Nem 700 dias chegam para os desempregados do têxtil encontrarem emprego

Os desempregados deste sector são os que, em média, ficam mais tempo inscritos nos centros de emprego. Os quase dois anos comparam com os 411 dias de inscrição para o total dos desempregados que procuram um novo emprego.

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Adelaide Carneiro

Os desempregados do sector têxtil são os que permanecem mais tempo nos registos do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Em Junho, os antigos trabalhadores deste sector levavam, em média, quase dois anos (714 dias) até encontrarem trabalho, ou então, verem a sua inscrição no centro de emprego anulada. Este é um período de espera muito superior aos 411 dias apurados para o total dos desempregados inscritos no IEFP e que também procuravam um novo emprego.

Os dados solicitados ao IEFP mostram que a duração do desemprego varia consoante o sector de actividade. A procura revela-se mais penosa e com tempos de espera superiores à média para os desempregados que, além da fabricação de têxteis, antes trabalhavam na indústria do mobiliário, do vestuário, da madeira e cortiça e em actividades sem classificação. Em termos relativos, porém, a soma dos desempregados destes cinco sectores representava 7,7% das 452 mil pessoas que em Junho estavam registados no IEFP à procura de um novo emprego.

No pólo oposto, ou seja, com períodos de inscrição inferiores à média e com um peso muito maior no total de inscritos, destacam-se os desempregados que antes trabalhavam em actividades imobiliárias, administrativas e de serviços de apoio; de comunicação e informação; financeiras; no alojamento e restauração e na administração pública (nas áreas da saúde, educação e apoio social). As pessoas oriundas destas áreas passam por períodos de inscrição inferiores a 400 dias e representavam quase 42% do total.

O longo tempo de espera nem sempre culmina com a reentrada no mercado de trabalho. Há outras razões que ditam o fim da inscrição nos centros de emprego, nomeadamente a falta às convocatórias ou às apresentações quinzenais obrigatórias e a recusa de propostas de emprego ou de frequência de acções de formação.

Osvaldo Pinho, secretário-geral do Sindeq (o sindicato da UGT que representa os sectores do têxtil, calçado, químico e farmacêutico), adianta algumas explicações para que o têxtil e o vestuário estejam entre as actividades de origem dos desempregados que têm mais dificuldades em voltar a trabalhar. Depois da "grande reestruturação do sector" a que se assistiu no passado, "tem havido uma recuperação do emprego em alguns subsectores, mas normalmente essa recuperação é feita à custa de menos trabalhadores e mais qualificados".

"As empresas preferem trabalhadores mais novos e não os que estão inscritos nos centros de emprego, normalmente de baixas qualificações e ligados a empresas que fecharam", acrescenta. Osvaldo Pinho reconhece também que muitos destes desempregados levam o subsídio de desemprego até ao fim, devido à falta de incentivos para que passem à actividade.

Uma situação que João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), também identifica. Os números, diz, são o resultado de dois fenómenos. Por um lado, "muitas das pessoas que estão no desemprego são mais velhas e poderão não estar muito aptas para as necessidades das empresas nas condições actuais", e, por outro, "há alguma falta de disponibilidade das pessoas para encontrarem emprego e para aprenderem".

Ou seja, refere o presidente da ATP, os números parecem indiciar uma contradição: há mão-de-obra disponível, mas os empresários dizem que têm dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar.

"Muitas pessoas preferem manter-se até ao limite com o subsídio de desemprego", porque, em média, o salário oferecido (em algumas áreas) não é assim tão diferente do que recebem no desemprego e fazem as contas aos custos inerentes aos transportes ou à escola onde têm de colocar os filhos se forem trabalhar. "Se a distância entre o salário e o subsídio fosse maior era mais fácil que as pessoas aceitassem", adianta João Costa, acrescentando que o sector está sujeito à concorrência internacional o que dificulta a subida dos salários.

Mas o sector do têxtil e do vestuário é vasto e, garante, há lugar e salários melhores para trabalhadores especializados e que estejam disponíveis para aprender. E destaca as áreas do têxtil-lar e dos têxteis técnicos como aquelas que têm registado desenvolvimentos assinaláveis.

Jovens com inscrições mais curtas
A idade dos desempregados também conta quando se trata de encontrar emprego. Os desempregados com menos de 25 anos levavam em média 161,7 dias a sair das listas do desemprego, enquanto o total dos desempregados registados tinham de esperar 396,7 dias, ou seja, mais do dobro.

O tempo médio de inscrição é também mais longo para os que procuram um novo emprego do que para os que procuram o primeiro emprego. No total dos desempregados inscritos no IEFP em Junho, quem procurava entrar no mercado de trabalho pela primeira vez esperava em média 269 dias, já quem pretendia um novo emprego tinha de esperar 411 dias.

No caso dos jovens, acontece precisamente o contrário, penalizando-se sobretudo a falta de experiência de quem quer entrar no mercado de trabalho. Quem procura o primeiro emprego tem pela frente um período de espera mais longo (de 189,6 dias) do que quem procura um novo emprego (123,7 dias).

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