Um amigo que ainda tem muito a dar a Portugal

Perante o que Sampaio considere ser imperativo nacional ou ético, os primeiros sacrificados são frequentemente os amigos.

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Ferro Rodrigues em 2001, ao tomar posse como ministro do Equipamento Social, ao lado do então Presidente da República Jorge Sampaio Pedro Cunha

Muito jovem, com 12 anos, comecei a ouvir falar de Jorge Sampaio através dos meus primos que viviam a crise universitária de 1962. Confirmei mais tarde as suas qualidades de orador.

Antes de o conhecer pessoalmente, ouvi falar muito dele como advogado e sportinguista. O meu tio Santos Ferro, que lançou a paixão pelo clube na nossa família, era advogado com escritório na Baixa [de Lisboa], democrata, amigo dos jovens licenciados e dirigente do SCP. Ouvi falar do seu sportinguismo que confirmei ao longo dos tempos.

Em 1969, por intermédio de um grande amigo comum — Vitor Wengorovius — conhecemo-nos e falámos das nossas experiências de combate à ditadura, ele preparando a presença na CDE, nós em combate estudantil anticapitalista. Conheci então o homem informado à escala mundial e a sua determinação. Que continua a demonstrar.

Depois do 25 de Abril, mergulhámos na extraordinária aventura da preparação do primeiro congresso do MES, onde a ruptura foi inevitável, mas em que ninguém esqueceu a enorme intervenção que Jorge Sampaio fez antes da consumação. O homem de emoção e de convicção mostrava o seu esplendor.

Meia dúzia de anos depois juntávamo-nos no PS por influência de Vítor Constâncio.

Apoiei-o sempre na difícil caminhada para secretário-geral, nas derrotas de 1991 e na vitória presidencial de 1995. Construiu-se uma amizade que, ameaçada pelo sentido do dever de cada um de nós em 2004 [ano em que Ferro se queixou de uma alegada cabala contra o PS, montada a pretexto do caso Casa Pia, e em que viu Sampaio dar posse a Santana Lopes, como sucessor de Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro, sem eleições antecipadas] que , voltou a erguer-se em 2006. A amizade é algo de precioso para Jorge Sampaio, mas perante o que considere ser imperativo nacional ou ético os primeiros sacrificados são frequentemente os amigos.

Com grande alegria soube do Prémio Mandela, que merecidamente ganhou. Notei o quase silêncio que se montou. Lá estarei [segunda-feira, na sessão comemorativa da atribuição do Prémio, às 18h30, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa] para celebrar a vida de luta e coerência de um amigo que ainda tem muito a dar a Portugal.

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