A estratégia da cabeça e do coração no Pontal

O líder do PSD ressuscitou um velho slogan do PS. Mas será tão eficaz como com António Guterres?

Em 1995, o brasileiro Edson Athayde era o responsável pela campanha de António Guterres, tendo na altura criado o slogan "razão e coração", que foi bastante eficaz para colocar um ponto final a dez anos de cavaquismo. Curiosamente, é o mesmo publicitário que agora está a trabalhar com António Costa. António José Seguro recuperou o slogan em 2012, quando era secretário-geral do PS, defendendo na altura que os socialistas só poderiam regressar ao poder após conquistarem "o coração e a razão" dos portugueses. Agora, foi a vez de a direita se colocar na fila a reclamar a razão e o coração dos portugueses.

Na Festa do Pontal neste fim-de-semana, Passos Coelho pediu aos portugueses para que decidam o voto a 4 de Outubro com "a cabeça e com o coração". O líder do PSD apareceu no calçadão da Quarteira pela primeira vez ao lado de Paulo Portas, em perfeita sintonia, sendo que coube ao líder do CDS-PP falar à cabeça dos eleitores e a Passos mais ao coração. Portas encheu-se de números e estatísticas (do desemprego, do crescimento, das exportações, da Segurança Social) para tentar mostrar aos eleitores que vale a pena votar na coligação. Passos tentou ser mais emotivo, falando para aqueles que o próprio diz estarem a sentir algum "azedume, amargura e ressentimento" contra o Governo por causa das medidas de austeridade dos últimos anos.

Ambos os líderes tiveram um discurso eficaz, com mensagens claras, o suficiente para agarrar o eleitorado que nesta altura nas sondagens assume que irá votar à direita. E os últimos números da economia dão algum respaldo e coerência a esse discurso da maioria. Para os indecisos, para os que dizem que vão votar noutro partido e para aqueles outros que estão a sentir o tal "azedume”, o discurso não terá chegado nem à cabeça, nem ao coração. Faltou uma estratégia para o futuro e, tal como o programa eleitoral, o Pontal também foi um deserto de novas propostas e ideias para os próximos quatro anos.

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