Taxistas ameaçam com novos protestos caso a Uber não acabe

Centenas de carros desfilaram em Lisboa, Porto e Faro numa longa marcha lenta que lançou o caos no trânsito. Em Lisboa houve agressões a quem não aderiu. Na loja portuguesa de aplicações da Apple, a aplicação da Uber subiu ao primeiro lugar na lista das mais populares.

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Os taxistas acusam a Uber de concorrência desleal Diogo Baptista
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No protesto do Porto participam mais de 800 carros Diogo Baptista
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Em Lisboa também é grande a mobilização Bruno Lisita
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Aos taxistas que furaram o protesto foram atirados ovos Bruno Lisita
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Vieram de todo o lado. Porto, Matosinhos, Gaia, Valongo, Braga, Santo Tirso, Viana do Castelo, Valença, Santa Maria da Feira. Foram mais de 800 os táxis que circularam na manhã e tarde desta terça-feira nas principais ruas e avenidas da cidade do Porto — auto-estradas incluídas — para sensibilizar a população para uma luta que, diz José Monteiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), é de toda a justiça: “Só queremos que se cumpra a lei”.

Em Lisboa terão sido perto de 3000, segundo a principal associação de taxistas do país, com o protesto a terminar pelas 16h30 depois de os representantes da ANTRAL se terem reunido com a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz.

Dirigindo-se aos taxistas no Terreiro do Paço, o líder da ANTRAL, Florêncio de Almeida, manifestou-se satisfeito com o encontro, mas avisou que, se as coisas não forem resolvidas a favor do sector do táxi, haverá novos protestos.

Florêncio de Almeida diz que a contestação dos taxistas “nada tem a ver com a campanha eleitoral” mas, caso a Uber não acabe, vão surgir protestos durante a campanha para legislativas de 4 de Outubro.

As manifestações desta terça-feira em Lisboa, Porto e Faro e a marcha lenta de centenas de veículos lançaram o caos no trânsito à medida que o cortejo de táxis ia passando pelas cidades. A situação não era melhor nos aeroportos de Lisboa e Porto, onde os turistas se foram acumulando desde a manhã sem táxis que os levassem aos locais de destino.

Ao contrário do que se passou em França, onde as manifestações contra a Uber degeneraram em violência, os protestos desta terça-feira em Portugal decorreram quase sem incidentes. Apenas na capital se registaram pequenas escaramuças, com agressões a taxistas que não aderiram ao protesto e o arremesso de ovos aos carros dos profissionais que não se manifestaram.

A adesão no Porto “foi muito elevada”, como vaticinou o vice-presidente da ANTRAL, ainda antes do primeiro carro, o dele, sair escoltado pela Divisão de Transito da PSP (que mobilizou para esta operação praticamente todo o seu dispositivo) da Praça Gonçalves Zarco para começar a subir a Avenida da Boavista. “Tanto os patrões de táxi como os funcionários sabem que esta luta é justa”, disse José Monteiro.

O primeiro carro saiu às 9h20. O graduado da PSP da Divisão da Trânsito, que tinha como função fechar a coluna, começou a subir a Avenida da Boavista já passava das 9h45. Foram 20 minutos de buzinões e o troço norte da Avenida da Boavista a encher-se nas duas faixas, rumo ao centro da cidade.

A expectativa era não criar confusões. “Não somos arruaceiros”, dizia Aníbal Dias. “Viemos lutar pelo que é nosso”, resumia João Polónia, motorista de táxi “desde 1969”.

O percurso previsto, com início na Avenida da Boavista, passagem na Avenida dos Aliados e no Aeroporto Francisco Sá Carneiro e fim na Praça Gonçalves Zarco, tomou toda a manhã desta terça-feira. Um forte dispositivo policial foi mobilizado para acompanhar o cortejo de protesto dos taxistas. Para além da Divisão de Trânsito da PSP e da Brigada de Trânsito da GNR (que acompanhou o percurso nas auto-estradas A4, A28 e VRI), também o corpo de intervenção da PSP mobilizou várias unidades móveis. O aeroporto do Porto foi um dos locais onde foi montado um forte dispositivo de agentes em prevenção.

Ovos contra taxistas em Lisboa
Em Lisboa, o presidente da ANTRAL, Florêncio de Almeida, apelou a um protesto pacífico, referindo ao PÚBLICO que os taxistas iriam “dar uma lição de moral aos profetas que disseram” que a classe é “violenta”. Aos manifestantes, através de um megafone, o dirigente pediu “que a manifestação decorra de uma forma ordeira e pacífica”. No protesto em Lisboa terão participado perto de três mil profissionais, estima a ANTRAL.

A marcha começou na zona Norte do Parque das Nações, às 8h em ponto, e chegou por volta das 10h à Portela. Cerca das 12h30 o desfile seguia pela Avenida da República, com muitos buzinões mas tudo a decorrer de forma ordeira. Após uma passagem pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), na Avenida das Forças Armadas, os taxistas rumaram depois ao Ministério da Justiça, no Terreiro do Paço. Questionados sobre o que poderá acontecer se o Governo alterar a lei a favor da Uber, os profissionais respondiam de forma peremptória: “Se o Governo mudar a lei vai haver mortos”, atirou um taxista apoiado por vários outros.

José Augusto Brandão, 44 anos e 25 ao volante de um táxi, conta ao que veio: “Esta manifestação é para contestar as medidas que o Governo não tomou. Há problemas nos transportes em geral, mas este é muito grave para o sector”, dizia o taxista junto a um cartaz onde se lia “Contra o transporte à margem da lei e por uma concorrência justa”. Zico Lampreia, 32 anos de idade e seis de táxi, concordava: “Queremos parar a cidade. Isto está acabar com o nosso negócio. É preciso as pessoas saberem o que se passa”.

Já no Terreiro do Paço, os representantes da ANTRAL recusaram ser recebidos pelo chefe de gabinete do Ministério da Economia e esperavam às primeiras horas da tarde chegar ao contacto directo com a ministra da Justiça, a quem pretendiam entregar um dossier com todo o processo na justiça contra a Uber. O presidente da associação disse logo nessa altura ao PÚBLICO que a manifestação fora um sucesso e tinha cumprido o seu objectivo.

Os serviços UberX e UberBlack, pedidos através de uma aplicação móvel que estabelece ligação entre o cliente e um motorista privado ou ao serviço de empresas parceiras da Uber, opera em Lisboa há um ano e há nove meses no Porto. Numa reacção que não é exclusiva a Portugal, a empresa criada nos Estados Unidos e com actividade em mais de 70 países tem enfrentado processos judiciais que contestam a forma como desenvolve a sua actividade.

Uber responde na Internet
Os taxistas de Faro também se manifestaram nesta terça-feira, num protesto que visava alertar a opinião pública para estas questões. Nas últimas semanas, têm-se registado casos de insultos de taxistas a motoristas que transportam passageiros que usaram a aplicação móvel.

No mesmo dia em que os taxistas portugueses se manifestaram a Uber lançou o #WHYIUBER, um projecto em formato vídeo onde utilizadores e motoristas podem partilhar as suas experiências de utilização da plataforma móvel. Segundo a empresa, foram recolhidos até agora mais de 700 testemunhos, muitos dos quais estão reunidos numa série de vídeos que também já estão disponíveis no YouTube.

A empresa enviou também um e-mail a todos os seus utilizadores em Portugal alertando-os para o acréscimo de pedidos de viagens com a Uber neste dia em que muitos táxis estiveram parados, o que poderia “limitar a disponibilidade de veículos em certos períodos” e “prolongar o tempo de circulação dos veículos nas cidades”.

Na loja portuguesa de aplicações da Apple, a aplicação da Uber subiu esta esta terça-feira ao primeiro lugar na lista das mais populares. Não figura, contudo, na lista das mais populares para telemóveis com Android. A empresa, como habitual, escusou-se a revelar números. "A Uber não desvenda valores e números de utilizadores e carros parceiros por questões concorrenciais", afirmou, em resposta a um pedido do PÚBLICO. 

 

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