Costa aprova listas e “compromisso ético” apesar das pressões

Os seguristas têm cerca de 30 lugares elegíveis. Costa repescou excluídos. Alberto Costa e José Lello deixam o Parlamento.

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Rui Gaudêncio

Foram inúmeras as pressões feitas sobre o secretário-geral do PS, António Costa, para que não fosse aprovado nenhum “compromisso ético” ou que este fosse bastante suavizado.

As pressões foram feitas quase até ao início da Comissão Política que na terça-feira à noite aprovou as listas eleitorais às legislativas, mas o documento acabou aprovado por unanimidade pelos mais de cem membros presente.

De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, o ponto que mais incomodou e que foi alvo de mais pedidos de eliminação foi o ponto que estabelece que “os candidatos renunciam, desde já, a qualquer exercício da actividade de lobbying”. Um dos argumentos usado foi o facto de não existir ainda uma lei que regula esta actividade e que, por isso, é prematuro o PS auto-regular-se neste domínio.

A unanimidade não se verificou, porém, na aprovação das listas. E num universo de mais de cem presentes, a lista que mais votos contra teve foi a Madeira com nove. A reunião durou cinco horas, em que os nomes foram lidos pelo secretário-geral, António Costa, ficando depois o único papel com a indicação de todos os candidatos na posse do secretário nacional para a organização Jorge Gomes. Durante o dia de quarta-feira foram feitos ainda alguns arranjos no alinhamento dos candidatos na lista de Lisboa.

Quanto a números, as listas apresentam 37% de mulheres, acima da quota de 33,3% que a lei impõe. Logo no fim da reunião, o presidente do PS, Carlos César, salientou a renovação da lista já que, em 230 candidatos, apenas 66 o foram em 2011, nas listas apresentadas pela direcção de José Sócrates. E 164 dos agora escolhidos ou são novos no Parlamento ou já foram deputados há mais de quatro anos.

Entre os ainda deputados que ficam fora das listas saliente-se nomes como o dirigente histórico do PS e ex-ministro da Administração Interna de Guterres e ex-ministro da Justiça de Sócrates, Alberto Costa. A seu pedido saíram José Lello e Paulo Campos. Afastados foram André Figueiredo, antigo chefe de gabinete de Sócrates, e o amigo pessoal do ex-primeiro-ministro, deputado e ex-secretário de Estado Fernando Serrasqueiro.

Já os apoiantes de António José Seguro conseguem 30 ou 31 lugares elegíveis, com Eurico Brilhante Dias a surgir simbolicamente como 2º em Castelo Branco, círculo de origem de Seguro. De fora das listas estão figuras como Miguel Laranjeiro, António Galamba, António Braga, Mota Andrade, José Junqueiro, Miguel Freitas, Luís Pita Ameixa. A anterior presidente do PS Maria de Belém Roseira saiu por vontade própria, tendo pedido para ser a primeira suplente em Lisboa. E Álvaro Beleza optou por ficar em último suplente por Lisboa, dando o seu lugar elegível a João Soares, cuja entrada em Lisboa Costa já tinha garantido.

Coube a Costa impor a entrada nas listas de vários nomes que tinham sido excluídos pelas escolhas das distritais. Entre os casos mais complexos de resolver este Lisboa, Coimbra e o Porto. Em Lisboa, Assim foram repescados João Soares (13º em Lisboa), Jorge Lacão (10º em Lisboa), Elza Pais (5ª em Coimbra), Gabriela Canavilhas (10ª no Porto) e Inês de Medeiros (7ª em Setúbal).

Liderança de Carneiro em causa
No Porto, depois do chumbo da lista pela comissão política distrital afecta a José Luís Carneiro, na segunda-feira, começaram-se a ouvir críticas à sua liderança, com o argumento que as indicações do presidente da distrital estiveram na base de toda a crispação que se gerou.

À boca pequena fala-se que a liderança de Carneiro terminou precisamente na segunda-feira, uma vez que não conseguiu fazer vingar a lista para ser aprovada pela direcção nacional. “A comissão política nacional intervém perante a incapacidade do líder da distrital”, afirmou ao PÚBLICO fonte do PS-Porto, acrescentando que, “no limite”, terá de haver eleições até ao final do ano.

A sensibilidade afecta ao secretário-geral considera que o presidente da federação “está muito diminuído na sua afirmação e na sua autoridade política” e refere que o que aconteceu “é o corolário de dois mandatos que conduziram à derrota eleitoral nas autárquicas em Matosinhos em 2013 e ao fracasso da lista de deputados”. “Estes quase quatro anos destruíram muito do seu capital político e o que aconteceu segunda-feira foi o seu golpe de misericórdia”, sublinha o mesmo dirigente, declarando que “há pessoas que estão agregadas numa frente anti-Carneiro que se alarga a cada dia que passa”.

Na lista final do Porto, Alberto Martins, que apoiou Seguro nas primárias contra Costa, é um dos descontentes com a posição que ocupa na lista (4º lugar) e não será o único, segundo fontes socialistas. Encabeçada por Alexandre Quintanilha, a lista do Porto até ao 15º lugar está assim alinhada: José Luis Carneiro, Isabel Santos, Alberto Martins, Renato Sampaio, Luísa Salgueiro, João Torres, líder da JS, João Paulo Correia, Ana Paula Vitorino e Gabriela Canavilhas, ambas pela quota de Costa, Ricardo Bexiga, Isabel Oneto, Tiago Barbosa Ribeiro, Pedro Bacelar de Vasconcelos (pela quota de Costa) e Constança Urbano de Sousa.

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