A governação segue dentro de momentos

As dúvidas e as certezas que vêm de Washington não deixam muita margem para optimismos

O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou esta quinta-feira o segundo relatório de monitorização pós-programa de resgate. Já sem a arrogância de outros tempos, mas com o cepticismo e a descrença de sempre, os técnicos do Fundo aparecem com grandes dúvidas e poucas certezas. Estão certos de que a economia está a crescer, mas duvidam da sustentabilidade da retoma. A parte que está a correr bem na economia deve-se muito ao BCE, à queda do petróleo e do euro, e à melhoria verificada na vizinha Espanha que tem puxado pelas nossas exportações. Como tal, dizem, é um ambiente propício para se continuar as reformas estruturais. A segunda certeza do FMI é que até à data das eleições o Governo nada fará para equilibrar as contas públicas, sendo que se forem necessárias mais medidas de austeridade para equilibrar as contas estas só virão com o Orçamento do Estado para 2016 que será apresentado a seguir a 4 de Outubro. É uma garantia que foi dada aos técnicos pelo próprio Governo. Será uma espécie de interregno na governação.

A partir daqui o FMI só tem dúvidas. Mesmo com a garantia do Governo, duvida que a meta de 2,7% para o défice vá ser atingida. E duvida das previsões optimistas do Governo para a evolução das receitas. Depois de o ministério das Finanças ter vindo lançar um simulador onde promete reembolsar 100 milhões de euros da sobretaxa se se mantiver a actual evolução do IVA e do IRS, o FMI vem juntar-se ao coro de vozes que duvidam de tal possibilidade. Dizem, ao contrário do que defende a maioria, que os reembolsos do IVA vão acelerar até ao final do ano, o que fará baixar naturalmente o encaixe do Estado com este imposto. Isto quererá dizer que a sobretaxa pode não ser devolvida. Se se promete ao FMI mais austeridade para depois das eleições, o Governo também deveria abster-se de criar expectativas quanto à devolução da sobretaxa antes das eleições.

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