Manifestação em Bissau em apoio do primeiro-ministro demitido

“Ninguém pode parar a vontade do povo”, disse Domingos Simões Pereira à multidão de cerca de mil pessoas.

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Domingos Simões Pereira em Lisboa numa reunião da CPLP em 2008 (Arquivo) Nuno Ferreira Santos

Apesar da chuva, cerca de mil pessoas juntaram-se na capital da Guiné-Bissau em apoio ao primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, demitido pelo Presidente na semana passada.

Com um grande atraso, a manifestação acabou por começar depois de uma acalmia na chuva intensa. E Domingos Simões Pereira falou aos manifestantes que pediram na Praça dos Heróis Nacionais a sua recondução, notando a afluência apesar do mau tempo, sinal da “confiança nas acções do Governo”.

Simões Pereira foi afastado pelo Presidente, José Mário Vaz, a 12 de Agosto. Ambos pertencem ao mesmo partido e foram eleitos após as negociações que abriram caminho a votações após um período de transição depois de um golpe militar em 2012. José Mário Vaz acusou Domingos Pereira de falta de lealdade institucional e de um conflito entre a presidência e a chefia do Governo que se tinha tornado impossível de sanar prejudicando “o bom funcionamento das instituições”.

Na praça de Bissau, Domingos Pereira, que goza de bastante popularidade, disse algumas palavras: “Com uma mobilização da sociedade civil, dos partidos políticos, as instituições da República devem respeitar a vontade do povo”, disse. “Ninguém pode parar um povo que sabe para onde quer ir.”

Os manifestantes responderam gritando as suas iniciais: “DSP! DSP!”. Alguns pediram a demissão do Presidente da República, também conhecido como Jomav, embora as intervenções na tribuna tenham sido mais conciliatórias: “Pedimos a conciliação entre DSP e Jomav. Pedimos ao Presidente Vaz que reconsidere a sua decisão”, declarou Quecuto Djauara, porta-voz de delegados do PAIGC (Partido da Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde) vindos de várias províncias.

O PAIGC, de que Domingos Simões Pereira é presidente, pediu formalmente a sua recondução na chefia do Governo. Simões Pereira contestou formalmente o seu afastamento.

Após a concentração de segunda-feira, um comunicado do partido dizia: “A nossa manifestação foi um sucesso”. Havia quem temesse distúrbios pela proximidade entre a praça e o palácio presidencial, rodeado por fortes medidas de segurança.

O Presidente tem até agora mantido o silêncio sobre o que pretende fazer. Da sua acção depende o que fará o movimento de apoio a Simões Pereira, disse à agência francesa AFP um dos organizadores, João Bernardo Vieira.

Uma associação intersindical agrupando cerca de 30 organizações profissionais dos sectores público e privado pediu uma paralisação aos seus associados, disse o líder, Filomeno Cabral, à AFP. A ideia é paralisar a administração até à readmissão de Simões Pereira.

Um dos principais medos é que a instabilidade leve a uma nova intervenção do Exército – nas últimas décadas houve nove golpes ou tentativas de golpe no país. “Observamos a situação das nossas casernas”, disse um militar, sob anonimato, à AFP. Até agora o exército prometeu não interferir.

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