Dramaturgo Larry Kramer chama “loucos” aos que querem boicotar filme sobre revolta de Stonewall

Filme sobre momento fundador do movimento LGBT nos EUA agita redes sociais levando milhares a assinarem petição. Muitos acusam o realizador de “branquear” a verdadeira história do movimento de luta pelos direitos LGBT ao ignorar os seus protagonistas

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Stonewall, filme de Roland Emmerich dr
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O encenador Larry Kramer D Dipasupil/Getty Images/AFP

A 27 de Junho de 1969 a polícia voltava a entrar num bar gay de Greenwich Village, o Stonewall Inn. A perseguição das autoridades aos homossexuais, feita com o apoio do governo, era coisa comum mas, naquele dia, aconteceu algo extraordinário - os clientes resolveram dar luta. E esse confronto, que ficou conhecido como a revolta de Stonewall, acabaria por passar à história como o momento fundador do movimento LGBT nos Estados Unidos.

Desde essa noite e até que o Supremo Tribunal dos EUA se pronunciasse a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo passaram quase 50 anos.

O realizador Roland Emmerich conta a história desse episódio em Stonewall, que tem a estreia americana marcada para 25 de Setembro e que tem vindo a agitar as redes sociais, dando origem a protestos e até petições assinadas já por mais de 40 mil pessoas que apelam ao boicote ao filme, segundo a Hollywood Reporter. O motivo? A partir do trailer, lançado na semana passada, muitos acusam o realizador de “branquear” a verdadeira história do movimento de luta pelos direitos LGBT nos Estados Unidos ao ignorar os seus protagonistas, as drag queens e transgéneros negros e latinos que a impulsionaram.



O trailer parece indicar que o filme de Emmerich se centra num personagem de ficção - Danny Winters (a que o actor Jeremy Irvine dá vida) é um homem branco do Midwest que se muda para Nova Iorque depois de ter sido expulso de casa pelos pais e que acaba por se ver envolvido nos confrontos em Greenwich Village.

Larry Kramer, dramaturgo de 80 anos que é o autor de The Normal Heart, peça que os Tony premiaram, diz que são simplesmente “loucos” os que apelam ao boicote. Segundo o Gay Star News, site dedicado a notícias relacionadas com a comunidade LGBT, o reconhecido activista pelos direitos dos homossexuais fez os seus comentários na página de Facebook de Emmerich, em que o realizador já se defendera das acusações dos organizadores da petição e de todos os que apoiam a campanha contra Stonewall.

“Não dês ouvidos aos loucos”, escreveu Kramer. “Por alguma razão há um grupo de ‘activistas’ que insiste em manter fundamental a sua importância e participação nos confrontos. Infelizmente, parece que não há ninguém vivo [que neles tenha participado] para dizer ‘não foi nada assim’ ou ‘quem são e onde estavam vocês’.”

A indignação do dramaturgo transforma-se mais à frente numa condenação directa ao boicote e na defesa das liberdades artísticas: “Espero sinceramente que esta merda do boicote ao teu filme se desvaneça. Não estamos a lidar com outra ‘cruzada’. Impedir que o teu filme seja visto só nos prejudicará. Boa sorte e obrigada pela tua paixão.”

Emmerich, o realizador por trás de O Dia Depois de Amanhã e também ele homossexual, defendeu-se dos que apelam ao boicote dizendo tudo ter feito para que os acontecimentos fossem contados de forma fidedigna, mas sem abdicar de elementos de ficção. Afinal, Stonewall não é um documentário. “Temos drag queens, lésbicas, temos tudo no filme porque quisemos dar uma imagem alargada do que significa ser gay”, disse o realizador à revista Vulture.

Jon Robin Baitz co-autora do guião citada pelo diário britânico The Guardian, assegura que o trailer promocional, da responsabilidade da equipa de marketing, não espelha a diversidade étnica e racial que o filme contém: “Dirijo-me às pessoas que estão zangadas com um filme que ainda não viram e peço-lhes que, de coração aberto, deixem que ele seja julgado pelos seus próprios méritos e não pelos do departamento de marketing, porque o marketing é inteiramente baseado no medo enquanto a arte se baseia na raiva na esperança e no fogo.”

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