Psicadelismo açucarado

Cate Le Bon e Nick Murray, dos White Fence, num exercício de nostalgia púrpura.

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Drinks: irresistível para fãs do psicadelismo circa 1960

É difícil resistir ao charme de Cate Le Bon, diva da pop indie com um delicioso sotaque afrancesado no seu inglês — e mais ainda quando ela se junta a Nick Murray, dos White Fence, para formar uma nova banda. Reunião assim pode alimentar expectativas demasiado elevadas, mas calma, correu tudo bem: temos aqui um belíssimo exemplar de psicadelismo, que lembra os exercícios que bandas como os Stereolab, os Broadcast ou os Young Marble Giants faziam de reconfiguração do material tóxico deixado pelos Silver Apples ou pelos Faust. Canções minimais, baseadas num riff repetitivo de guitarra eléctrica e em breaks de bateria sempre imaginativos, ocasionalmente pontuadas por órgãos retro.

Há dois momentos absolutamente sublimes: Hermits on holiday (a canção) e Split the beans. Em ambos os casos, a descrição acima aplica-se na perfeição. Hermits on holiday é mais Young Marble Giants, tão esparsos são os arranjos (uma guitarra, uma percussão e a voz grave de Cate Le Bon): a classe vê-se no momento em que o baixo entra na canção, criando todo um novo balanço e desaguando num refrão delicioso, com xilofones a iluminarem a melodia (um truque que os Stereolab também usavam). Split the beans, lenta e açucarada, é ainda mais bela. 

Resumindo: Hermits on Holiday não é o Santo Graal, mas é irresistível para os fãs do psicadelismo dos anos 1960.

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