Ordem e sindicatos alertam para "risco de colapso" no hospital de Vila Real

A Ordem dos Médicos do Norte e os sindicatos do sector alertaram, esta segunda-feira, para o "risco de colapso" no centro hospitalar sediado em Vila Real, devido à saída de médicos anestesistas e ao cancelamento de cirurgias.

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Público/Arquivo

Miguel Guimarães, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, disse que o serviço de anestesia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), que abrange os hospitais de Vila Real, Chaves e Lamego, está numa situação "claramente preocupante" após a saída, desde Janeiro de 2014, de nove médicos desta especialidade.

O responsável, que falava aos jornalistas após uma visita ao CHTMAD, acrescentou que esta unidade hospitalar possui "apenas 18" especialistas desta área, "quando deveria ter 41". Por causa disso, desde Abril, "quase metade das cirurgias foram adiadas".

"Isto quer dizer que, neste momento, tem que se seleccionar que cirurgias é que fazem semanalmente. Muitos doentes vêem consecutivamente a sua cirurgia adiada. Isto cria desigualdades no sistema", afirmou.

E a falta de médicos anestesistas está a provocar, por arrasto, problemas em outras especialidades como na cirurgia geral, na urologia, na otorrinolaringologia, oftalmologia ou ortopedia. Miguel Guimarães frisou ainda que, com a "actividade cirúrgica a reduzir de forma brutal", o CHTMAD está também a perder financiamento.

O Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos juntou-se hoje ao Sindicato dos Médicos do Norte e ao Sindicato Independente dos Médicos para uma tomada de posição conjunta sobre a "situação preocupante" que se vive no CHTMAD.

Manuela Dias, do Sindicato Independente dos Médicos, afirmou que a situação neste centro hospitalar ainda "se vai agravar", principalmente no período de férias. "Tem estado sistematicamente em ruptura, ruptura, ruptura e só ainda não rompeu devido ao esforço dos médicos", sublinhou.

Esta responsável referiu que "quase 75 dos doentes estão a entrar na lista de espera, que ultrapassa todos os prazos possíveis", e acrescentou que "terão que ser operados fora do hospital".

"A curto prazo têm que sair daqui doentes que não têm que ser transferidos e isto tem que obedecer a um plano, não pode ser só incompetência. E esse plano é desarticular do Serviço Nacional de Saúde, transferindo doentes para os privados ávidos de ganho fácil e piorando, com isso, o nosso nível de saúde", acrescentou Merlinde Madureira, do Sindicato dos Médicos do Norte. Estas três organizações criticaram unanimemente a política de contratações e de incentivos implementada pelo Ministério da Saúde.

"Como é que se chega a esta situação de ruptura? Desde a desregulamentação dos concursos começou a valer tudo. Hospitais com mais influência conseguem abrir vagas, enquanto outros, que têm que fazer os procedimentos normais e correctos não conseguem abrir vagas para os elementos que formam", salientou Manuela Dias. A sindicalista deu o exemplo de dois internos que acabaram a especialidade de cirurgia em Vila Real e não conseguiram vaga neste hospital.

Manuela Dias fez questão de salientar que o CHTMAD é "um hospital que tem áreas de referência muito importantes", no entanto, frisou que são essas mesmas áreas que estão "agora a ficar descapitalizadas nos seus recursos". A Ordem dos Médicos e sindicatos exigem ao Ministério da Saúde uma "resolução urgente" para o problema desta unidade hospitalar.

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