Tsipras assinou acordo em que não acredita para "evitar o desastre do país"

Chefe do Governo admitiu encerramento dos bancos por mais um mês, mas espera aumento da liquidez para que seja possível levantar mais do que 60 euros por dia. Diz que tenciona cumprir mandato, afastando cenário de eleições antecipadas.

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Tsipras colocou de parte a hipótese de se demitir AFP/ANDREA BONETTI

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse que não acredita no acordo a que a chegou com os credores, mas que o aceitou “para evitar o desastre do país”.

“Assumo as minhas responsabilidades por qualquer erro que possa ter cometido, assumo a responsabilidade por um texto em que não acredito mas assinei-o para evitar o desastre no país”, disse, numa entrevista à televisão pública ERT, segundo a tradução da AFP.

"Uma falência desordenada levaria não só ao colapso do sistema bancário e ao desaparecimento de todas as poupanças, mas obrigaria à emissão de moeda que seria drasticamente desvalorizada por não haver reservas que a suportassem", disse, segundo a Reuters. "Um pensionista que recebe 800 euros passaria a ter 800 dracmas que lhe dariam apenas para três dias e não para um mês."

O chefe do Governo declarou que o acordo que trouxe de Bruxelas foi o melhor possível, em circunstâncias de "pressão sobre um povo". Afirmou também que apesar da “má noite para a Europa” que foi a madrugada de segunda-feira, e de o entendimento ter sido “imposto” a Atenas, foi evitada a saída do país do euro e o compromisso assumido deve ser cumprido.

Foi “uma má noite para a Europa”, marcada por “uma pressão sobre um povo que se exprimiu em referendo”, disse. “A posição dos europeus foi dura e vingativa.”

Afirmou também que apesar de alguns países terem resistido ao fornecimento de "dinheiro fresco" à Grécia - particulamente a Finlândia e a Holanda - acabaram por o aceitar. "Não só foram forçados a dar dinheiro freco, mas a dar 82 mil milhões, e a aceitar a reestruturação da dívida."

Tsipras disse que se bateu para evitar reduções de salários e pensões e que os ajustamentos orçamentais previstos no acordo são mais brandos do que aqueles que foram aceites por outros governos no passado.

“A dura realidade é que este caminho de sentido único para a Grécia nos foi imposto”, disse, a dado passo.

O primeiro-ministro deixou claro que tenciona cumprir a legislatura iniciada em Janeiro, afastando o cenário de eleições antecipadas. “Não fujo a essas responsabilidades e vou tentar aplicar o meu programa político ao longo de um período de quatro anos.”

"A pior coisa que um comandante pode fazer quando está a dirigir um navio numa tempestade, por mais difícil que isso seja, é abandonar o leme", afirmou.

Tsipras deixou em aberto a possibilidade de os bancos continuarem encerrados pelo menos mais um mês. “A abertura dos bancos depende da aprovação do acordo, que terá lugar dentro de um mês”, disse. “Quando há um choque há sempre a possibilidade de os aforradores irem retirar todo o seu dinheiro”, argumentou.

Mas espera que o Banco Central Europeu aumente o montante da linha de liquidez de emergência concedida à banca grega, permitindo um alívio gradual do controlo de capitais e tornando “possível levantar mais” dinheiro do que os actuais 60 euros diários. "Não será de um dia para o outro, haverá um regresso gradual à normalidade, começando com o aumento dos levantamentos."

A entrevista, de uma hora, foi dada em vésperas da votação pelo Parlamento, esta quarta-feira, de um conjunto de medidas reclamadas pelos parceiros europeus, que coincide com a primeira greve geral desde que chegou ao poder. Tsipras enfrenta também uma ameaça de revolta no seu partido, devido ao descontentamento de deputados pelo acordo que trouxe de Bruxelas.

“Tenho a certeza de que alguns se alegrariam, se este Governo fosse um parêntesis [político]", declarou, afirmando querer “fazer tudo o que puder para garantir a unidade do partido”.

Alexis Tsipras afirmou ainda que a sua prioridade foi conseguir um acordo que garantisse a estabilidade da economia e do sistema bancário, antes de se preocupar com questões partidárias. Questionado sobre uma eventual expulsão de deputados que votem contra o acordo, disse que as expulsões não fazem parte da sua cultura de partido.

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