O cometa 67P está de visita ao Sol e já esguichou do “pescoço”

O já famoso 67P/Churiumov-Gerasimenko atinge o periélio, o ponto mais próximo do Sol, na quinta-feira. A Agência Espacial Europeia vai ter uma emissão em directo sobre esse momento.

O jacto fotografado a 29 de Julho
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O jacto fotografado a 29 de Julho ESA
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O local no "pescoço" do cometa de onde se libertou o jacto ESA
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O cometa sem actividade no "pescoço" na imagem à esquerda, 18 minutos antes da Roseta fotografar o jacto; passados 18 minutos de ter fotografado o jacto, o cometa aparece, de novo, calmo, na imagem à direita ESA

Já nesta quinta-feira, entre a órbita de Marte e da Terra, o 67P/Churiumov-Gerasimenko vai ficar a apenas 186 milhões de quilómetros do Sol, o ponto da sua órbita mais próximo da nossa estrela. O cometa passa por este local chamado periélio a cada 6,5 anos. Mas pela primeira vez, será acompanhado pela sonda Roseta, da Agência Espacial Europeia (ESA), que estará a observar o fenómeno a uns meros 186 quilómetros de distância.

Nunca antes houve uma sonda a orbitar um cometa, muito menos a testemunhar a sua passagem pelo periélio. A ESA vai ter uma emissão em directo sobre este importante momento, entre as 14h e as 16h (hora de Lisboa) desta quinta-feira, que o PÚBLICO irá retransmitir no seu site.

“O periélio é um marco importante no calendário de qualquer cometa, e ainda mais para a missão da Roseta, porque vai ser a primeira vez que uma nave segue um cometa de perto”, diz Matt Taylor, astrofísico e um dos responsáveis pela missão Roseta, num comunicado da ESA. “Estamos numa grande expectativa de atingir o periélio, e depois disso vamos continuar a monitorizar o núcleo do cometa, a sua actividade e as mudanças do ambiente plasmático ao longo do próximo ano.”

A viagem da Roseta tem sido cheia de emoções, desde que ela se fixou junto do cometa, a 6 de Agosto de 2014, há pouco mais de um ano. A órbita do 67P vai desde Júpiter até um ponto entre Marte e a Terra. Na altura do encontro com a sonda, o cometa ainda estava a 540 milhões de quilómetros do Sol, entre a órbita de Marte e Júpiter. Nos meses seguintes, a sonda iniciou uma análise profunda do cometa, que já deu alguns frutos para a ciência, e largou a sonda File, que em Novembro aterrou no 67P, numa aventura com várias peripécias.

Enquanto isso, a actividade do 67P foi aumentando. Os cometas vêm, normalmente, das regiões exteriores do sistema solar. À medida que se aproximam do Sol, a radiação e os ventos solares aquecem o núcleo dos cometas e estes libertam material criando a cabeleira e a cauda. Esta dinâmica chega a ser observada sem ajuda de instrumentos a partir da Terra, em cometas maiores que se aproximam muito do Sol, como aconteceu no caso do Hale-Bopp em 1997. O 67P não se consegue observar a olho nu da Terra, mas a sua actividade é um dos maiores interesses científicos da missão Roseta.

Na última terça-feira, a ESA divulgou imagens obtidas pela sonda a 29 de Julho, que mostram um enorme jacto de material a libertar-se da zona estreita do 67P (se imaginarmos que a forma do cometa é parecida com a de um patinho de borracha, com uma cabeça mais pequena e um corpo maior, então o jacto terá surgido na zona do pescoço). Até agora, este foi o jacto mais importante que os cientistas viram, o que está de acordo com a fase actual de maior actividade do cometa.

“Este é o jacto mais luminoso que vimos até agora”, diz num comunicado da ESA Carsten Güttler, que faz parte da equipa responsável pela câmara OSIRIS (sigla para Optical, Spectroscopic, and Infrared Remote Imaging System, algo como Sistema Remoto de Imagens Ópticas, Espectroscópicas e Infravermelhas). “Normalmente, os jactos são bastante esbatidos comparando com o brilho do núcleo, e temos de aumentar o contraste das imagens para conseguir vê-los – mas este é mais brilhante do que o núcleo”, explica o cientista do Instituto Max Planck de Investigação do Sistema Solar, na Alemanha.

O jacto é o resultado de gelos sublimados directamente em gás. Apesar de amanhã o cometa atingir o seu ponto mais próximo do Sol, a sua actividade continuará a aumentar nos próximos dias. Um fenómeno equivalente passa-se na Terra: os dias mais quentes de Verão surgem, normalmente, semanas após o dia mais longo do ano, por volta de 21 de Junho no Hemisfério Norte.

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