O muro da Hungria é o próximo obstáculo para os refugiados sírios

Depois do bloqueio na fronteira da Macedónia, milhares de pessoas foram enviadas para a Sérvia, com esperança de conseguirem asilo num país da União Europeia.

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Milhares chegaram a Miratovac, na Sérvia, desde domingo Marko Djurica/REUTERS

Serão 9000. Chegaram a Miratovac a pé, por estradas poeirentas, por vezes com lenços a taparem-lhes cara por causa do pó e do calor, entre domingo e segunda-feira. Entre estes refugiados há muitas crianças de colo e mulheres grávidas. Esperam estar a chegar ao fim de uma viagem longa e desesperada, que na maior parte dos casos começou na Síria, o seu país dilacerado pela guerra. A Macedónia despachou-os à pressa num comboio para a Sérvia, depois de ter bloqueado a fronteira no fim-de-semana.

A próxima barreira que vão encontrar, atravessando toda a Sérvia, será o muro de quatro metros de altura ao longo de 175 quilómetros que a Hungria está a construir para travar a entrada ilegal de imigrantes e refugiados que buscam a União Europeia como terra de asilo. Só durante o fim-de-semana, anunciaram as autoridades húngaras, foram detidas 1256 pessoas sem autorização para entrar no país, das quais 275 crianças, relata o site Budapest Beacon.

Mas, por ora, a população de Miratovac mais do que triplicou: segundo o censo de 2002, esta localidade do município sérvio de Presevo, próximo da fronteira com a Macedónia, tem apenas 2700 habitantes, diz a Wikipédia. Ali foi montado um campo de refugiados provisório pelas autoridades locais e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) para os receber.

“Era muito difícil lá, os filhos não tinham futuro na Síria, perdi tudo. Eu sou engenheiro, a minha mulher é professora. Não tenho poupanças, não tenho emprego, já não me resta nada”, lamenta-se Talal Din, de 30 anos, um refugiado sírio que viaja há 20 dias com a mulher e os seus três filhos.

Natural de Damasco, Talal Din contou à AFP ter pago 4500 euros para que a sua família pudesse fazer a viagem entre a Turquia e a Grécia num barco de nove metros com 70 pessoas a bordo. “Foi muito difícil”, diz, recordando o caminho, a pé, entre a cidade grega de Tessalónica e a Macedónia, onde ficou bloqueado durante três dias na fronteira, debaixo de chuva, com a polícia de intervenção a cortar o passo.

Vindos da Grécia

A maré humana que levou a Macedónia a declarar o estado de emergência e a tentar fechar a fronteira foi criada porque a Grécia começou a facilitar as viagens dos muitos imigrantes que se estavam a acumular nas ilhas a que estiveram a aportar, em números recordes, durante os meses de Julho e Agosto. Foram usados até grandes navios de cruzeiro para levar pessoas para Atenas, onde apanharam transportes que os conduziram para a fase seguinte da sua viagem – a fronteira entre a Macedónia e a Grécia, onde esperavam apanhar um comboio para a Sérvia e, depois, conseguir chegar à Hungria e à União Europeia.

À Grécia chegaram pelo menos 160 mil pessoas por vias ilegais, desde o início do ano. Não são simplesmente pessoas que procuram uma oportunidade económica para melhorar a sua vida. A maioria, 85%, foge da guerra: são refugiados e mais de 60% são sírios. Neste país, umas 300 mil pessoas foram mortas desde 2011 e mais de dez milhões fugiram das suas casas para escapar à guerra.

Muitos continuam a viagem por terra para outros países da UE através da Macedónia: desde 19 de Junho, cerca de 42 mil refugiados entraram naquele país, a maioria dos quais homens, mas 5752 são mulheres e há 7000 crianças, das quais 600 sem serem acompanhadas por nenhum dos pais, segundo números oficiais daquele país, citados pela AFP.

Dos que chegaram a Miratovac nestes últimos dias, quase todas serão levados para Belgrado em autocarros fornecidos pelo ACNUR, para que possam continuar a sua viagem até à fronteira da Sérvia com a Hungria e outros países da União Europeia – que são os seus destinos pretendidos, diz o site Balkan Insight.

“Tenho um amigo que conseguiu chegar a Belgrado e com o qual me mantenho em contacto. Ele diz-me que a polícia sérvia se comporta muito bem”, conta o engenheiro Talal Din.

Ali perto, descreve a AFP, um grupo de refugiados recolhe ramos de árvores para acender uma fogueira para se aquecer em mais uma noite passada ao relento. Outros tentam lavar as roupas de forma improvisada. Outros já só conseguem pensar nos autocarros que os levarão a Presevo, e finalmente a Belgrado.

Quanto aos que já estão em Presevo, uma cidade muito maior, de 30 mil habitantes, a sua presença só se faz sentir em torno do centro de acolhimento e da estação de autocarros. “Toda a gente diz que viajar por mar é o mais perigoso, mas andar sem água nem alimentos e não saber onde se vai dormir é o mais difícil”, conta à AFP Neruda Hamud, de 25 anos, uma síria que sonha em ir para a Suécia e prosseguir os seus estudos universitários. 

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