O favorito para liderar o Labour é da velha esquerda, e Tony Blair preocupa-se

Sondagem coloca Jeremy Corbyn, socialista e assumidamente anti-austeridade, no topo das preferências para suceder a Ed Miliband na liderança do Partido Trabalhista. Antigo primeiro-ministro não acredita no sucesso da “esquerda à moda antiga”.

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Jeremy Corbyn é dado como o favorito à liderança dos trabalhistas pelas sondagens Darren Staples/Reuters

O ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, comentou, de forma crítica, os resultados de uma sondagem que apontam Jeremy Corbyn como favorito à liderança do Partido Trabalhista. Corbyn é o candidato mais à esquerda na corrida à sucessão de Ed Miliband. Num evento organizado pelo think tank Progress, nesta quarta-feira, Blair defendeu que o regresso do Labour ao poder tem de ser feito a partir do centro e não deve assentar na esquerda tradicional. E para aqueles que dizem que o seu coração está com Corbyn, Blair aconselha: “Façam um transplante”.

A sondagem YouGov falou com 1054 pessoas elegíveis para escolher o sucessor de Miliband e perguntou-lhes em quem votariam para a liderança do Labour. Os resultados acabaram por se revelar surpreendentes, tendo em conta que, até há bem pouco tempo, o candidato que hoje surge como favorito, com 43% das intenções de voto, Jeremy Corbyn, era visto como um outsider. Corbyn é considerado, dentro e fora do partido, como um representante da esquerda oldschool, mais tradicional, socialista e assumidamente anti-austeridade.

No segundo lugar da sondagem, feita pelo YouGov para o jornal The Times, surge Andy Burnham, com 26% das preferências, seguido de Yvette Cooper (20%) e Liz Kendall (11%), esta última em representação do New Labour, cujo principal rosto é Tony Blair, o antigo primeiro-ministro britânico, que esteve no nº 10 de Downing Street entre 1997 e 2007. Na corrida a dois, a vantagem de Corbyn sobre Burnham é de seis pontos – 53% contra 47%.

Ora Blair, precisamente, mostrou-se bastante crítico do eventual rumo que o Partido Trabalhista possa seguir, em caso de vitória de Corbyn. O ex-primeiro-ministro, vencedor de três eleições consecutivas, mostrou-se preocupado com aquilo que considera ser “um passo atrás” para o Labour.

“Eu não gostaria de ganhar com uma plataforma de esquerda ‘à moda antiga’”, confessou Blair, citado pela televisão britânica BBC, defendendo que a rota do sucesso dos Trabalhistas deve assentar numa posição centrista e mais moderada, de forma a abranger o maior número possível de eleitores. “Andem para a frente [Partido Trabalhista] e não para trás, por favor!”, pediu.

Para Blair, o Labour tem de se “adaptar ao mundo moderno”, sob pena de ser “deixado para trás”. “Articular esta ideia de modernização do Partido Trabalhista não é uma traição aos nossos princípios, mas o único caminho para os pôr em prática no mundo real”, aconselhou o antigo primeiro-ministro.

Assim, a escolha a fazer, segundo Tony Blair, tendo em conta os candidatos à liderança do partido, é entre o “coração e a cabeça”. E para os 43% que “entregaram o seu coração” a Corbyn, o representante dos militantes mais à esquerda do Labour, Blair aconselha-os a “fazerem um transplante”.

Texto editado por Clara Barata

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