É preciso solidariedade na UE para responder à crise da imigração

Especialistas defendem que os países europeus têm de se unir e dar respostas concertadas.

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Manifestação de imigrantes em Calais Juan Medina/REUTERS

É preciso haver um “mecanismo de solidariedade dentro do espaço da União Europeia”. Sem isso, “não será possível dar esta resposta concreta e sustentada aos actuais fluxos migratórios”, afirma o investigador e quadro da Organização Internacional para as Migrações (OIM) Luís Carrasquinho.

"Dentro da UE, há diferenças ideológicas no que diz respeito à forma como se encara o outro, como se encara a própria migração. Para poder haver uma resposta concertada, tem de haver um mecanismo de solidariedade que funcione”, disse à Lusa o funcionário da OIM em Portugal.

O mesmo acontece na resposta a dar à miséria em que vivem milhares de migrantes em Calais, no Norte de França, na esperança de passarem a fronteira e chegarem ao Reino Unido. “É um drama humanitário. Um drama porque os imigrantes estão a viver em condições indignas de um ser humano. Um drama porque todos os dias se ouvem casos de mortes”, afirmou Vítor Rosa, investigador e funcionário da associação France Terre d'Asile, que comparou a crise dos migrantes ao holocausto da II Guerra Mundial. Para o sociólogo, trata-se de “um problema europeu e as respostas a dar devem ser colectivas”.

Luís Carrasquinho vai no mesmo sentido. “É lamentável que haja posições extremas [contrárias ao acolhimento dos migrantes]. Tem de haver um esforço dos vários intervenientes, não só dos países de acolhimento, mas dos países de trânsito, os países de origem, as organizações internacionais, as organizações não-governamentais e outros mecanismos, para que se juntem e unam forças para dar respostas efectivas à questão migratória."

Cerca de 200 mil pessoas já entraram de forma ilegal na Europa este ano. A OIM acredita que “é preciso dar apoio de emergência, protecção aos migrantes, integrá-los nas sociedades, prevenir a migração através de canais inseguros, através do tráfico de pessoas, e levar à justiça os traficantes”. E Carrasquinho recorda que, segundo as últimas informações da OIM, mais de 2000 pessoas já morreram no Mediterrâneo em 2015.

“Vemos esta questão com preocupação, porque o que está em jogo, em muitas circunstâncias, são vidas de pessoas que se podem perder de forma trágica”, disse o director nacional adjunto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), José van der Kellen.

O SEF tem “colaborado em muitas das missões com a Frontex”, a Agência de Controlo das Fronteiras Externas da UE. "Temos, permanentemente, pessoas nossas a colaborar em equipas mistas dos países do Sul da Europa, no Mediterrâneo, a ajudar nas entrevistas, a estabelecer padrões, perceber as perspectivas de muitos destes fluxos migratórios”, explicou.

Não há soluções fáceis para a situação actual da migração. “Temos de ter sempre uma perspectiva humanitária, tentar ajudar, tratar as pessoas de forma digna, mas ter a percepção de que temos que ser muitos decididos e rigorosos no que é o combate ao tráfico de pessoas que se faz de forma subjacente a este fenómeno”, afirmou Van der Kellen.

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