Índia: mais competitiva, mais rica

A sociedade indiana está preparada e desejosa de ser parte activa no desenvolvimento.

Não faltam ideias nem aplicação a sectores que demonstraram ser possível um rápido progresso na Índia. É o caso das TI-Tecnologias de informação, da saúde, da produção automóvel, da produção de fármacos, etc.

A sociedade indiana está preparada e desejosa de ser parte activa no desenvovimento, e já se decantaram quatro conceitos mobilizadores, bem assumidos pela população. E depressa saíram do ‘discurso político’, formando uma plataforma na qual cada um participa nalgum aspecto do que considera a sua parte na missão nacional.

São eles:

1. Crescimento inclusivo e sustentado;

2. Inovação frugal;

3. A riqueza na base da pirâmide; e

4. A população como dividendo demográfico.

 Crescimento inclusivo e sustentado

O progresso deve beneficiar todos, não só os ricos e poderosos. É, desde há muito, o desejo generalizado e manifestado sob variadas formas. Um dos elementos de inclusão é o ensino, que põe todos os cidadãos num plano donde o seu potencial pode aspirar chegar mais longe. O ensino na Índia é obrigatório dos 6 aos 14 anos, desde 2006, e a partir de 2009 é um ‘direito’, significando que um chefe de família pode recorrer aos meios legais para que os filhos tenham real acesso ao ensino. Na realidade, e sem falar da qualidade, aceita-se que 96% da população em idade escolar está mesmo a estudar.

As instituições públicas e privadas de ensino obrigatório devem fornecer a refeição do almoço. É onde muitas fundações, ONGs e pessoas singulares actuam para dar a sua colaboração, fazendo que as crianças fiquem, também por isso, agarradas à escola e aprendam.

Elemento de inclusão é também o acesso aos cuidados de saúde. Há um esforço generalizado, apesar de apenas 1% do GDP ser a parte com que o Estado intervém, enquanto os outros 5% são de privados. Há fundadas esperanças de que os variados tipos de seguros aumentem a acessibilidade das pessoas; entretanto está-se a ampliar a rede de Centros de saúde rurais. O número de hospitais privados e públicos está em franco crescimento, havendo muitos que prestam serviços de elevada qualidade a ponto de atrairem turismo de saúde, com pacientes de todo o mundo.

Algumas instituições privadas, de saúde, têm uma acentuada vertente filantrópica como é o caso do Aravind Eye Care System, do Narayana Hrudayalaya Group, do Jaipur Foot, etc. Elas tiveram forte impacte no cidadão comum que deseja fazer o que está ao seu alcance para minorar as carências dos desfavorecidos.

A inclusão financeira mereceu muita atenção, a ponto de em menos de 6 meses se terem criado mais 120 milhões de contas bancárias, que permitem canalizar subsídios directos para as famílias pobres, e movimentam as contas por via do telemóvel.

O elemento definitivo de inclusão é ter trabalho. Se é certo que 49% da mão-de-obra vive dos rendimentos da agricultura, há uma preocupação eficaz de treinar os jovens, que acedem ao mercado de trabalho, para as necessidades da indústria e de serviços. Não só para obterem melhores rendimentos, como para não terem apenas trabalhos sazonais na agricultura. Há empresários bem-sucedidos em actividades tecnológicas e/ou industriais que entraram em sectores de agricultura na mira de criar muitos mais empregos na agro-indústria e na distribuição. 

Inovação Frugal

Está muito em voga e é praticado de forma quase instintiva. Sugere uma atitude de muita concentração no objectivo em vista, como é o de ter produtos mais robustos e a custos mais baixos, incorporando pequenas e continuadas inovações, sem necessidade de laboratórios ou departamentos de I&D.

Um caso brilhante é o carro Tata Nano, projecto de uma equipa de 6 engenheiros de 27 anos de idade, chefiados por outro de 34 anos. O carro é vendido ao preço de 2.200 dólares. Isto criou uma onde de investimentos das grandes marcas, para fabricarem o seu carro subcompacto na Índia, onde encontravam bons fornecedores de partes de carros.

Outro, é do electrocardiógrafo da GE que foi redesenhado em Bangalore, para ser mais robusto e custar 1/6 do seu valor anterior; hoje, o aparelho é produzido na Índia é vendido nos EUA a um preço muito mais baixo, designando-se este fenómeno por reverse innovation.

A disposição do trabalhador indiano de encontrar soluções para qualquer problema intrincado fez com que hoje existam mais de 1040 empresas multinacionais a fazer R&D na Índia. Não empregam 10 ou 20 pessoas, para mostrar que existem; a IBM, por exemplo, tem cerca de 150.000 trabalhadores muito especializados na Índia, a Accenture mais de 90.000 e a Cap-Gemini cerca de 50.000, só para dar uns exemplos. 

A riqueza na base da pirâmide

Uma exemplificação clara do conceito na Índia é o telefone móvel. Até 1995 havia só 5,3 milhões de linhas de rede fixa; nesse ano liberalizou-se o sector das telecomunicações e entraram muitos operadores de alta qualidade. Muitos verificaram que a uma pequena baixa dos preços de comunicação, entrava uma nova e imensa massa de clientes; então, concentraram o esforço em ir reduzindo preços, com pequenas inovações. Hoje, há mais de 800 milhões de linhas de rede móvel activas e cerca e 32 milhões de linhas de rede fixa! O condutor do riquexó ou o pescador usam o telefone móvel, pois os custos de comunicação e de aquisição do aparelho são ínfimos e os proveitos para eles são enormes!

Mais: todos ganham em estar interligados: os próprios utilizadores, porque isso lhes permite aproveitar melhor o tempo, negociar com rapidez, etc., e ganham também os operadores, com a grande quantidade de clientes, ainda que ganhem muito pouco com cada um.

Isto pode afirmar-se da produção de fármacos, de serviços de saúde, etc. Quanto maior o número, mais baixos os custos unitários, maiores as economias de escala. 

A população como dividendo demográfico.

Quando as pessoas têm a instrução básica; têm treino para uma profissão; têm acesso aos cuidados de saúde; se têm trabalho, acabam por ser contribuintes na criação de riqueza, e, portanto, um dividendo ao investimento neles feito.

Se tal não acontece, por não haver instrução, nem saúde, nem trabalho, a população pode ser um pesado fardo para os governantes, e uma frustração para os próprios.

A população indiana tem uma média de 26 anos, sendo muito jovem em comparação com todos os países mais desenvolvidos; isto significa possibilidades de que trabalhe mais anos, e faça crescer o país durante muito mais tempo do que os países velhos do Ocidente.

O Primeiro-ministro Modi tem estado a realizar um trabalho insano: a redesenhar as regras de boa governação, que permitam congregar todos os cidadãos e as suas capacidades de criar riqueza. Isto é um flagrante contraste com os ‘tempos do socialismo’ indiano, que vigoraram desde a independência até ao ano 1991. Apesar das reformas já efectuadas, o socialismo deixou raízes profundas nas mentalidades, parecendo às vezes que é mais facil ir produzir fora do que fazê-lo dentro da Índia.

Daí a sua oportuna focagem no ‘make in India’, para se criar muitos mais empregos, desbloqueando os impedimentos para se investir na Índia. Também muito oportunas são as suas ideias e actuações no domínio da limpeza (condição de saúde para os cidadãos e de atracção de mais turistas); da responsabilização dos burocratas por um trabalho sério e assíduo, visto como missão de serviço; a criação efectiva de um imposto único sobre bens e serviços, que permitirá recolher mais imposto, para o aplicar em bem dos pobres; e, sobretudo, uma atenção muito fina aos pobres, tentando a sua inclusão no crescimento do país.

Prevejo um bom futuro para a Índia e progressos rápidos resultantes de medidas de fundo, comprometendo a sociedade, bem pensadas, realizadas e controladas, para se evitar a dispersão e deixar coisas meio-feitas.

Professor da AESE-Business School. Presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-Índia

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