Protestos, e confrontos de rua, no início da reunião do Parlamento grego

Ameaça de revolta no partido governamental não deve impedir aprovação de entendimento assinado na madrugada de segunda-feira em Bruxelas.

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Imagens que há muito não se viam em Atenas Yannis Behrakis/AFP
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Tsipras numa reunião com deputados do Syriza, esta quarta-feira LOUISA GOULIAMAKI/AFP

Protestos, e depois confrontos provocados por um pequeno grupo, ocorreram ao início da noite na principal praça de Atenas, na altura em que os deputados gregos começavam a discutir o acordo com os credores que deverá ser votado nas próximas horas. Aparentemente ultrapassados os incidentes, a concentração de manifestantes prosseguiu.

A concentração pacífica de um número de pessoas calculado pela AFP em 12 mil degenerou, a certa altura, em violência. Foi quando algumas dezenas de jovens mascarados e com capacetes lançaram cocktails-molotov. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e centenas de pessoas fugiram. Era uma imagem que não se via há largos meses na Praça Syntagma, junto ao Parlamento.

Quatro polícias e dois fotógrafos ficaram ligeiramente feridos. A polícia informou ter detido 40 pessoas. 

O jornal britânico The Guardian noticiou que também em Tessalónica, segunda cidade da Grécia, ocorreu um desfile anti-austeridade, sem incidentes.

Horas antes do início do debate parlamentar que precede a votação, ficou a saber-se que o comité central do principal partido do Governo, o Syriza aprovou, com o voto favorável de 109 dos 201 membros, uma declaração em que considera o acordo, assinado na manhã de segunda-feira, um golpe dos líderes europeus contra a Grécia. O entendimento de Bruxelas, afirmam, é “o resultado de ameaças de estrangulamento financeiro imediato” e o previsto terceiro resgate assenta em “termos humilhantes”.

“A 12 de Julho, houve um golpe em Bruxelas que provou que o objectivo da liderança europeia foi a aniquilação de um povo que achava que poderia ter seguido outro caminho, que não o modelo neoliberal de austeridade extrema” diz o comunicado. “É um golpe que vai contra qualquer tipo de noção de democracia e da soberania popular”, diz o documento, citado pela agência AP.

Mas é no Parlamento que a decisão da Grécia sobre o acordo será tomada. Pelo menos quatro deputados do Syriza, entre eles o influente ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, dirigente da ala mais à esquerda do partido, já anunciaram o voto contra.

Um das baixas confirmadas no campo governamental é a da também deputada e vice-ministra das Finanças, Nadia Valavani, que apresentou mesmo a demissão do cargo a Alexis Tsipras. “Não vou votar a favor deste projecto de lei e acho que não devo ficar no Governo votando contra”, disse à imprensa.

O jornal Kathimerini admitia na terça-feira que o número de deputados do Syriza que tencionam votar contra pode “chegar a 40 ou ultrapassar” esse número.

A maioria governamental é composta por 162 deputados – 149 do Syriza e 13 dos Gregos Independentes – que também têm reservas a algumas medidas do acordo.

As divisões no campo governamental não deverão impedir a aprovação de um acordo que tem o apoio dos conservadores da Nova Democracia, dos do centrista To Potami e dos socialistas do Pasok, que, somados, ultrapassam a centena de deputados. Contra o entendimento com as instituições europeias e o FMI estão os neonazis da Aurora Dourada, 17 deputados, e os comunistas, 15.

Em mais um dia determinante para o futuro da Grécia e do euro, o sector público esteve a meio gás, devido à greve convocada pela central sindical Adedy, que se opõe às novas medidas de austeridade previstas no acordo.

As deslocações em Atenas foram perturbadas ao início da manhã por uma paragem no Metro que provocou engarrafamentos nas ruas da cidade. Para o fim da tarde está prevista nova interrupção na circulação. Na rede ferroviária a paralisação abrange as 24 horas do dia, com efeitos na ligação entre o centro e o aeroporto. Os hospitais estão a funcionar em regime de serviços mínimos

Ao fim da manhã, centenas de pessoas concentraram-se no centro de Atenas, respondendo ao apelo sindical para a primeira paralisação desde que o actual Governo tomou posse, em Janeiro. Foi numa segunda concentração, convocada para o fim do dia, junto ao Parlamento, com o apoio de pequenos partidos de esquerda que se opõem ao acordo, que ocorreram os confrontos.

França já aprovou
Os deputados franceses aprovaram entretanto, por larga maioria, o acordo: 412 votos contra 69. Uma grande parte da oposição de direita votou ao lado da maioria socialista. No Senado a aprovação foi por 260 votos contra 23.

A votação em França foi a primeira das que, para além da Grécia, vão ocorrer em sete outros países. Já se sabia que o acordo teria de ser ratificado também na Alemanha, Finlândia, Áustria, Estónia, Letónia e Eslováquia – nuns casos em plenário, noutros em comissões parlamentares. Esta quarta-feira, em Espanha, o chefe do Governo, Mariano Rajoy, anunciou que também o vai submeter ao Parlamento.

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