Cavaco impressionado com o Alqueva, empreendimento que mudou o Alentejo

Chefe de Estado realça importância da barragem para ajudar a reduzir o desequilíbrio das contas externas em matéria alimentar ao permitir o investimento na agricultura.

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Enric Vives-Rubio

O Presidente da República manifestou-se esta quarta-feira "verdadeiramente impressionado" com o Alqueva, convidando todos os portugueses a visitar o empreendimento que "mudou a face do Alentejo".

"Há aqui uma nova realidade económica, social e ambiental: o Alqueva mudou a face do Alentejo", afirmou Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas em Beja. Depois de ter sobrevoado a zona da barragem do Alqueva a bordo de um C-295 da Força Aérea Portuguesa, o chefe de Estado assinalou "o simbolismo muito particular" de uma visita que o deixou "verdadeiramente impressionado".

"No início de Fevereiro de 1993 tomei a decisão, em Conselho de Ministros, de iniciar a construção da barragem de Alqueva. Eu próprio vim a Alqueva para testemunhar o início das obras. Depois fui a um café, o café de Alqueva, os alentejanos que lá estavam mostraram uma grande desconfiança, disseram que há 20 anos que os políticos diziam isso e nunca tinha sido construída a barragem", recordou.

Entre as razões que levaram a que fosse tomada a decisão, acrescentou, estava a dificuldade da agricultura portuguesa competir no quadro da União Europeia por falta de áreas de regadio, a importância de uma reserva estratégica de água, a tendência da desertificação do Alentejo e a possibilidade que foi então detectada de obter apoios comunitários para construir a barragem de Alqueva.

"Regresso agora com uma visão totalmente diferente daquela que tinha tido até aqui, precisamente 20 anos depois. Nunca tinha tido a oportunidade de observar o empreendimento de avião e fiquei verdadeiramente impressionado", frisou, convidando todos os portugueses a conhecerem a mudança que está a ocorrer no Alentejo.

Destacando alguns números ligados à construção do Alqueva, Cavaco Silva notou que estão em causa dois mil quilómetros de canais, múltiplos reservatórios de água, barragens, milhares de pontos de rega, resultado de um "investimento significativo", que ficará completo este ano, altura em que se chegará aos 120 mil hectares de regadio naquela região. Além disso, continuou, o projecto está a contribuir para reduzir o desequilíbrio das contas externas em matéria alimentar e, no que respeita ao abastecimento de água das populações, 200 mil portugueses em 13 concelhos já beneficiam da água do Alqueva.

Contributo para a diversificação de culturas
A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, que acompanhou a visita do chefe de Estado, corroborou a avaliação de Cavaco Silva classificando o Alqueva como "um sucesso", nomeadamente na diversificação de culturas. "Já não é apenas o olival e a vinha", frisou, apontando as culturas de frutas e hortícolas que estão "a transformar a paisagem", a criar emprego e levar pessoas para o Alentejo.

"Alqueva tem muitos anos de trabalho, tem muitos anos de planeamento. A primeira ideia ocorreu ainda na década de 60, os trabalhos começaram na década de 70 e foram interrompidos até depois serem retomados em 1993. Já lá vão mais de 20 anos para hoje pudermos dizer que será concluído como estava projectado", lembrou.

Depois do sobrevoo da barragem do Alqueva, o Presidente da República visitou o canal de Ferreira do Alentejo e explorações agrícolas de nogueira, tomate, milho, vinha e pomares de pêra rocha e de ameixa.

Alqueva longe de ser um "elefante branco"
Durante a visita, o presidente da EDIA elogiou o Alqueva como um projecto de sucesso, considerando que "está muito longe de ser aquilo que alguns afirmavam, que seria um elefante branco". "A taxa de adesão é muito elevada, o Alqueva já é um projecto de sucesso e tem excelentes perspectivas de ainda vir a melhorar a sua contribuição para a economia do país e da região", disse José Pedro Salema.

Durante o voo, José Pedro Salema foi explicando à comitiva que acompanhou o chefe de Estado na viagem pormenores do projecto do Alqueva, falando, entre outras matérias, das zonas cultivadas, metade das quais é actualmente ocupada por olival. "O Alqueva já é responsável por se ter invertido a situação de Portugal em termos de autoprodução de azeite. O Alqueva é responsável por o país ter passado a ser excedentário, produzimos mais azeite do que consumimos", adiantou.

Com uma rede global de dois mil quilómetros de distribuição de água, dos quais apenas 100 quilómetros correspondem a canais, o Alqueva tem também mais de 25 barragens. Outro dos pontos que o Presidente da República pôde observar foi a barragem do Alqueva, o maior reservatório de água doce da Europa, que na sua capacidade plena pode armazenar um volume de 4 mil e 150 milhões de metros cúbicos de água. "É o volume semelhante à água doce que Portugal consome - na agricultura, indústria e a população - num ano", frisou o presidente da EDIA.

Com uma linha de costa de 1200 quilómetros e, portanto, superior à costa portuguesa, a extensão navegável da barragem do Alqueva é de mais de 100 quilómetros e a zona é também muito utilizada para passeios turísticos de barco. "Da povoação do Amieiro até Juromenha, o ponto mais a norte navegável, são 104 quilómetros de barco", disse, adiantando igualmente que o Alqueva, na sua cota máxima, tem 426 ilhas. Quanto à valia eléctrica do projecto do Alqueva, acrescentou ainda o presidente da EDIA, em 2006 foi avaliada em cerca de 30 milhões de euros por ano.

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