Preparem-se que o novo Bons Sons está a chegar à aldeia

Inicia-se esta quinta-feira o festival Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos. Agora anual, mantém-se montra eclética do presente da música portuguesa. Ambiciona mais: ser o ponto alto de uma actividade constante na localidade ao longo do ano.

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O Bons Sons, anual a partir deste ano, abre Cem Soldos ao público que procura a música e a aldeia Miguel Madeira

E mais uma vez, como acontece de dois em dois anos, a aldeia enche-se de gente. De dois em dois anos, Cem Soldos, às portas de Tomar, junta a sua população, põe mãos ao trabalho e, depois, os forasteiros tornam-se cem soldenses por quatro dias. Rapidamente tornados íntimos das ruas, das eiras ou do largo central, absorvem o melhor que a música portuguesa tem para dar, desde a que está a despontar agora mesmo, àquela que lhe tem marcado a história. Em 2014 foi assim. E assim será este ano.

Como dizíamos mesmo? De dois em dois anos? Assim foi desde 2006. Em 2015, porém, o Bons Sons dá o salto e, de bienal, torna-se anual. Porquê? Para que continuem a cumprir-se, de forma efectiva, os objectivos a que os organizadores do Bons Sons, o Sport Clube Operário de Cem Soldos (SCOCS), se propuseram quando lançaram o festival no mapa português. “Teria mais lógica manter o evento como bienal para não sobrecarregar a aldeia e para manter essa ideia romântica do festival de dois em dois anos”, confessa Luís Ferreira, director artístico do Bons Sons. “Isso mudou, não por o festival ser um grande sucesso financeiro, mas porque só com uma cadência anual, com a marca Bons Sons na aldeia e na comunicação que fazemos, conseguiremos uma alteração efectiva na vida das pessoas e não só no momento do evento, que aparece e desaparece”.

Desde hoje, quinta-feira, até domingo, os vários palcos, instalados na Igreja de São Sebastião e nas suas escadarias, no Largo do Rossio, central na aldeia, no Largo de São Pedro, no auditório da aldeia, no palco “inventado” numa antiga eira ou na sede do SCOCS, acolherão cerca de 50 concertos, numa mostra ecléctica e sem hierarquias de género. Ouvir-se-ão no arranque, hoje, as canções de Éme ou Benjamin, novos distintos trovadores da música portuguesa, mas também o rock enfurecido dos Riding Pânico, a transformação em música da poesia erótica portuguesa, cortesia dos Penicos de Prata, ou a magnífica Estação de Serviço com que Manel Cruz dá as voltas à sua própria obra. Nos dias seguintes, ouvir-se-á o hip hop de Carlão e a pop dos Clã (sexta-feira), o fado de Ana Moura, o requinte de Bruno Pernadas, o Verão transformado em canção nas mãos de Duquesa, a pop açucarada dos D’Alva ou os novos ritmos que Nigga Fox, Firmeza ou Nídia Minaj ofereceram ao nosso imaginário (sábado). Domingo, as atenções estarão centradas em Camané, mas também se ouvirá a guitarra de Tó Trips, os Peixe:Avião, Long Way To Alaska ou os Retimbrar, colectivo portuense dedicado a homenagear e renovar a tradição musical portuguesa (entrevista no Ípsilon desta sexta-feira).

“Não estamos interessados em ter temas por edições. Não é esse o mote”, esclarece Luís Ferreira. “Temos o contemporâneo e o mais tradicional e um encontro entre os consagrados e as revelações, num misto de afirmação e descoberta”. O conceito, portanto, mantém-se. A aldeia, igualmente. A zona do parque de campismo já foi limpa pela população para acolher quem chega e a aldeia estará por esta altura a sofrer os últimos ajustes mesmo antes da chegada de mais um Bons Sons. As alterações foram de pormenor. “Alguns palcos e algumas localizações. Campismo maior, palcos mais adequados e uma organização que permita uma melhor vivência da aldeia, mais articulada com a malha urbana. O necessário para criar um festival mais maduro”.

Com um orçamento de 450 mil euros, 85% dos quais garantidos pela organização local, o Bons Sons atrairá cerca de 40 mil espectadores ao longo dos quatro dias de festival. Além da música, será exibido o já habitual ciclo de cinema Curtas em Flagrante no auditório, o mesmo espaço onde todos os dias, pelas 10h da manhã, serão dados concertos para crianças. Além da música e além dos quatro dias de festival, sobra tudo o resto. “A partir deste novo ciclo [o desejo é que o festival se mantenha anual pelo menos nos próximos cinco anos], vamos ser simplesmente Bons Sons e não o festival Bons Sons. Éramos um festival, mas agora somos um projecto maior”.

A vontade de Luís Ferreira e da restante organização é que o Bons Sons seja o pináculo de um trabalho contínuo de organização de workshops, produção e organização de concertos, acolhimento de residências artísticas e de formação local, através de projectos como o projecto Cantixas (a Tixa é a lagartixa mascote do Bons Sons), que tem levado crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo a um contacto próximo com o cancioneiro e os instrumentos tradicionais. “O Bons Sons será o embaixador de tudo isso. Credibiliza e, através dele, conseguimos criar parcerias e atrair outros projectos. A dinamização da aldeia já existe, mas queremos chamar mais pessoas ao longo do ano e criar eventos especializados, quer regionais, quer nacionais”. A música do Bons Sons e o festival onde a ouvimos será, então, a ponta do icebergue naquilo que é ambicionado para a aldeia de mil habitantes.

O passe de quatro dias do festival custa 35 euros. O bilhete diário é vendido a 15 euros. Aqueles que preferirem alojamento em Tomar ao campismo terão ao seu dispor um “transfer” entre a aldeia e a cidade disponível diariamente entre as 10h e as 3h.

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