Posição de Schäuble sobre a Grécia abre conflito no Governo de coligação da Alemanha

Além da divergência com a chanceler Angela Merkel, o ministro das Finanças alemão está em ruptura com os parceiros de coligação sociais-democratas. Mas a popularidade de Schäuble está a aumentar junto da opinião pública alemã.

Foto
Wolfgang Schäuble fez propostas "irracionais", acusou o vice-chanceler almão Olivia Harri/Reuters

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, já disse que está preparado para deixar o cargo se for obrigado a assinar mais concessões nas negociações com a Grécia. Mas o aumento da tensão e do confronto dentro da coligação alemã poderá forçar a sua demissão para evitar uma crise de governo, especula o site de informação dedicado à União Europeia, Euractiv.com – que aponta para as duras críticas do vice-chanceler, Sigmar Gabriel, e outros dirigentes sociais-democratas (SPD) à actuação de Schäuble como um prenúncio da ruptura e saída do executivo do inflexível ministro.

As diferenças entre Schäuble e a chanceler Angela Merkel, no que diz respeito às soluções para atacar a crise grega, já eram públicas. Mas segundo o Euractiv.com, as recomendações do ministro alemão, nomeadamente para uma saída temporária da Grécia do euro, enfureceram o SPD: o líder do partido e vice-chanceler Sigmar Gabriel acusou Schäuble de dificultar a posição germânica com “propostas desarrazoadas e irracionais”.

Em declarações à televisão pública ZDF, Sigmar Gabriel classificou a ideia de um Grexit de cinco anos como um “despropósito”. “O senhor Schäuble parece que está a querer provocar o Partido Social Democrata”, disse, tornando clara a divisão no seio da coligação. A posição do ministro das Finanças ao longo da crise grega começa a ter um pesado custo político para a chanceler Angela Merkel, que segundo diz a imprensa germânica, saiu enfraquecida do braço-de-ferro com Schäuble.

Numa entrevista à revista Der Spiegel, este fim-de-semana, Wolfgang Schäuble desvalorizou os efeitos do seu “desacordo” com Merkel relativamente à questão grega, lembrando que “opiniões divergentes fazem parte da democracia” e garantindo que a chanceler sabe que pode confiar nele. Mas Schäuble também disse que não aceitaria ser “coagido” para tomar decisões: “E se alguém tentar, irei ter com o Presidente para pedir que seja dispensado das minhas responsabilidades e exonerado do cargo”, prometeu o governante.

As palavras de Wolfgang Schäuble ainda irritaram mais os sociais-democratas, que interpretaram a sua ameaça de demissão como mais uma prova de que “o centro-direita [CDU, o partido de Merkel e Schäuble] perdeu o Norte no que diz respeito à política europeia”. “O alarde que Schäuble fez da sua suposta intenção de se demitir é tão eficaz como os alegados benefícios do Grexit”, comparou o vice-presidente do SPD, Ralf Stegner.

Segundo o diário Süddeutsche Zeitung, o eventual abandono de Wolfgang Schäuble do executivo provocaria uma “rebelião” no partido que representaria o fim do Governo de Merkel. Para o jornal, a proeminência política do responsável das Finanças fez dele um “segundo chanceler” e determinou “o fim da omnipotência de Merkel”. “Com a sua linha dura contra a Grécia durante as negociações, ele conquistou os seus correligionários políticos. Se o grupo parlamentar conservador pudesse votar livremente em quem mais confia para conduzir o dossier grego, Schäuble seria o escolhido numa vitória clara sobre Merkel”, estima o jornal.

E não é só entre os cristãos-democratas que a popularidade de Wolfgang Schäuble está em alta. Numa sondagem YouGov, 49% dos alemães manifestavam o seu apoio às posições do ministro das Finanças nas negociações sobre a Grécia, enquanto 46% se mostravam satisfeitos com a gestão da crise de Angela Merkel.

Sugerir correcção
Ler 59 comentários