Realizador ucraniano julgado na Rússia por fazer parte de “grupo terrorista”

Oleg Sentsov foi detido em Maio de 2014. Vivia na Crimeia e foi um dos grandes críticos da anexação da península.

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O realizador ucraniano Oleg Sentsov vivia na Crimeia, anexada pela Rússia no ano passado Sergey Pivovarov/Reuters

Começou esta terça-feira, na Rússia, o julgamento do ucraniano Oleg Sentsov, um ano e dois meses depois de ter sido detido. O realizador é acusado, entre outros crimes, de “coordenação” de um grupo afecto a paramilitares ultranacionalistas ucranianos da Crimeia, rotulado como “terrorista” na Rússia. Os advogados de defesa e o próprio Sentsov não acreditam num desfecho favorável e, caso o realizador seja declarado culpado, a pena pode chegar aos 20 anos de prisão.

“Não considero sequer que este tribunal seja um tribunal”, terá dito Oleg Sentsov, na audiência de julgamento, esta terça-feira, segundo a rádio Free Europe, descredibilizando o tribunal militar de Rostov-do-Don, onde teve decorre o processo. “Assim sendo, podem considerar aquilo que quiserem”, acrescentou.

A verdade é que a defesa do realizador ucraniano, de 39 anos, “tem pouca esperança num processo justo”, refere a agência AFP. Um dos seus advogados prevê que o “veredicto seja desfavorável” e só acredita num desfecho positivo para o seu cliente se a justiça russa “propuser uma troca de prisioneiros” com a Ucrânia.

Sentsov foi detido em Maio de 2014, na sua residência na Crimeia, juntamente com outros três suspeitos de cumplicidade, incluindo o activista ucraniano Alexander Kolchenko. Sentsov e Kolchenko são acusados de fazer parte de um “grupo terrorista”, nomeadamente através da “coordenação e organização” de um grupo de activistas, na península da Crimeia, filiados com o movimento paramilitar ultranacionalista ucraniano Pravy Sektor (Sector Direito). Ambos rejeitaram as acusações.

Essa coordenação incluía, segundo a acusação, o “planeamento de ataques terroristas”, assim como a posse e o tráfico de “armas e explosivos”. Os outros dois detidos, Oleksiy Chyrniy e Hennadiy Afanasyev, foram declarados culpados por “participação” nas actividades do referido grupo e irão cumprir sete anos de cadeia.

O Governo ucraniano considera que Sentsov e os restantes detidos são “presos políticos” e a AFP diz que o Presidente Petro Porochenko ligou, na semana passada, ao Presidente francês, François Hollande e à chanceler alemã, Angela Merkel, pedindo que intercedam junto de Vladimir Putin, no sentido da libertação do realizador ucraniano.

Várias personalidades ligadas ao cinema já mostraram solidariedade para com Oleg Sentsov. Na Rússia, os cineastas Andrei Prochkine e Nikita Mikhalkov apelaram, publicamente, à liberdade do realizador ucraniano. Outros realizadores, como Pedro Almodovar, Mike Leigh e Stephen Daldry também se colocam do lado de Sentsov, contra as acusações da justiça russa.

Oleg Sentsov foi uma das principais personalidades públicas ucranianas a levantar a voz contra a anexação da península da Crimeia, pela Federação Russa, em Março de 2014.

Texto editado por Ana Gomes Ferreira

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