Premiado projecto sobre a esclerose lateral amiotrófica

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa atribui 50.000 euros a programa de investigação sobre esta doença neurodegenerativa, podendo o apoio ser prolongado até quatro anos.

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A investigadora Dora Brites DR

Uma equipa coordenada pela investigadora Dora Brites, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, vai procurar conhecer melhor as causas da esclerose lateral amiotrófica (ELA), para tentar travar ou prevenir a progressão desta doença, tendo por isso ganho um prémio atribuído pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).

A distinção vai ser entregue esta terça-feira pelo provedor da SCML, Pedro Santana Lopes. Esta é a primeira edição do Programa de Investigação Científica em Esclerose Lateral Amiotrófica, cujo objectivo é promover e dinamizar a investigação científica básica ou clínica desta doença. Serão atribuídos 50 mil euros anuais, podendo o apoio ao projecto vencedor ser prolongado até quatro anos. Nessa verba, está também prevista a atribuição de, pelo menos, uma bolsa de investigação.

Em declarações à agência Lusa, Dora Brites explicou que a ELA é uma doença neurodegenerativa, incluída na mesma gama de doenças do que a Alzheimer, da qual pouco se sabe sobre as causas e para qual existem poucas terapias eficazes. O que se sabe é que ocorre a morte gradual dos neurónios motores, envolvidos nos movimentos voluntários dos músculos.

“Enquanto na Alzheimer as pessoas têm uma sobrevida prolongada, na ELA a vida depois da detenção e do diagnóstico da doença é muito curta, entre três a cinco anos”, apontou a investigadora, sublinhando que a terapêutica aceite para a ELA apenas prolonga em três meses a vida do doente. Uma situação “drástica”, já que não há uma terapêutica eficaz, não se conhece a causa da doença e não se consegue, por isso, “ter grandes ofertas” para os doentes.

“O que pretendemos é conhecer um bocadinho melhor as causas da doença, onde é que ela tem origem no sistema nervoso central”, adiantou Dora Brites. Para isso, explicou a investigadora, a equipa de vários cientistas, portugueses e estrangeiros, vai trabalhar com várias zonas do sistema nervoso central, uma vez que acreditam que há outras células envolvidas para além dos neurónios.

“Essas células, que são muito tóxicas para os neurónios nesta doença, são os astrócitos. Eles são o alvo da nossa investigação, quer no sentido de perceber por que é que ficam inoperantes ou, mais do que isso, por que é que ficam tóxicos para os neurónios.”

O trabalho passa por conseguir compreender melhor que tipo de substâncias libertam os astrócitos, já que estas células “libertam pequeninas vesículas com algum conteúdo, que não se sabe ainda bem o que é, mas se pensa que está na origem da propagação da doença e da afecção das células que estão à volta”, acrescentou Dora Brites. “Vamos usar células dos próprios doentes, que são colhidas da pele, serão modificadas até se chegar às células neurais e vamos fazer culturas com essas células para ver se conseguimos travar ou prevenir a progressão da doença.”

A investigadora espera que os resultados possam ajudar a que a progressão da doença não se faça de forma tão rápida. “Até penso que, em algumas formas, poderá ajudar outras doenças, como a Alzheimer.”
 

   

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