Repatriamento de migrantes é onde a Europa gasta mais dinheiro

Enviar alguém que entrou num país da UE ilegalmente de volta custa em média 4000 euros.

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Protesto de imigrantes em Calais, no Norte de França, onde fica a a fronteira com o Reino Unido Juan Medina/REUTERS

Enquanto a Europa discute o que fazer com o aumento de migrantes que chegam de barco às suas costas, há quem faça contas a quanto custa mantê-los longe. O repatriamento destaca-se como o mais caro: absorveu 11,3 mil milhões de euros, desde 2000, seguido pela construção e manutenção de barreiras, que custaram 1,6 mil milhões.

As contas são do projecto The Migrant Files, que junta jornalistas e analistas de dados para estudar questões das migrações.

O repatriamento de um migrante da Europa custa em média 4000 euros, diz o consórcio de jornalistas. A Europa tenta poupar no repatriamento, dando aos migrantes o prazo de um mês para se ir embora, mas o que acontece é que muitos não saem, simplesmente continuam viagem.

Segundo o Eurostat, os países da União Europeia rejeitaram 55% dos 600 mil pedidos de asilo que receberam em 2014. Mas a taxa de expulsão europeia é bastante baixa, à volta de 33%.

O Migrant Files nota que os países europeus não contabilizam este gasto, ou os que o fazem têm em conta apenas o que gastam nas viagens e não na detenção dos migrantes antes do repatriamento. Dois países, França e Itália, tiveram comissões parlamentares a fazer contas: descobriram quantias duas a quatro vezes maiores do que as estimativas feitas pela polícia.

Nos últimos anos, uma das faces mais visíveis da estratégia europeia, e a base da sua política, foram as barreiras. Isto fez com que aumentasse o fluxo migratório por mar, praticamente o único que ficou disponível. Fazendo as contas ao que custou erguer e manter estes muros, chega-se à quantia de 1,6 mil milhões de euros desde 2000. A manutenção destes mecanismos é cara: a do muro entre a Grécia e a Turquia custa mais de sete milhões por ano, e a das barreiras nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melila custam dez milhões de euros anuais (quantias pagas pelos contribuintes de ambos os países).

São vedações que protagonizaram imagens icónicas, como uma foto que mostrava, de um lado, migrantes empoleirados no cimo de sete metros de metal em Melila, à tentar passar, e um campo de golfe, e polícia, do outro.

A estratégia continua, mais recentemente na Hungria. O país tem uma das últimas fronteiras terrestres da UE e foi assim o país europeu onde mais cresceu o afluxo de imigrantes (este ano foram já 60 mil pessoas, a maioria vindas através da Sérvia, um aumento de mais de 800% em relação ao ano anterior). Budapeste planeia um muro “temporário” de quatro metros em 175 quilómetros, a construir “o mais rapidamente possível”.

No relatório sobre as verbas, chamado Follow The Money, o consórcio nota ainda a quantia que os próprios migrantes pagam para chegar à Europa, calculada num total de 15,7 mil milhões de euros. Aqui, encontra-se praticamente de tudo, desde viagens em navios mais rápidos da Líbia a Itália que podem custar centenas de milhares de dólares até aos mais baratos botes de borracha que fazem curtas distâncias da Turquia a ilhas gregas. Segundo o Migrant Files, a quantia a cobrar depende da origem – o porão de um barco vindo da Líbia deverá ir cheia de africanos que pagaram 700 euros pela viagem (e muitas vezes, quando naufragam, sabe-se que esta parte do navio ia trancada) e o convés com sírios, que pagam 2000 euros.

Por sua vez, a Europa aumentou recentemente o orçamento da sua operação de salvamento no mar Tritão, que começou no início do ano, triplicando o montante previsto para 120 milhões de euros por ano.

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