A vitória esmagadora (68%) alcançada por António Costa nas eleições primárias de Setembro contra António José Seguro (32%) não está reflectida nas escolhas das listas de candidatos a deputados às eleições legislativas aprovadas por algumas das distritais socialistas. Com excepção dos cabeças de listas (todos escolhidos pelo secretário-geral), as listas aprovadas pelas distritais de Coimbra, Santarém e Viana do Castelo, por exemplo, privilegiam nos lugares elegíveis apoiantes de António José Seguro.

Em Santarém, o primeiro elemento da lista afecto a António Costa, surge na quinta posição. Chama-se João Sequeira e já foi deputado e ex-vereador da Câmara de Rio Maior. O deputado e ex-ministro Vieira da Silva encabeça a candidatura, que apresenta em segundo lugar António Gameiro, líder da distrital. A ex-governadora civil Sónia Sanfona surge na terceira posição e o jovem Hugo Costa, actualmente adjunto do presidente da Câmara de Tomar, é o quarto. À excepção de Vieira da Silva, são todos "seguristas". Em Santarém, nas primárias, Costa arrasou alcançando 68% dos sufrágios nas primárias contra 32% de Seguro.

A lista do PS às legislativas no distrito foi aprovada quinta-feira pela distrital, mas a reunião foi difícil, como se percebe pela votação: 44 votos a favor da lista apresentada pelo secretariado distrital e 37 contra. Igualmente renhida foi a votação em Viana do Castelo, onde o secretário-geral arrecadou 63% dos votos nas eleições para a secretário-geral. A lista apresenta em segundo, terceiro e quartos lugares socialistas conotados com o anterior líder. Em Coimbra, cuja distrital é liderada pelo deputado Pedro Coimbra, apoiante de Seguro, a situação é idêntica.

Fonte socialista disse ao PÚBLICO que a “lista de Viana do Castelo não está de acordo com os critérios estabelecidos e que a direcção nacional do partido está a avaliar a situação”. Uma outra fonte revelou que a direcção não tem de cumprir as propostas de listas aprovadas pelas distritais. “Quem aprova as listas é a Comissão Política Nacional (CPN, que se reúne terçã-feira à noite) e se se entender que as escolhas não respeitam aquilo que ficou acordado com o secretário-geral para ordenação dos nomes, pode acontecer, num caso ou noutro, que venham a ser substituídas e apresentadas outras que cumpram os critérios aprovados pelo partido”, referiu fonte da direcção, reconhecendo que a renovação proposta por Costa “está a causar muitas tensões entre os socialistas”.

António Gameiro afasta por completo esta leitura e diz que as listas foram aprovadas nos órgãos próprios, pelo que têm toda a legitimidade e são essas que têm de ser aprovada pela CPN. “Há distritos em que se pode fazer tudo e há outros em que não se pode”, afirma. O dirigente socialista garante que a lista de Santarém "cumpre os critérios aprovados pela Comissão Política Nacional” e considera “justa a representatividade que António Costa e António José Seguro têm nas listas de deputados”. Porquê? Porque, observa, o resultado das primárias não resulta de uma votação dos socialistas, mas de uma votação mais ampla, em que participou muita gente sem filiação partidária.

Para além de Coimbra e Viana do Castelo, também a distrital de Braga aprovou a lista na sexta-feira, recta final do prazo fixado pela direcção nacional, que terminou este sábado. Na lista de Braga, os primeiros lugares elegíveis são ocupados por apoiantes de Costa. “Conseguiu-se o melhor dos consensos. É uma lista que respeita a dimensão eleitoral dos concelhos, a representatividade e notoriedade dos candidatos e respeita a quota da igualdade de género- critérios exigidos pela direcção nacional”, afirma Joaquim Barreto, líder da federação distrital do PS, que ocupa a segunda posição na lista, atrás de Manuel Caldeira Cabral. A deputada e ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, que em 2011 foi eleita deputada por este distrito, pela quota do secretário-geral, abdicou de integrar a lista.

Em contra relógio, as distritais de Lisboa e do Porto reúnem-se segunda-feira à noite para aprovar as listas que são encabeçadas por António Costa e Alexandre Quintanilha, respectivamente.