No Bons Sons, dançar na corda bamba é tão fácil quanto feliz

O segundo dia de Bons Sons foi das belíssimas harmonias de Minta & The Brook Trout ao rejuvenescido Carlão e à celebração com os Clã. Entre descobertas e reencontros, Cem Soldos continua a ser um lugar melhor.

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Carlão Público / Miguel Madeira
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Festival Bons Sons Público / Miguel Madeira
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Festival Bons Sons Público / Miguel Madeira
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Clã Público / Miguel Madeira
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Festival Bons Sons Público / Miguel Madeira
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Oco Público / Miguel Madeira
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Sequin Público / Miguel Madeira
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Minta & Brook Trout Público / Miguel Madeira
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Festival Bons Sons Público / Miguel Madeira

O miúdo que, o ano passado, protagonizou aquele que será um dos vídeos mais célebres do Bons Sons, ao comandar uma performance improvisada no Largo do Rossio, está de volta. É um verdadeiro filho do festival: conta-se que terá sido gerado em Cem Soldos e marca presença no Bons Sons desde que nasceu.

Vemo-lo agora no Largo de São Pedro e, desta vez, não está a dançar, a correr e a abanar-se ao som da música, perante dezenas de pessoas adultas que lhe imitam cada movimento. Agora, espreita às costas do pai o concerto que Sequin, ao fim de tarde, dá no coreto que é agora Palco Giacometti. Parece claro que quem vem ao Bons Sons não consegue impedir-se a voltar.

Michel Giacometti, o homem que, não sendo músico, tanto deu à música portuguesa, sistematizando a sua estrutura diversa nas recolhas que fez por todo o país, apreciaria certamente esta ideia de devolver a música aos seus palcos, digamos, tradicionais, como é um coreto.

Não sabemos o que pensaria da synth-pop vaporosa de Sequin e das suas canções nocturnas (o impacto delas perde-se com a luz solar que, neste caso, esconde mais do que revela), certo é que se reuniu uma quantidade generosa de público para ver a autora de Penelope e que ela e o duo que a acompanha nas teclas e no baixo se surpreenderam com o cenário que tinham perante si.

“Tanta gente para nos ver. Não estávamos à espera disto. Estamos muito nervosos”, disse Ana Miró. Era a estreia dela no Bons Sons, como são estreias todos os concertos que vemos no festival (para promover a diversidade, a organização definiu que só repetiria bandas em cartaz passados dez anos da estreia – o que poderá acontecer, portanto, na edição 2016). Ana Miró, portanto, não sabia. Não sabia que, no Bons Sons, o público que vem à descoberta, porque há sempre música para descobrir na aldeia, é também público conhecedor.

O vento pode criar rajadas que se tentam intrometer na harmonia das vozes, mas esse é um pormenor perante o que se criou no palco Outonalidades pouco antes de Ana Miró, Sequin, se ter surpreendido com os tantos reunidos para a ouvir.

A fachada da igreja de São Sebastião iluminada a contraluz, sol já desaparecido atrás dela, e duas vozes e desdobrarem-se em harmonias (bem) resgatadas à folk americana tão intimista quanto inspirada pela liberdade do olhar perante paisagens amplas.

Uma guitarra, a de Minta, ou seja, Francisca Cortesão, e um ukulele, o de Mariana Ricardo. Nada mais é necessário para que estas canções de amores perdidos e amores felizes e amores por encontrar se revelem na totalidade. O público acompanha-as com uma serenidade sorridente, aplaude Family e aplaude a versão de Person person, original da americana Mirah.

Chama-as para um encore, enquanto ao nosso lado, num grupo, alguém apresenta aos outros os nomes da editora Príncipe (Nigga Fox, Firmeza e Nidia Minaj) que, este sábado, darão música à madrugada cem soldense (“é uma espécie de kizomba moderna”), antes de começarem todos a discutir as virtudes deste tão feliz encontro das vozes de Francisco Cortesão e Mariana Ricardo. Descoberta e reencontro, como dizíamos. Vivemo-lo em pleno no segundo dia do Bons Sons, com a aldeia cada vez mais preenchida de gente – hoje, sábado, será, como habitual, o dia da maior enchente.

Festa e só festa

Festival inclusivo, festival para todos: para os muitos miúdos que vêm estrear-se com os pais, para os velhotes da casa que olham curiosos e felizes para a animação à sua volta; para todos mesmo, até para os cães que resistem estoicamente perante a quantidade de decibéis que os concertos lançam aos seus sensíveis ouvidos caninos.

Festival que, na sexta-feira, nos revelou os multiformes OCO, combo onde se juntam harmónio, cítara, guitarra portuguesa, percussões variadas ou didgeridoo para criar música apontando ao cosmos, fortemente ambiental, perfeita para viajar na noite campestre do Palco Eira.

O Bons Sons que nos mostra os Criatura, nascidos em Serpa, que no Palco Lopes Graça, o principal, consegue a proeza de, num momento, dar balanço funk à tradição portuguesa (estranhamente, resulta) e, no seguinte, chamar até si o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa para acrescentar à sua música a imponência do cante alentejano (e claro que resultou igualmente a presença no Bons Sons do grupo que representou o cante na UNESCO, na recente elevação a património imaterial da Humanidade).

Entre as bem-vindas descobertas, houve lugar, naturalmente, para a celebração. A aldeia numa azáfama, com as suas tascas abertas para que nasçam tertúlias improvisadas, e Carlão, ou seja Carlos Nobre, ou seja, o ex-vocalista dos Da Weasel, rejuvenescido no hip hop, que gravou em Quarenta, a sua estreia a solo, à uma moderno e old-school.

Foi dele um dos concertos mais seguidos e intensos da noite. Lúdico e activista, físico e cerebral, de Nuvens ao Colarinho branco dedicado a Ricardo Salgado, Armando Vara ou José Sócrates. Depois de Carlão, festa e só festa.

São mais de vinte anos de carreira e tantas canções reconhecidas aos primeiros acordes. São os Clã em modo best of em Cem Soldos. Manuela Azevedo canta todas as músicas com aquela entrega e a energia contagiante, canta-as todas como se as cantasse a primeira vez. A banda acompanha-a com aquela elegância feita de saber pop e é vê-las sucederem-se (GTI, Dançar na corda bamba, O Sopro do coração, H2Homem, Sexto andar, Tira a teima) e o público a juntar-lhes palmas no compasso certo e vozes (razoavelmente) afinadas.

O sorriso dos homens e da mulher em palco abrem-se perante a festa que vêem à sua frente e ficamos a pensar que, se calhar, para o ano regressarão para ver o aldeia do outro lado, enquanto público – o Bons Sons provoca esse efeito, como o comprovam, por exemplo, David Santos, Noiserv, ou André Tentúgal, We Trust, músicos que actuaram no festival no passado e que, este ano, regressaram porque o queriam viver mais um bocadinho, sem necessidade de subir a palco.

A madrugada já ia alta quando os Salto encerraram a segunda noite de Bons Sons em dose dupla. Primeiro, subiram ao Palco Eira para se mostrarem uma muito competente máquina de palco com o groove electro-saltitão partilhado com uns Hot Chip, por exemplo, a dar corpo a uma leveza pop.

Depois, correram até ao centro nevrálgico do festival, o Largo do Rossio, para oferecer música aos resistentes. A noite já caíra há muito e o nascer do sol não estava muito distante. Um dia não terminara ainda, outro não tardava a anunciar-se. O Bons Sons continuava. Hoje, sábado, com concertos de Ana Moura, Bruno Pernadas, D’Alva ou Duquesa. Amanhã, domingo, dia de encerramento do festival, com Camané, Retimbrar, Tó Trips, Peixe:Avião ou Long Way To Alaska. 

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