Deixem-nos "trabalhar mais", pedem Passos e Portas aos portugueses

“Depois da recuperação, a construção”, prometem os líderes do PSD e CDS numa carta aos portugueses, onde enaltecem o “esforço” de todos e pedem que não esqueçam o passado. A campanha está na rua.

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Enric Vives-Rubio

Quase podia começar com um litúrgico “humildemente vos suplicamos...” a missiva que esta sexta-feira começou a chegar aos militantes do PSD e do CDS assinada pelos respectivos presidentes, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.

Formalmente foi enviada apenas aos seus, mas a mensagem é dirigida aos portugueses em geral e foi publicada no site da coligação Portugal à Frente. Não são promessas, asseguram, numa tentativa de marcar a diferença face aos socialistas. “Queremos trabalhar mais. Não é tempo de promessas. É tempo de trabalho. E nós sabemos o que fazer.”

Na “carta aos portugueses”, os dois principais rostos da coligação Portugal à Frente dizem que querem partilhar com todos uma “mensagem de agradecimento e esperança”. Fazem o elogio da governação dos últimos quatro anos, agradecem aos portugueses pelo “muito trabalho e esforço”; pedem, “com humildade”, uma oportunidade para “trabalhar mais” e “consolidar o novo ciclo que se iniciou”; e atiram culpas pelas dificuldades passados para o anterior Governo PS que obrigou o actual executivo de direita a tomar as medidas de austeridade. É, no fundo, o sumo do que serão os discursos da direita daqui até às 24h00 de dia 2 de Outubro.

Não há referências aos tempos atribulados que tiveram juntos no Governo nem aos partidos em si, e falam sempre na primeira pessoa do plural – é o “nós” que impera, estejam a referir-se ao executivo, à coligação ou aos portugueses.

A uma semana de arrancar a verdadeira pré-campanha com a festa do Pontal em Quarteira (desta vez a dois), e aproveitando o “momento de reflexão” que o país vive, os líderes dos dois partidos vincam que no momento da “decisão” – leia-se, quando votarem -, as pessoas “vão avaliar o presente, pensar o futuro e não deixarão de relembrar o passado”. Um piscar de olho aos indecisos e descrentes que, a dois meses das eleições, fazem a coligação e o PS andar colados na maioria das sondagens.

Ora, esse passado foi “difícil” de atravessar devido aos “erros” do Governo anterior que “não honrou a confiança dos portugueses. Ao invés, deixou-nos uma herança pesada, e uma conta elevada a ser paga por todos”, acusam Passos e Portas. Aos socialistas estão ainda associadas más imagens como a “pré-bancarrota”, “dura realidade”, um passado a que os portugueses não querem voltar, acredita a direita.

“Sempre acreditámos na nossa força, na força do país e dos portugueses. Por isso, foi possível corrigir o rumo e entrar no caminho certo. Chegámos até aqui e vamos fazer muito mais”, asseguram. Mas o aqui só é parcialmente explicado. Fala-se de um “novo tempo” e de “novo ciclo que se iniciou”, de uma “mudança positiva que já está a acontecer”, de ir ao “encontro de mais crescimento económico e mais criação de emprego”.

Mas não há referências aos actuais níveis de emprego/desemprego, de crescimento económico, ao raro investimento público, à dívida e ao défice, ou à manutenção de padrões de austeridade que o Governo já advertiu ter que continuar nos próximos anos. Apenas se admite, de forma esquiva, que “é evidente que há muito a realizar”. “Quatro anos foi o tempo exigido para se fazer o necessário e possível, face à situação de pré-bancarrota em que nos deixaram”, argumenta-se. E a “consolidação da retoma económico, hoje em curso, é um processo gradual, progressivo e seguro”, realçam.

Se depois da tempestade vem a bonança, “depois da recuperação, a construção”, prevêem Passos e Portas. “As condições necessárias foram erguidas. Com responsabilidade, prudência, porém com determinação e dedicação”, auto-elogiam os líderes da coligação. E pedem: “É por isso que, com humildade mas convictos dos resultados obtidos e do que estamos a propor, nos apresentamos aos portugueses para a oportunidade de consolidar este novo ciclo que se iniciou.” Logo a seguir acrescentando: “Para isso queremos trabalhar mais.”

Rejeitando fazer promessas porque “não é tempo” delas, o vice e o primeiro-ministro lembram que lançaram a carta de garantias em Junho e o programa eleitoral há semanas, onde se propõem “compromissos alicerçados em garantias viáveis”. Mas “nada está concluído, ainda, por isso a caminhada deve seguir” e o passo seguinte é centrarem-se em “políticas para melhorar o acesso à saúde e a qualidade na educação, para ampliar o combate às desigualdades sociais e criar condições de garantir melhorias na demografia em Portugal” – não resistem a prometer, afinal, Passos e Portas.

Notícia substituída às 18h30

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