilizaram… Não podemos continuar com declarações, é preciso passos concretos, porque não é possível acolher este número de refugiados num só centro, temos de ter as equipas que já se disponibilizaram, as autarquias, prontas, com a formação e o apoio necessários”, disse, frisando ainda que, havendo apoio comunitário, é “uma questão de vontade política”.

Embora ressalvando que não acompanha totalmente a Alemanha “na forma como olha” para esta crise, Catarina Martins admitiu que “o governo alemão foi o primeiro a reconhecer a necessidade de acolher refugiados em número maior e, desse ponto de vista, deve ser um exemplo para outros países que continuem a hesitar” nas suas responsabilidades.

“Nós não podemos continuar a ter pessoas a afogarem-se no Mediterrâneo ou a serem vítimas de traficantes”, disse a porta-voz do Bloco, lamentando ainda que “a França e a Grã-Bretanha se preparem para fazer bombardeamentos nos mesmos países de onde estas pessoas fogem de bombardeamentos”. Para Catarina Martins, “a lógica de bombardeamentos não protege estas pessoas, só criará mais vagas de refugiados”. Por isso, defende: “Portugal deve ter uma voz forte, denunciando e opondo-se a esta estratégia”.

A porta-voz do BE falava à porta deste centro que, segundo avançou a directora, tem capacidade para 42 pessoas, mas que acolhe neste momento o dobro – 80 e de várias nacionalidades, a maioria das quais do Paquistão e da Ucrânia. Além destas 80 pessoas, Isabel Sales notou que apoiam outras que estão em alojamento externo.

A pedido dos responsáveis do centro, a nacionalidade das pessoas que faziam pela primeira vez a aula de expressão dramática não é revelada. Apesar de ainda não entenderem bem português, já percebem algumas palavras que a encenadora lhes diz. Assim que ouvem os verbos caminhar, beber, comer, caçar, pintar ou voar fazem o gesto correspondente. Atrás deles, na parede do auditório, lê-se: “Pessoas comuns forçadas a fugir”.

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