PS acusa Governo de “fazer política” com o INE

Vice-presidente da bancada do PS lembra ausência nas estatísticas de desencorajados, emigrantes e estagiários

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Pedro Nuno Santos: “Falar em alinhamentos é uma tentativa de simplificar”

O Governo não tem razões de queixa dos números do desemprego divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas. Tanto o PS como o BE reagiram às críticas feitas por elementos do Executivo de Passos Coelho – que estão insatisfeitos com a discrepância revelada entre a estimativa para Maio e a revisão feita esta semana – lembrando que o INE deixa de fora variáveis que elevariam substancialmente esses valores.

“O Governo está a fazer política usando o INE”, denunciou o vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Pedro Nuno Santos, depois de frisar que o Governo até “devia agradecer as regras” com que o INE calcula o desemprego em Portugal.

“As contas do INE não inclui os desencorajados, os que frequentam programas de formação, os estagiários ou os emigrantes”, argumentou o deputado socialista. Embora reconhecendo que esta é a praxis na Europa, Pedro Nuno Santos lembra, por exemplo, que as estatísticas nos Estados Unidos já incluem algumas dessas variáveis. E caso essas fossem contabilizadas, o valor seria bem diferente. Pedro Nuno Santos acrescenta que o número de cidadãos incluidos nestas categorias subiu significativamente desde 2011. A título de exemplo citou o caso dos frequentadores de cursos de formação. "São agora cerca de 160 mil quando em 2011 eram 23 mil." É por isso que não hesita em concluir que, actualmente, "a taxa não reflecte a maioria dos desempregados".

Da mesma forma, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, afirmou que comparar a taxa de desemprego de 2015 com a de 2011, “é como comparar batatas com laranjas”, e acusou o Governo de propaganda nesta matéria.

“Vimos nos últimos dias a enorme propaganda sobre a suposta descida da taxa do desemprego. Ouvimos até dizer que a taxa de desemprego tinha descido, quando comparada com 2011. E isto depois de quatro anos de um Governo em que a cada mês dez mil pessoas emigraram e a cada dia 220 postos de trabalho foram destruídos”, disse a líder do BE, à margem de uma sardinhada com apoiantes, na Costa de Caparica, Almada.

Catarina Martins acusou o Governo de usar estratégias para ocultar a real taxa de desemprego. “Para mascarar a taxa de desemprego, não tem sido outra coisa do que dinheiro do Estado a retirar pessoas das estatísticas do desemprego, com falsas formações, com estágios, com contratos de emprego-inserção. Com tudo, menos como a dignidade que se exige a quem trabalha: um contrato de trabalho e um salário”, vincou a bloquista.

Ao Expresso deste sábado, alguns membros do Governo criticaram a revisão em baixa da taxa de desemprego para o mês de Maio. Há um mês, a estimativa preliminar apontava para 13,2%, que passou a 12,4%, numa revisão apresentrada esta semana. Ao semanário, elementos do Executivo acusaram o INE de ter avançado com “um número oficial que estava errado”. E outro membro do Governo questionou mesmo se o INE estaria “preparado para a divulgação mensal do emprego”.

Desde Novembro do ano passado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) passou a divulgar todos os meses dados sobre a evolução do mercado de trabalho em Portugal, complementando as estatísticas trimestrais que vinham sendo divulgadas. Porém, há diferenças metodológicas entre os números trimestrais e os mensais, o que leva a que todos os meses o INE faça uma revisão dos dados e a disparidades entre as taxas de desemprego mensais e as trimestrais.

Desde logo, as estimativas mensais consideram o grupo dos 15 aos 74 anos, de acordo com as regras definidas pelo Eurostat (o organismo de estatísticas europeu usa estes dados nas suas publicações mensais); enquanto as trimestrais analisam a população com 15 e mais anos, em linha com os conceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em vigor.

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