PCP e BE nem vacilam com Maria de Belém: falar de presidenciais só após legislativas

BE aproveita o anúncio da socialista para atacar o PS.

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A propósito da X Convenção do Bloco, a sua prota-voz deu uma entrevista à Lusa Nelson Garrido

O facto de a socialista Maria de Belém Roseira ter anunciado que vai concorrer às eleições presidenciais não deverá alterar os calendários dos partidos à esquerda do PS. Tanto PCP como BE mantêm o que repetem há meses: falar sobre as eleições presidenciais só depois das legislativas.

Ainda assim, a porta-voz do Bloco Catarina Martins aproveitou a oportunidade para criticar os socialistas, considerando, a propósito das polémicas em torno do avanço de Maria de Belém, que se percebem melhor as diferenças dentro do PS sobre presidenciais do que as diferenças de estratégia para o país entre o programa do PS e o que PSD e CDS têm feito. 

Com esta posição – defendida, segundo o Bloco, num comício em Olhão – Catarina Martins não só ataca o PS por surgir como um partido dividido entre as candidaturas de Maria de Belém e do antigo reitor da Universidade de Lisboa Sampaio da Nóvoa, como volta à carga com a comparação entre as propostas que os socialistas e a coligação Portugal à Frente têm para o país.

Tanto BE como PCP têm centrado grande parte da sua mensagem na ideia de que o PS não oferece uma alternativa à política de direita. De tal forma que o próprio líder socialista António Costa já os acusou de estarem numa “espécie de concurso para saber quem é mais anti-PS”.

Além deste aspecto, bloquistas e comunistas estão em sintonia em termos de estratégia: nem uns, nem outros disseram ainda quem vão apoiar nas eleições presidenciais de 2016 ou se vão apresentar um candidato próprio. Não disseram, nem deverão dizer, pelo menos até 4 de Outubro, dia da ida às urnas, nas eleições legislativas.

No BE mantém-se como prioridade derrotar, a 4 de Outubro, a política de direita e de austeridade. O gabinete de imprensa do PCP enviou ao PÚBLICO uma nota exactamente na mesma linha: “Este é o momento em que o PCP dá toda a sua prioridade às eleições legislativas de 4 de Outubro que permitam contribuir para a derrota da política de direita e para a construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda.”

Só depois dessa data, o PCP “decidirá a seu tempo” sobre a intervenção nas presidenciais, “tendo em conta o decidido no XIX Congresso, no sentido de ser assegurada uma intervenção própria sobre o modo como o PCP vê e defende o exercício das funções presidenciais e de contribuir para assegurar na Presidência da República o efectivo respeito pelo juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição”. Tradicionalmente o PCP não costuma prescindir de um candidato próprio na primeira volta das presidenciais. Embora não haja ainda uma posição fechada sobre o assunto, a expressão assegurar "uma intervenção própria" poderá sugerir que em 2016 a estratégia se repita.

Nesta terça-feira em Matosinhos, Jerónimo de Sousa, reiterou que "em relação às presidenciais, o PCP intervirá de modo próprio, com o objectivo fundamental de garantir na Presidência da República alguém que cumpra e faça cumprir a Constituição". E ressalvou: “Quero garantir que imediatamente após as eleições de 4 de Outubro o PCP decidirá, porque não decidiu ainda, em conformidade com essa orientação e essa decisão", referindo-se "àquilo que é uma orientação e decisão do congresso do PCP".

Questionado sobre o anúncio de Maria de Belém, respondeu ser "mais um a seguir aos 16 anúncios já feitos, tirando aqueles que faltam ainda apresentar-se e anunciar".

Tanto no Bloco como no PCP as novidades só deverão, por isso, surgir a partir de 5 de Outubro. Para já, o único partido à esquerda que revelou a sua posição foi o Livre/Tempo de Avançar. A candidatura cidadã fez um referendo interno em Junho, com 867 votos validados, e o nome de Sampaio da Nóvoa colheu um inequívoco apoio – 87,1% dos votos.

Nesta corrida a Belém já houve, porém, um nome forte da esquerda que ficou pelo caminho: Manuel Carvalho da Silva. Depois de se ter mostrado disponível para uma candidatura à Presidência da República, o antigo secretário-geral da CGTP decidiu afinal não avançar.

Em Maio, quando foi conhecida a desistência, o ex-sindicalista negou que a decisão estivesse relacionada com falta de apoios, uma vez que, garantiu, tinha recebido mensagens de incentivo de todo o país e de diversos sectores da sociedade.

Em 2011, nas últimas eleições presidenciais que deram a vitória a Aníbal Cavaco Silva, o PCP apoiou o comunista Francisco Lopes – que conquistou 7,14 por cento dos votos –, enquanto o BE escolheu apoiar o histórico socialista, que se candidatou como independente, Manuel Alegre – que alcançou 19,76 por cento dos votos.

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